domingo, 30 de novembro de 2008

ATO PÚBLICO PELO DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE (clique na imagem para vê-la ampliada)






Dia 01/12/2008 às 14hs na Assembléia Legislativa de SP
Ato Público: Direito à Memória e à Verdade.
PELA ABERTURA DOS ARQUIVOS MILITARES.
PELA LOCALIZAÇÃO DOS CORPOS DOS DESAPARECIDOS POLÍTICOS.
PELA RESPONSABILIZAÇÃO DOS CRIMES DE LESA HUMANIDADE.
A tortura e desaparecimento de militantes políticos praticados por agentes do estado são crimes de lesa humanidade e portanto imprescritíveis e não passiveis de anistia. Julgar estes crimes praticados durante a ditadura militar 1964-1985 é um passo importante para que a justiça de transição seja feita em nosso país, no sentido de afirmar: Terrorismo de Estado Nunca Mais!
PARTICIPAÇÃO
Associação Juízes Para a Democracia - AJD
Associação dos Anistiados Políticos, Aposentados, Pensionistas e Idosos do Estado de SP - ANAPI
Central Única dos Trabalhadores- CUT
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos
Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo
Coordenação Brasileira de Anistia - CBA
Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo
Grupo Tortura Nunca Mais - SP
Ministério Público Federal - MPF
Ordem dos Advogados do Brasil - OABUnião Nacional do Estudantes - UNE
CONVIDADOS
Secretaria Especial de Direitos Humanos - Ministro Paulo Vannuchi
Comissão de Anistia do Ministério da Justiça - Dr. Paulo Abrão
REALIZAÇÃO
Deputado Estadual Simão Pedro Chiovetti - PT/SP
Deputado Federal Paulo Teixeira - PT/SP
APOIO
Deputados Adriano Diogo (PT/SP) e Rui Falcão (PT/SP)


MODOLINKAR COM BLOG DO MÁRIO :
http://ousarlutar.blogspot.com/

INAUGURAÇÃO DA ESCOLA POLITEIA!!

APRESENTAÇÃO DA ESCOLA POLITEIA

No último dia 15, a sede da Escola Politeia foi inaugurada com uma apresentação para pais, educadores e estudantes. Compareceram cerca de 50 pessoas interessadas em saber mais sobre esta proposta que une a gestão democrática com a inovação curricular e a integração da escola com a cidade. Informe-se sobre o processo de matrícula na Escola Politeia
pelo e-mail secretaria@politeia.org.br

POLITEIA NO ALTO RIO NEGRO - MARCELO GOMES JUSTO REPRESENTOU A ASSOCIAÇÃO POLITEIA!!


POLITEIA NO ALTO RIO NEGRO

Em outubro, a convite da Secretaria Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira, Marcelo Gomes Justo representou a Associação Politeia em curso orientado pelo Instituto Socioambiental (ISA) para a formação dos Assessores Pedagógicos Indígenas e em encontro entre a SME e representantes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN). Depois, ao lado do professor Elie Ghanem, da Faculdade de Educação da USP, participou de encontro com o vice-prefeito e o presidente da FOIRN. Conheça mais sobre o projeto de educação indígena do Alto Rio Negro no site www.politeia.org.br, na área de Incubadora de Escolas Democráticas.

COLÓQUIO - "DOMINAÇÃO OU LIBERDADE? TERMINA HOJE DIA 30/11/08

DOMINAÇÃO OU LIBERDADE?

Neste curso que acontecerá entre os dias 28 e 30 de novembro de 2008 na Faculdade de Saúde Pública da USP, serão debatidas as novas práticas da economia solidária, da justiça restaurativa, da educação democrática e da psicopatologia em saúde pública. Entre os palestrantes, estão os professores Marilena Chauí, Paul Singer, David Calderoni e o juiz Egberto Penido,Helena Singer, entre outros. Confira a programação completa e saiba mais sobre a parceria entre a Associação Politeia e o Núcleo de Psicopatologia, Políticas Públicas de Saúde Mental e Ações Comunicativas em Saúde Pública (NUPSI) no site www.politeia.org.br na área de Pesquisa e Desenvolvimento.

MESA REDONDA :EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA:DESAFIOS,PERSPECTIVAS E EXPERIÊNCIAS EM DESENVOLVIMENTO - DIA 4 DE DEZEMBRO NA ESTAÇÃO CIÊNCIA

MESA REDONDA:
Educação Democrática: Desafios, Perspectivas e Experiências em Desenvolvimento

Debatedores:
 Ana Elisa Siqueira (EMEF Desembargador Amorim Lima)
 Lilian Kelian (Cidade Escola Aprendiz)
 Geórgia Corrêa (Teia Multicultural)
 Helena Singer (Associação Politeia)

Dia 04 de dezembro de 2008, das 19 às 21h30 no Teatro da Estação Ciência/USP(Rua Guaicurus, 1394 – Lapa). Informações e Inscrições (gratuitas) - Secretaria Politeia (secretaria@politeia.org.br ou 11-3803.9805).
www.politeia.org.br

DOAÇÕES PARA OS DESABRIGADOS DO SUL - CENTRO DA CULTURA JUDAICA E DEFESA CIVIL (clique na imagem para vê-la ampliada)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Psicotopologia da Vida Cotidiana - PARTE DO CAPÍTULO TRES DO LIVRO TAZ - ZONA AUTONOMA TEMPORÁRIA DE HAKIM BEY



O CONCEITO DA TAZ surge inicialmente de uma crítica à revolução, e de uma análise do levante. A revolução classifica o levante como um "fracasso". Mas, para nós, um levante representa uma possibilidade muito mais interessante, do ponto de vista de uma psicologia de libertação, do que as "bem-sucedidas" revoluções burguesas, comunistas, fascistas etc.

Um outro elemento gerador do conceito da TAZ surge de um processo histórico que eu chamo de "fechamento do mapa". O último pedaço da Terra não reivindicado por uma nação-Estado foi devorado em 1899. O nosso século é o primeiro sem terra incógnita, sem fronteiras. Nacionalidade é o princípio mais importante do conceito de "governo" - nenhuma ponta de rocha no Mar do Sul pode ficar em aberto, nem um vale remoto, sequer a lua ou os planetas. Essa é a apoteose do "gangsterismo territorial". Nenhum centímetro quadrado da Terra está livre da polícia ou dos impostos... em teoria.

O "mapa" é uma malha política abstrata, uma proibição gigantesca imposta pela cenoura/cacetete condicionante do Estado "Especializado", até que para a maioria de nós o mapa se torne o território - não mais a "Ilha da Tartaruga (4)", mas os "Estados Unidos". E ainda assim o mapa continua sendo uma abstração, porque não pode cobrir a Terra com a precisão 1:1. Dentro das complexidades fractais da geografia atual, o mapa pode detectar apenas malhas dimensionais. Imensidões embutidas e escondidas escapam da fita métrica. O mapa não é exato, o mapa não pode ser exato.

A Revolução fechou-se, mas a possibilidade do levante está aberta. Por ora, concentramos nossas forças em "irrupções" temporárias, evitando enredamentos com "soluções permanentes".

O mapa está fechado, mas a zona autônoma está aberta. Metaforicamente, ela se desdobra por dentro das dimensões fractais invisíveis à cartografia do Controle. E aqui podemos apresentar o conceito de psicotopologia (e psicotopografia) como uma "ciência" alternativa àquela da pesquisa e criação de mapas e "imperialismo psíquico" do Estado. Apenas a psicotopografia é capaz de desenhar mapas da realidade em escala 1:1, porque apenas a mente humana tem a complexidade suficiente para modelar o real. Mas um mapa 1:1 não pode "controlar" seu território, porque é completamente idêntico a esse território. Ele pode ser usado apenas para sugerir ou, de certo modo, indicar através de gestos algumas características. Estamos à procura de "espaços" (geográficos, sociais, culturais, imaginários) com potencial de florescer como zonas autônomas - dos momentos em que estejam relativamente abertos, seja por negligência do Estado ou pelo fato de terem passado despercebidos pelos cartógrafos, ou por qualquer outra razão. A psicotopologia é a arte de submergir em busca de potenciais TAZs.

O fim da Revolução e o fechamento do mapa são, no entanto, apenas as fontes negativas da TAZ: ainda há muito a dizer sobre as suas inspirações positivas. Reação somente não pode gerar a energia necessária para "manifestar" uma TAZ. Um levante também precisa ser a favor de alguma coisa.

1. Em primeiro lugar, podemos falar de uma antropologia natural da TAZ. A família nuclear é a unidade base da sociedade de consenso, mas não da TAZ. ("Famílias! Os avaros do amor! Como eu as odeio!" - Gide.) A família nuclear, com suas consequentes "dores edipianas", parece ter sido uma invenção neolítica, uma resposta à "revolução agrícola" com sua escassez e hierarquia impostas. O modelo paleolítico é mais primário e mais radical: o bando. O típico bando nômade ou semi-nômade de caçadores/coletores é formado por cerca de cinquenta pessoas. Em sociedades tribais mais populosas, a estrutura de bando é mantida por clãs dentro da tribo, ou por confrarias como sociedades secretas ou iniciáticas, sociedades de caça ou de guerra, associações de gênero, as "repúblicas de crianças" e por aí adiante. Se a família nuclear é gerada pela escassez (e resulta em avareza), o bando é gerado pela abundância (e produz prodigalidade). A família é fechada, geneticamente, pela posse masculina sobre as mulheres e crianças, pela totalidade hierárquica da sociedade agrícola/industrial. Por outro lado, o bando é aberto - não para todos, é claro, mas para um grupo que divide afinidades, os iniciados que juram sobre um laço de amor. O bando não pertence a uma hierarquia maior, ele é parte de um padrão horizontalizado de costumes, parentescos, contratos e alianças, afinidades espirituais etc. (A sociedade dos índios norte-americanos preserva até hoje certos aspectos dessa estrutura.)

Muitas forças estão trabalhando - de forma invisível - para dissolver a família nuclear e resgatar o bando em nossa própria sociedade da Simulação pós-Espetacular. Rupturas na estrutura do trabalho refletem a "estabilidade" estilhaçada da unidade-lar e da unidade-família. Hoje em dia, o "bando" de alguém inclui amigos, ex-esposos e amantes, pessoas conhecidas em diferentes empregos e encontros, grupos de afinidade, redes de pessoas com interesses específicos, listas de discussão etc. Cada vez mais fica evidente que a família nuclear se torna uma armadilha, um ralo cultural, uma secreta implosão neurótica de átomos rompidos. E a contra-estratégia óbvia emerge de forma espontânea na quase inconsciente redescoberta da possibilidade - mais arcaica e, no entanto, mais pós-industrial - do bando.(...)
LEIA O LIVRO TODO EM:
http://www.rizoma.net/interna.php?id=193&secao=intervencao

Excertos Bruno Latour - MODOLINKAR COM BLOG IGUANA WEB


Novembro 12, 2008

Arquivado em: multidão, network — Cacau Freire @ 2:35 pm

Tags: multidão, Bruno Latour, redes sociais, mediação, mediadores e intermediários, diferença entre mediadores e intermediários em Bruno, multidão em bruno latour

Trechos retirados de: LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34.

DAS MULTIDÕES

“Como dar às multidões ilegítimas uma representação, uma linhagem, um estado civil? Como explorar esta terra incógnita que, entretanto, nos é tão familiar? Como ir do mundo dos objetos ou dos sujeitos àquilo que chamei de quase-objeto ou quase-sujeitos? Como passar da natureza transcendente/imanente a esta natureza, igualmente real, mas extraída do laboratório e depois transformada em realidade exterior? Como deslizar da sociedade imanente/transcendente rumo aos coletivos humanos e de não-humanos? (…) Como atingir as redes, estes seres de topologia tão curiosa e de ontologia ainda mais estranha, nos quais residem as capacidades de conectar e de separar, ou seja, de produzir o espaço e o tempo? Como pensar o Império do Centro? Já disse, precisamos traçar ao mesmo tempo a dimensão moderna e a dimensão não moderna, desdobrar a latitude e a longitude que irão permitir o traçado de mapas adaptados ao trabalho de mediação e purificação.” [página 76].

“Ocorre, com as grandes massas da natureza e da sociedade, o mesmo que ocorre com os continentes resfriados na tectônica das placas. Se desejamos compreender seu movimento, precisamos descer nessas fendas em chamas onde o magma irrompe e a partir do qual serão produzidas, muito mais tarde e mais longe, por resfriamento e empilhamento progressivo, as duas placas continentais sobre as quais nossos pés estão firmemente fixados. Nós também devemos descer e aproximar-nos desses lugares onde são criados os mistos que irão tornar-se, muito mais tarde, coisas naturais ou sociais.” [página 86]

DO IMPÉRIO DO MEIO

“Se estamos tentando desdobrar o Império do Meio em si, somos obrigados a inverter a forma geral das explicações. O ponto de clivagem e encontro torna-se o ponto de partida. As explicações não partem mais das formas puras em direção aos fenômenos, mas sim do centro em direção aos extremos. Estes últimos não são mais o ponto de apoio da realidade, mas sim resultados provisórios e parciais. As camadas dos intermediários são substituídas por cadeias de mediadores, de acordo com o modelo proposto por Antoine Hennion, que serve como base para este ensaio (Hennion, 1991). (…) O que mostra o quanto o sentido da palavra mediação difere do sentido de intermediário ou de mediador - definido como aquilo que difunde ou desloca um trabalho de produção ou de criação que dele escaparia (Debray, 1991).” [página 77].

“(…) este deslizamento dos extremos rumo ao centro e para baixo, que faz girar tanto o objeto quanto o sujeito em torno da prática dos quase-objetos e dos mediadores. Não precisamos apoiar nossas explicações nestas duas formas puras, o objeto ou o sujeito-sociedade, já que elas são, ao contrário, resultados parciais e purificados da prática central, a única que nos interessa. São produto do craking purificador, e não sua matéria-prima. A natureza gira, de fato, mas não ao redor do sujeito-sociedade. Ela gira em torno do coletivo produtor de coisas e de homens. O sujeito gira, de fato, mas não em torno da natureza. Ele é obtido a partir do coletivo produtor de homens e de coisas. O Império do Centro se encontra, enfim, representado. As naturezas e sociedades são os seus satélites.” [página 78].

“Natureza e sociedade não são mais os termos explicativos, mas sim aquilo que requer uma explicação conjunta Latour (1989).

SOBRE MODERNIDADE

“Os modernos desenvolveram quatro repertórios diferentes, que acreditavam ser incompatíveis, para acomodar a proliferação dos quase-objetos. O primeiro repertório trata da realidade exterior de uma natureza da qual não somos mestres, que existe fora de nós e que não conta nem com nossas paixões nem com nosso desejo, ainda que sejamos capazes de mobilizá-la e de construí-la. O segundo repertório trata do laço social, daquilo que liga os humanos entre si, das paixões e desejos que nos agitam, das forças personificadas que estruturam a sociedade - a qual nos ultrapassa, ainda que seja construída por nós. O terceiro trata da significação e do sentido, dos actantes que compõem as histórias que contamos uns aos outros, das provas que eles enfrentam, das aventuras que atravessam, dos tropos e dos gêneros que os organizam, das grandes narrativas que nos dominam infinitamente, ainda que sejam simultaneamente texto e discurso. O quarto, enfim, fala do ‘Ser’, e desconstrói aquilo de que nos esquecemos quando nos preocupamos apenas com o entre, ainda que a diferença do Ser esteja distribuída pelos entes, co-extensivos à sua própria existência.

Estes recursos só são incompatíveis na versão oficial da Constituição. Na prática, é difícil distinguir os quatro. Misturamos, sem o menor pudor, nossos desejos com as coisas, o sentido com o social, o coletivo com as narrativas. A partir do momento em que seguimos de perto qualquer quase-objeto, este nos parece algumas vezes como coisa, outras como narrativa, outras ainda como laço social, sem nunca reduzir-se a um simples ente.” [página 87].

“Nada prova que estes recursos continuem a ser incompatíveis quando passamos das essências aos acontecimentos, da purificação à mediação, da dimensão moderna à dimensão não moderna, da revolução à contra-revolução copernicana. Vamos dizer apenas que os quase-objetos quase-sujeitos traçam redes. São reais, bem reais, e nós humanos não os criamos. Mas são coletivos, uma vez que nos ligam uns aos outros, que circulam por nossas mãos e nos definem por sua própria circulação. São discursivos, portanto, narrados, históricos, dotados de sentimento e povoados de actantes com formas autônomas. São instáveis e arriscados, existenciais e portadores de ser. Esta ligação dos quatro repertórios nos permite construir uma morada vasta o bastante para que nela abriguemos o Império do Centro, a verdadeira morada comum do mundo não moderno e, ao mesmo tempo, de sua Constituição. [página 88].

DOS INTERMEDIÁRIOS AOS MEDIADORES

“Em seguida, através da multiplicação dos intermediários, deveríamos aproximar aquilo que separamos. Verbos revelar, representar, materializar, compreensão, interpretação, aceitação…

“A sociedade sempre foi composta pelos mesmos recursos, mesmos interesses, mesmas paixões. Na perspectiva moderna, a natureza e a sociedade permitam a explicação porque elas, em si, não precisam ser explicadas. Existem, é claro, os intermediários cujo papel é justamente o de criar uma ligação entre as duas, mas estes só podem criar as ligações porque, justamente, não possuem qualquer dignidade ontológica. Nada fazem além de transportar, veicular, deslocar a potência dos dois únicos seres reais, natureza e sociedade. Claro, podem transportar mal, podem ser infiéis ou obtusos. Mas esta falta de fidelidade não lhes dá nenhuma importância própria, uma vez que é ela quem prova, pelo contrário, seu estatudo de intremediário. Eles não possuem competência original. Na pior das hipóteses, são bestas ou escravos, e na melhor, servidores leais.” [página 79].

“Tornam-se mediadores, ou seja atores dotados da capacidade de traduzir aquilo que eles transportam, de redefini-lo, desdobrá-lo, e também traí-lo. Os servos tornaram-se cidadãos livres.” [página 80].

“A ontologia dos mediadores, portanto, possui uma geometria variável. O que Sartre dizia dos humanos, que sua existência precede sua essência, é válido para todos os actantes, a elasticidade do ar, a sociedade, a matéria e a consciência. (…) A essência do vácuo é a trajetória que liga todas elas. [página 84]

http://iguanaweb.wordpress.com/tag/bruno-latour/

"I have a dream" (Eu tenho um sonho) - Discurso memorável de Marthin Luther King

O filme “Escritores da Liberdade” e a função do pensamento em Hannah Arendt


por Raymundo de Lima

... Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!... Martin Luther King – fragmento do memorável discurso "I Have a Dream", de 28/08/1963.



Todos somos atores de nossa vida, mas nem sempre podemos ter sua autoria. O pensar [e o escrever] favorece a autoria da existência. Dulce Critelli, 2006.



Há muitos filmes americanos sobre escola, mas não como "Escritores da Liberdade". (Freedom Writers, EUA, 2007). Porque é o único filme dessa categoria que incentiva os alunos a lerem literatura, ponto de partida para testar a vocação de cada um para escrever dede um diário sobre o cotidiano trágico de suas vidas até uma poesia hip hop ou um livro de ficção. O valor desse filme também está na ousadia da linguagem cinematográfica mostrando os problemas psico-sócio-culturais que atingem a escola contemporânea; também porque ele dá visibilidade à diversidade dos grupos, com seu rígido código de honra, cada um no seu território, o narcisismo da recusa e da intolerância para com “os outros”, o boicote às aulas, a prontidão para aumentar os índices de violência entre os jovens e transformar a escola no seu avesso, isto é, uma comunidade bem próxima da barbárie, o que de fato vai acontecer em 1992, em Los Angeles, EUA.

O filme é baseado na história real de Erin (interpretada por Hilary Swank[1]), uma professora novata interessada em lecionar Língua Inglesa e Literatura para uma turma de adolescentes resistentes ao ensino convencional; alguns estão ali cumprindo pena judicial, e todos são reféns das gangues avessas ao convívio pacífico com os diferentes.

Como em outros filmes sobre turmas problemáticas, a professora Erin toma sua tarefa como um grande desafio: educar e civilizar aquela turma esquizofrênizada e estigmatizada como “os sem-futuro” pelos demais professores. Percebe que seu trabalho deve ir para além da sala de aula, por exemplo, visitando o museu do holocausto, possibilitando aos jovens saber os efeitos traumáticos da ideologia da “grande gangue” nazista, que provocou a 2ª. Guerra Mundial e o holocausto, e também reconhecer as semelhanças com suas “pequenas gangues” da escola. Nota: a palavra “holocausto”[2], referida no filme, é usada mais pelos judeus. E, “genocídio”[3] é o termo cunhado pelo Direito Internacional do pós Guerra. Ambas significam o ato racional de eliminação de seres humanos em escala inimaginável (conferir nota de rodapé).

O método da jovem professora consistiu em entregar para cada aluno um caderno para que escrevessem, diariamente, sobre aspectos de suas próprias vidas, desde conflitos internos até problemas familiares e sociais. Também, instigou-os a ler livros como "O Diário de Anne Frank" com o propósito de despertar alguma identificação e empatia, ainda que os personagens vivam em épocas diferentes; a partir de eventuais encontros imaginários cada aluno poderia desenvolver uma atitude especial de tolerância para com o “outro”. Na vida real, os diários foram reunidos em um livro publicado nos Estados Unidos, em 1999, e terminaram inspirando o diretor Richard LaGravenese para fazer esse filme.

Formada em Direito, Erin se torna professora, desagradando seu pai e marido. No início, ela demonstra ingenuidade, timidez, curiosidade e determinação; sua vocação para o magistério vai se construindo conforme os desafios que ela encontra entre os alunos e ao lidar com a burocracia e o conservadorismo dos funcionários do sistema pedagógico da escola. Os judeus nova-iorquinos diriam que o diferencial de Erin é ela ter “chutzpah”: ousadia, garra, determinação, toma iniciativa, ir-à-luta. Os diversos obstáculos próprios de qualquer sistema escolar faz com que ela se sinta desafiada a fazer algo-mais.

Seu estilo não é teatral, tal como os professores protagonistas dos filmes “O triunfo”, “Sociedade dos poetas mortos”, “Escola da vida”. Também não é autoritária como “Meu mestre, minha vida”, e nem experimentalista como é o professor Ross, do filme “A onda”. Seu estilo pedagógico está para o ensaísmo apaixonado, romântico, humanista, mas sem perder de vista a racionalidade do propósito educativo. Primeiro, ela tenta “dar aula” segundo manda o modelo tradicional, que não funciona com alunos indiferentes ao propósito da escola eminentemente ensinante. Uma aluna questiona pra que serve aprender tal conteúdo abstrato considerado inútil para melhorar sua vida real; outro dirá que o fato de ela ser professora “branca” não é suficiente para ele respeitá-la. Cabe à professora ter argumentos consistentes que respondam essas questões imprescindíveis na escola contemporânea. No segundo momento, Erin faz o reconhecimento dos grupos de iguais (narcísicos), e, obviamente sente empatia com os excluídos. Terceiro, devolve aos alunos esse reconhecimento com um pensamento crítico, fazendo-os reconhecer, sentir e pensar sobre a realidade criada por eles próprios. Quarto, não os aceita na condição de vítimas reativas, e cobra-lhes responsabilidade por suas escolhas e seus atos de exclusão para com os diferentes. Ou seja, sua ação pedagógica é inovadora porque desperta a motivação dos alunos para expressar seus sentimentos, ler, pensar, escrever, e mudar a partir do reconhecimento como sujeito-de-sua-história.

Na concepção de Hannah Arendt, duas causas podem ter relação profunda com a crise da educação em nossa época: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e professores. Ambas fazem com que as crianças e adolescentes fiquem sujeitos à tirania de uma maioria qualquer (grupo social, tribos, gangs) e de um líder carismático ou populista. Portanto, o ato educativo de Erin é ao mesmo tempo político e ético, porque visa transformar alunos “não-pensantes”, “incivilizados”, “não-humanizados”, em seres humanos que podem exercitar o pensamento crítico sobre a realidade e seus atos; suas propostas de dinâmicas com os grupos leva-os a rememorar situações e rever suas posições na história de cada um, podendo até criar em cada aluno uma nova ética que melhor orienta seus gestos e palavras para evitar magoar o seu próximo. As dinâmicas e debates em sala de aula desmarcaram o recorrente discurso vitimista desses grupos, que tendem ao comodismo da sua desgraça, e ao mesmo tempo projeta no outro a responsabilidade pela sua própria irresponsabilidade ou fracasso como sujeito-cidadão no meio social. É preciso que cada qual se responsabilize e se comprometa “fazer sua parte”, ou como diz a velhinha que abrigou Anne Frank: “fazer a coisa certa” ou ética, como uma pessoa comum, anônima, e representante do que é ser civilizado.

Uma educação que não exercita o ato de pensar, com todos os seus riscos, além da própria ausência de pensamento, tem como efeito o não comprometimento, o não tomar decisões, ou não se responsabilizar por elas. “A tarefa fundamental do pensar é descongelar as definições que vão sendo produzidas, inclusive pelo conhecimento e pela compreensão e que vão sendo cristalizados na história. A tarefa do pensar é abrir o que os conceitos sintetizam, é permitir que aquilo que ficou preso nos limites da sua própria definição seja liberado. É livrar o sentido e o significado dos acontecimentos e das coisas da camisa-de-força dos conceitos” (CRITELLI, 2006, p. 80). (...) LEIA NA ÍNTEGRA EM :
http://www.espacoacademico.com.br/082/82lima.htm

Filme: Escritores da liberdade (Original: Freedom Writers) País: EUA/Alemanha - Gênero: drama. Classificação: 14 anos. Duração: 123 min. Ano: 2007. Direção: Richard LaGravenese . Produção: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher. Elenco: Hilary Swank, Patrick Dempsey, Scott Glenn, Imelda Staunton, April Lee Hernandez, Mario, Kristin Herrera, Jacklyn Ngan, Sergio Montalvo, Jason Finn, Deance Wyatt, Vanetta Smith, Gabriel Chavarria, Hunter Parrish, Antonio Garcia.

Sinopse: Hilary Swank é uma professora novata que tenta inspirar seus alunos problemáticos a aprender algo mais sobre tolerância, valorizar a si mesmos, investir em seus sonhos e dar continuidade a seus estudos além da escola básica. Também ela é ousada ao enfrentar os grupos formadores de gangs em sala de aula, levando-os a pensar sobre a formação e ideologia dos próprios.

domingo, 23 de novembro de 2008

"EDUARDO GALEANO" - PAPAGAIOS E MACACOS...

Frase do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano:

“Hoje está em voga a realidade do papagaio e do macaco. Vamos nos contentar em ser um simples arremedo do norte? Copiando tudo que é feito por lá ou nos tornaremos algo original?”

"MILTON SANTOS" e a "globalitarização"

"(...)Na medida em que os homens “lentos” se tornarem mais conscientes de seu poder de “emperrar” o sistema não se atrelando “ao consumo desmedido” e resistindo aos “modismos globais” eles terão mais força no cenário global. Na mesma medida o professor aponta para a classe média. As novas técnicas de comunicação (o meio técnico científico informacional) são poderosas, mas não são apenas subservientes ao grande capital. Elas também podem ser usadas, se devidamente compreendidas (uma compreensão sistêmica) por todos os que buscam criar novos sistemas mais solidários. A tomada de consciência de seu poder é o primeiro passo para a autonomia da globalitarização e o passo seguinte é:
“O passo seguinte é a obtenção de uma visão sistêmica, isto é, a possibilidade de enxergar as situações e as causas atuantes como conjuntos e localiza-los como um todo, mostrando sua interdependência”(...) (Santos, 2001, p. 169).

LEIA NA ÍNTEGRA EM :
Milton Santos: Resenha do livro Por uma Outra Globalização

http://ubiratangeo.blogspot.com/2008/06/milton-santos-resenha-do-livro-por-uma.html

"MILTON SANTOS" - O EXTRAORDINÁRIO DOCUMENTÁRIO DE SILVIO TENDLER!! (assisti parte dele na TV BRASIL . MILTON SANTOS NOS FAZ MUITA FALTA!)

Sábado, 20 de Setembro de 2008

o mundo global visto do lado de cá
Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá - Silvio Tendler

O documentário inicia-se com uma demonstração de esperança de Sartre diante da injustiça e desigualdade, publicada no prefácio do livro Condenados da Terra, de Franz Fanon. Inegavelmente, do começo ao fim, o filme me fez refletir e tomar notas constantemente sobre as idéias lançadas, que são de uma pertinência nítida e que muito ajudam a esclarecer a realidade em que estamos inseridos.

"O consumo hoje que é o grande fundamentalismo”. São valores introjetados tão esmagadoramente em nossa mente, como o consumismo, que correm o risco de não serem questionados. Milton fala sobre sua condição de intelectual, este ser mesmo que não pode se abster de refletir criticamente, e de como é difícil o ser, no Brasil, pela pouca vontade das pessoas, em geral, em ouvir uma palavra crítica sobre o mundo.

O dado fala por si: 500 mais ricos detêm mais riqueza que os 416 milhões mais pobres. Diante disso, Milton Santos configura a existência de três mundos: o mundo como nos fazem ver - a globalização como fábula; o mundo tal como é - a globalização como perversidade; e o mundo como pode ser - uma outra globalização, o mundo da dignidade humana.

O Consenso de Washington entra como comprovação da perversidade do “globalitarismo” - a globalização estabelecida pelo autoritarismo - ao propor uma bula de como se chegar ao desenvolvimento, (austeridade fiscal, aumento de impostos, juros altos para atrair investimentos estrangeiros, privatizações, defesa da capacidade dos setores privados em oposição à ineficiência dos públicos) que trata unicamente da crise financeira em detrimento da situação social e cultural de um país.

Vários exemplos de manifestação popular na América Latina são citados, deixando evidente o completo fiasco que foi esse programa:

* Quito, Equador, 2000. Numa população de 95% de índios e mestiços, o movimento popular revolta-se e derruba o presidente.

* Cochabamba, Bolívia, 2000. Uma população de 70% de índios e mestiços revolta-se contra a privatização da água feita pelo presidente pressionado pelo FMI e Banco Mundial para defender os interesses da multinacional Bechtel. Ressalta-se Oscar Oliveira - líder sindical boliviano.

* La Paz, Bolívia. 2003. Luta pela nacionalização do gás e petróleo.

* Buenos Aires, Argentina. 2001. Panelaço do povo derrubou três presidentes em duas semanas. A classe média sofre com a desvalorização da moeda.

* Brasil, 1997. Privatização de grandes empresas, como a Vale do Rio Doce. Manifestações populares foram dissolvidas.

Embora haja um mito positivo sobre globalização de culturas, o nascimento de crenças e vontades globais, é um equívoco pensar que o Estado nacional, este que representa os interesses particulares de uma nação, perdeu sua relevância. É inegável que os Estados Unidos permanecem sólidos na defesa de sua visão de mundo e de seus interesses internacionalmente. Preciso que se diga também que este processo de mundialização também é eficiente em criar fronteiras, quando é conveniente; como são os casos da fronteira dos EUA-México e Melita, um território espanhol em continente africano cercado por muralhas.

A globalização aflorou a divisão internacional do trabalho, aproveitando-se de possíveis facilidades de exploração de mão de obra em países pobres, contribuiu para o fortalecimento das desigualdades. Mostram-se cenas do filme Corporação, que é uma boa referencia no entendimento de como as grandes empresas se comportam a fim de obter lucro.

Achei bem-adequada a divisão elaborada por Josué de Castro em Geopolítica da Fome, de 1961, que apropriadamente se liga a temática do documentário: a população mundial classifica-se em dois grupos - os que não comem e os que não dormem, com receio dos que não comem.

Questões de necessidade primeiras são encaradas como forma de trazer lucros a corporações empresariais. No 3° Fórum Mundial da Água, que se realizou em 2003, em Kioto, Japão, havia na pauta a privatização da água, que foi veementemente defendida por Peter Woicke, diretor administrativo do Banco Mundial na época. Indispensável destacar que 1,5 bilhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia e não têm acesso à água. Mais de 3 bilhões utilizam água sem tratamento e, devido a isso, estima-se que 30 mil seres humanos morram diariamente no mundo. Sobre esse tema, ver o filme Thirst de Alan Snitow e Deborah Kaufmann.

Saramargo, prêmio Nobel de literatura, alerta sobre a necessidade de se discutir democracia mundialmente. Expõe que democracia, para nós, é o povo ser chamado a comparecer nas urnas e que espaços onde realmente são decididos questões de interesse geral e de plena relevância são completamente antidemocráticos: Banco Mundial, FMI, OIT - organização internacional do trabalho, e outros organismos internacionais.

É antidemocrático também o espaço de disseminação de informação oficial: “6 empresas controlam 90% do mercado de mídia do mundo”. Sendo assim, é preciso que se expandam maneiras populares de fazer mídia, que garantam um novo olhar sobre os fatos. O filme ilustra bem como isso já vem acontecendo e, felizmente, Milton Santos acredita ter a tendência a avançar cada vez mais:

* Carlos Pronzato - poeta e cineasta argentino, acompanha de perto os movimentos sociais na América Latina. Bakunin Digital.

* Aline Sasahara - cineasta, acompanha a realidade do MST. Inclusive pôde participar da Marcha Nacional do MST de Goiânia/ Brasília em 2005.

* Adirley Queiroz. Diretor do filme O canto da Ceilândia

* Joaquim Yawanawá. Cineasta e líder indígena.

* Tony Venturi e Pablo Georgieff - diretores do filme Dia de Festa.

A antropologia moderna retrata a existência do Homo Davos (local onde geralmente ocorre o Fórum Econômico Mundial) que apregoou o fim da história e propõe fundos para acabar com a pobreza, desconsiderando inúmeros fatores macro-estruturais que estão completamente associados à desigualdade no mundo. Segundo Milton Santos, necessário, ou melhor, essencial é que se mude o foco das discussões de crescimento econômico, desenvolvimento tecnológico (...) para o que significa ser civilizado, o que é, de fato, civilização. Viemos ensaiando modelos de humanidade, mas esta em si realmente nunca existiu. Ser pessimistas ante o que está configurado atualmente é inevitável, entretanto isso não apaga a confiança no futuro próximo, em que as revoluções se darão, de baixo para cima, fatais.

http://andliveourlives.blogspot.com/2008/09/o-mundo-global-visto-do-lado-de-c.html

COTAS RACIAIS: REACIONÁRIOS PERDEM OUTRA PARADA - O QUE OS 113 TOLOS POMPOSOS TÊM A DIZER AGORA?



Celso Lungaretti (*)

Quando os discípulos do reacionário Ali Kamel acreditaram que o brilho de suas assinaturas seria suficiente para barrar as ações afirmativas em benefício dos negros, lancei o artigo As Cotas Raciais e os 113 Tolos Pomposos
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/search/label/cotas%20raciais , no qual os aconselhei a baixarem a bola, adotando uma postura menos beligerante:


"...para os seres humanos justos e solidários, pouco importa se os negros estão em desvantagem por causa da escravidão passada ou por encontrarem-se hoje sob o fogo cruzado do capitalismo e de um racismo dissimulado, mas não menos real. Merecem, sim, que os pratos da balança sejam reequilibrados em seu favor.

"Quanto à eficácia das políticas compensatórias, ela só poderá ser realmente aferida depois de um período razoável de implementação. Por que, afinal, abortarmos essa tentativa no nascedouro?"

Também destaquei o fato de que os 113 tolos pomposos trombeteavam um problema menor e esqueciam o pior de todos, incidindo naquele velho erro de fixarem-se numa única árvore (no caso, as cotas raciais) e ignorarem a floresta inteira (a mercantilização do ensino) por trás dela:

"...em meio às terríveis distorções que o ensino superior vem sofrendo em função de seu atrelamento aos interesses capitalistas – começando por sua ênfase na especialização castradora que forja meros profissionais, desprezando a formação crítica e universalizante que engendra verdadeiros cidadãos –, eles magnificaram um problema menor, em detrimento, exatamente, 'dos desafios imensos' que dizem existir".

Foram observações decorrentes apenas da visão g eral que eu tenho da sociedade e das injustiças que o homem comete contra o homem. Não sou particularmente interessado nesse assunto nem nunca me dediquei a esmiuçá-lo em profundidade. Longe de mim a empáfia de me pretender experto na totalidade dos temas em destaque no noticiário.

Mas, a julgar pelo que Élio Gaspari escreveu na sua coluna de hoje (24/11), parece que andei certo (ou erramos os dois, avaliem e decidam vocês mesmos):

"No dia da Consciência Negra, as bancadas do governo e da oposição na Câmara dos Deputados aprovaram o projeto de lei que estabelece cotas sociais e raciais (...) para o preenchimento de vagas nas universidades públicas federais. O projeto foi mandado ao Senado.

"...Nada melhor do que o encaminhamento dessa questão na rotina das instituições republicanas. Quando a Casa Grande falava sozinha e a Senzala não votava, o Brasil tornou-se o último país livre das Américas a abolir a escrav atura.

"As políticas de ação afirmativa foram condenadas porque acordariam o gênio do racismo. Não acordaram. (...) As cotas criariam constrangimentos, levando alunos negros mal preparados para os cursos universitários. Não criaram.

"...Entre 2001 e 2008, 52 mil vagas foram oferecidas em 48 escolas que adotaram políticas de ações afirmativas em benefício de alunos da rede pública, negros e índios. Passaram-se sete anos e até hoje não apareceu um só episódio ou estudo relevante capaz de desqualificar essas políticas."

O certo é que continuarei me guiando pelos meus princípios, amadurecidos em mais de quatro décadas de luta pela liberdade e justiça social. O que disse naquele artigo de seis meses atrás, continuo afirmando agora, com orgulho:

"Entre os partidários da competição insensível entre seres humanos movidos pela ganância e os cidadãos decentes que procuram minorar as mazelas do capital ismo, eu me alinharei sempre com estes últimos. Mas, sem ilusões: as injustiças só serão realmente erradicadas quando o bem comum prevalecer sobre os interesses individuais, numa nova forma de organização social."


* Celso Lungaretti, 58 anos, é jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém os blogs O Rebate, em que disponibiliza textos destinados a público mais amplo; e Náufrago da Utopia, no qual comenta os últimos acontecimentos.
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

"MILTON SANTOS" - FRASE

" A CLASSE MÉDIA

BRASILEIRA NÃO QUER

DIREITOS,

QUER PRIVILÉGIOS"


MILTON SANTOS

"HANNAH ARENDT" - DIREITOS HUMANOS E TOTALITARISMO


Os Direitos Humanos na perspectiva de Hannah Arendt*
Renata Romolo Brito**

Resumo: Este artigo objetiva analisar a fundamentação dos direitos humanos de acordo com a filosofia de Hannah Arendt, tomando como referência a perspectiva histórica da filósofa em As Origens do Totalitarismo. Buscamos, porém, iluminar essa perspectiva com base em uma de suas obras mais filosóficas, A Condição Humana, para aprofundarmos a compreensão dos conceitos de condição humana, ação, liberdade e igualdade e sua relação com a idéia de dignidade – fonte dos direitos humanos.

Palavras-chave: Direitos Humanos, condição humana, dignidade.

Em sua obra Origens do Totalitarismo, Hannah Arendt analisa as experiências e as condições que possibilitaram o surgimento de uma forma de opressão política que, em sua essência, difere de todas as outras: o totalitarismo1 .
Para compreender do fenômeno totalitário, segundo Arendt, não podemos mais confiar inteiramente na forma tradicional de conceber o passado, posto que uma ruptura na tradição tornou impossível explicar o conseqüente em razão do antecedente. Essa ruptura, trazida a termo pela experiência inédita de campos de concentração e fábricas de morte2 , faz com que não possamos mais nos aproveitar do passado de forma completa. Ainda assim, pela sua filosofia, é fundamental que nos voltemos para o passado para compreendermos o presente – para o passado e não para a tradição –, em um processo de reapropriação seletiva de fatos que podem esclarecer o presente depois de recuperados do esquecimento e re-iluminados pela nova visão retrospectiva3 . Dentre os fatos analisados por Arendt nessa obra, analisados com uma nova perspectiva afastada da perspectiva tradicional, nos concentraremos primeiramente na questão dos direitos humanos, para melhor desenvolvermos os conceitos de condição humana, ação política, liberdade e igualdade dentro da filosofia arendtiana.
Hannah Arendt aponta que os direitos humanos, conforme declarados no século XVIII, trazem um problema já em sua fundamentação. Segundo Arendt, a Declaração dos Direitos do Homem significou o prenúncio da emancipação do homem, porque foi a partir daquele momento que ele se tornou a fonte de toda a lei. Em outras palavras, o homem não estava mais sujeito a regras provindas de uma entidade divina ou assegurada meramente pelos costumes da história, mas que havia se libertado de qualquer tutela e que era dotado de direitos simplesmente porque era Homem4 . Dessa forma, esses direitos eram tidos ou mesmo definidos como inalienáveis, pois pertenciam ao ser humano onde quer este estivesse.
A definição de direitos humanos como direitos que emanam do Homem ou de uma idéia de homem – isto é, de um ser abstrato e indefinível –, entretanto, opõe-se à condição humana da pluralidade, essencial à ação e a dignidade humana. Nesse sentido, o indivíduo isolado5 continua sendo homem, porém ao separar-se do espaço público e da companhia de outras pessoas, ele não pode mais se revelar e confirmar sua identidade. De fato, na filosofia arendtiana, são as relações estabelecidas no espaço público com os diversos homens que representam a atividade dignificadora do ser humano. No espaço público, o homem iniciará relações únicas, marcadas por sua existência unívoca e iluminadas por suas particularidades. Nessa esfera, cada ação têm sua importância exatamente porque é fruto da atividade livre de cada indivíduo específico, revelando a identidade única e singular daquele que age. A ação política, advinda da liberdade e da singularidade de cada um, revela o seu agente aos demais, e confirma para si mesmo quem de fato ele é.
Sem essa revelação, o homem não mais faz parte da história, e após a sua morte, nada existe que possa recuperar sua existência ou sua memória. Sem a companhia dos iguais, a relação do eu com o mundo se parte pela falta de ratificação do senso comum. Por isso, é apenas quando o indivíduo está em companhia de outros homens diferentes de si, em um espaço público, é que ele realmente age, confirmando sua singularidade e sua identidade com o advento de relações inéditas que refletem a si mesmo, como agente unívoco na totalidade da comunidade humana. E é somente nesse momento que ele atualiza sua dignidade.
O indivíduo sozinho, excluído da teia de relações humanas, fica despido da própria dignidade humana, justamente porque nada do que ele faça ou deixe de fazer terá importância. Seus atos não atingirão o resto da comunidade humana e passarão como se não tivessem existido.
Essa situação de isolamento e separação da comunidade, em realidade, afeta as características particulares da vida humana consideradas essenciais, segundo Hannah Arendt, desde Aristóteles: o homem fica despido da relevância da fala (e comandar o pensamento e a fala sempre foram marcas de separação do ser humano dos demais animais); e fica despido do relacionamento com outras pessoas (afetando-se a idéia do homem como “animal político”).6
Sob esse ponto de vista, a fundamentação dos direitos humanos em uma idéia de homem, abstrata e universal, que exclui qualquer particularidade e singularidade dos homens que existem no mundo real, vai de encontro à própria atividade dignificadora do ser humano: a ação. A ação é política em sua natureza, pois é a interação peculiar do ser humano concreto e singular com outros homens tão concretos e diversos quanto existem em uma comunidade real. E é precisamente por essa característica que cada indivíduo, concreto e singular, emana dignidade; porque é único, e não uma cópia homogênea e substituível de uma natureza genérica. Na perspectiva arendtiana, os direitos humanos, que deveriam ser reflexo da dignidade do homem, pensados de forma a independerem da pluralidade humana, perdem o próprio sentido de dignidade.
Essa contradição entre os direitos humanos conforme pensados desde o século XVIII e a condição humana da pluralidade – e conseqüentemente, contradição com a dignidade humana –, fica aparente no caso de pessoas excluídas de comunidades, como é o caso dos apátridas e das minorias étnicas vivendo sob um Estado-nação de uma etnia diferente. Os Direitos do Homem, que deveriam iluminar a dignidade do indivíduo e afirmar seu valor onde quer que estivesse, não chegavam a esses grupos. Eles sofreram uma privação total de direitos porque foram excluídos da teia de relações humanas que afirma e deveria assegurar tais direitos. Justamente por estarem sozinhos, isolados, os direitos humanos não lhes atingia. Eram homens – mas apenas homens; e essa generalidade de se pertencer a uma espécie (a espécie humana) não lhes foi suficiente para garantir que mantivessem seus direitos.
Por perderem a possibilidade de agir, esses grupos encontravam-se à mercê da sorte ou do infortúnio. Eles não podiam ser responsabilizados pelo que lhes acontecia, porque não haviam sido eles que haviam posto em movimento o que estava acontecendo, nem havia nada que pudessem fazer para evitá-lo. Essa irresponsabilidade marca precisamente a falta de dignidade dessa situação. Por serem impedidos de agir, eles se tornaram meros objetos, vítimas de acontecimentos dos quais não conseguiam fazer parte como sujeitos, como agentes. Ao lhes ser tirado o papel de sujeito, também foi tirado o papel de homem. Assim, eles deixaram de ter relevância. Suas ações ou suas opiniões, embora eles ainda as tivessem, não importavam mais, e era como se não existissem. A ação, a atividade dignificadora do homem, traz consigo responsabilidade daquele que age, responsabilidade pela ação particular. Sem essa responsabilidade, a ação é inexistente, porque perde seu significado de revelação.
Essa situação era também complicada pelo fato de que, juntamente aos demais Direitos do Homem, havia a exigência de soberania nacional, que se colocava do mesmo modo como um direito supremo. Essa exigência causou um paradoxo no próprio fundamento não só dos direitos humanos como também no do Estado-nação. Segundo Hannah Arendt:

De uma só vez, os mesmos direitos essenciais eram reivindicados como herança inalienável de todos os seres humanos e como herança específica de nações específicas; a mesma nação era declarada, de uma só vez, sujeita a leis que emanariam supostamente dos Direitos do Homem, e soberana, isto é, independente de qualquer lei universal, nada reconhecendo como superior a si própria.7


Ao idealizarmos os direitos humanos como fundamentados no homem, ainda que em sua forma geral e abstrata, temos de pensar no homem como superior ao Estado-nação. Contudo, com a afirmação de que as nações devem ser soberanas, idealizamos, ao mesmo tempo, um Estado-nação superior ao homem, cujos direitos passam a ser apenas os direitos assegurados pelo governo aos seus nacionais.
Essa contradição reforça os embaraços já apontadas por Arendt de se fundamentar os direitos humanos no homem isoladamente. As organizações políticas ficam obscurecidas em segundo plano, ignorando-se a pluralidade essencial da condição humana. Essa ignorância acaba trazendo, na prática, a inaplicabilidade dos direitos. Os direitos tornam-se formais e impossíveis de serem exercidos, porque não passam de uma teoria vazia. A condição de um ser humano isolado é igual à situação de alguém sozinho em um ilha, em que suas palavras só podem ser proferidas ao vento e depois esquecidas. Seus direitos são, portanto, apenas teóricos. Um ser humano isolado continua vivo, livre, com opiniões e com atos, mas não há nenhuma garantia para isso ou alguma importância nisso, já que não se atinge nenhuma organização política.
Por outro lado, a contradição entre soberania e direitos humanos também traz implicações para o Estado. A nação, tornando-se uma entidade capaz de herdar, juntamente com seus nacionais, os direitos humanos, transforma o Estado em instrumento para a execução de seus interesses, retirando-o do âmbito estritamente legal. De instituição máxima da lei e de protetor de todos os habitantes de seu território, o Estado se torna instrumento da nação8 e tem de priorizar o interesse nacional acima da legalidade, visto que o Direito passa a ser o que é bom para a nação9 . Os Estados-nações, no entanto, sempre haviam sido concebidos dentro da lei, e a ilegalidade a que a tomada pela nação lhes atira acaba por destruir-lhes as instituições e o próprio sentido de soberania. Suas instituições deixam de funcionar para todos os seus habitantes, deixando na marginalidade os não-nacionais; e a soberania deixa de significar liberdade para representar arbitrariedade e hostilidade contra outras nações.
Na prática, o resultado da identificação dos direitos humanos com a nação foi que os direitos humanos passaram a existir apenas como direitos nacionais, e só podiam ser exercidos quando o indivíduo se imbuía da qualidade de nacional de um Estado, isto é, de cidadão. Assim, tais direitos ficavam circunscritos à esfera de poder de um determinado governo, e sob a tutela deste. Essa situação esvazia o caráter universal dos Direitos do Homem, atingindo frontalmente sua suposta inalienabilidade e tornando-os contingentes. Numa época em que os direitos deixaram de ser assegurados pelos valores sociais, espirituais e religiosos, apenas as ordens políticas poderiam e precisavam, de fato, afirmá-los. Entretanto, alguém – como os apátridas e das minorias étnicas – que se encontrasse fora dessa ordem política ficava, em realidade, à margem de qualquer lei ou direito.
Observamos, dessa forma, que a expulsão de uma comunidade política importava realmente a perda de todos direitos humanos, porque “não restava nenhuma autoridade para protegê-los e nenhuma instituição disposta a garanti-los”10 . Nessa situação, a perda da comunidade equivale à própria perda da dignidade. Nesse contexto, Hannah Arendt enfatiza que o direito fundamental de cada indivíduo, antes de qualquer dos direitos enumerados em declarações, é o direito a ter direitos, isto é, o direito de pertencer a um comunidade disposta e capaz de garantir-lhe qualquer direito11 .
De fato, os direitos antes tidos como imanentes ao homem e, justamente por isso, inalienáveis, tornam-se inaplicáveis (porque fora de um contexto político), ou alienáveis e contingentes (porque dependentes da comunidade). Em outras palavras, perdem o sentido de direitos humanos.
Essas reflexões demonstram a necessidade de buscarmos uma idéia reguladora que embase os Direitos do Homem de forma diferente da fundamentação tradicional. Em realidade, Hannah Arendt argumenta que, não podendo mais confiar na história (costumes de cada comunidade como fonte de direitos) ou na natureza (natureza humana como fonte de direitos), o homem tem de voltar-se para a própria idéia de humanidade como garantidora de seus direitos. Por pertencer à humanidade, o ser humano tem direitos. E é a humanidade composta por cada homem singular que tem o papel de fonte e garantidora dos Direitos do Homem12 .
No entanto, a utilização da idéia de humanidade para o fim prático de fundamentar os direitos humanos encontra alguns óbices. Em primeiro lugar, o conceito de humanidade como conjunto que engloba todos as pessoas é, tradicionalmente, tão abstrato quanto o de Homem, e assim, a inaplicabilidade com que nos defrontamos quando pensamos os direitos humanos como emanados da natureza humana continua. Em segundo lugar, entrelaçando-se com a questão anterior, temos que, desde Hobbes, a filosofia política deixou de conceber a humanidade de forma a abranger uma convivência supranacional solidária entre as diversas comunidades humanas, e estabeleceu-se em seu lugar um estado de guerra entre os países13 .
Desse modo, a humanidade, como conjunto de seres humanos, deixa de existir de forma prática; em seu lugar, fica a desassociação de nações soberanas e hostis, sem nenhum vínculo ou direito que as una.
Essa desassociação, inclusive, é a causa da expulsão de uma comunidade implicar a perda de todos os direitos humanos. Ao sair de uma comunidade específica, uma nação, o indivíduo não pertencia a mais nenhum grupo, e assim ficava excluído de qualquer relação com os demais seres humanos. A comunidade era sua última ligação com os demais seres humanos, e estar fora de uma comunidade significava, então, estar fora da própria humanidade.
Devido a essas questões, a idéia de humanidade na filosofia arendtiana – que tem a possibilidade de embasar os Direitos dos Homens – se constitui como um objetivo de construção coletiva entre os homens14 . Nesse sentido, ela é a finalidade concreta de estabelecimento de uma humanidade comum, que deve englobar todos os seres humanos e se caracterizar precisamente por ser um conjunto de elementos diversos.
Tal forma de conceber a humanidade é um caminho para superar os problemas levantados pela forma tradicional de se lidar com os direitos humanos. Esses deixam de se embasar em uma idéia abstrata e contrária à condição do ser humano, adquirindo uma abrangência que visa envolver cada homem particularmente. Esse envolvimento, por sua vez, impõe o compromisso de se fazer parte dessa comunidade abrangente. Cada homem é responsável por pertencer à humanidade, pois todas as suas ações atingirão à totalidade de pessoas de que faz parte, e serão reflexos de si mesmo. Cada homem é, por isso, solidário na responsabilidade comum e recíproca. A dignidade de se pertencer a comunidade traz consigo, categoricamente, responsabilidade, porque dignidade e responsabilidade são correlatas15 , conforme apontado acima.
A responsabilidade de construir tal humanidade, de agir junto a homens dessa comunidade, de se revelar homem – em outras palavras, de ser digno –, remete à primeira idéia da ação como atividade dignificadora do homem. A ação não pode se desassociar de uma comunidade política, assim como o agente não pode se desassociar de sua responsabilidade.
Dessa forma, a dignidade humana, do mesmo modo que os direitos humanos, torna-se uma questão de política prática; isto é, torna-se a construção de uma comunidade que engloba a totalidade dos seres humanos e permite, com isso, a possibilidade de ação de cada um de seus componentes.
Porém, resta ainda uma questão a respeito da construção de um conjunto cujos elementos são bastante díspares. A construção de uma comunidade baseia-se sempre em alguma espécie de ligação entre os seus componentes. Os seres humanos, entretanto, encontram-se divididos em grupos diferentes, e não podemos negar-lhes suas desigualdades de origem natural, de organização e de destino na história se quisermos respeitar sua singularidade.
A ligação dos homens que compõe a humanidade proposta por Arendt não pode significar um nivelamento, por qualquer critério que seja. Por isso, não pode se basear em uma suposta igualdade inata que pode ser comprovada e testada diariamente. A busca de tal igualdade apenas impede de aprendermos a lidar com as diferenças, o que resulta na tentativa de eliminar a pluralidade e estabelecer um padrão – objetivo impossível16 .
A ligação que podemos estabelecer entre todos os seres humanos, além da conexão vã de pertencerem todos a mesma espécie, também tem de ser construída. É uma igualdade política, e não uma igualdade natural. É a igualdade de objetivo humano, que só pode ser atingida com uma igual distribuição de direitos17 .
Apenas com esse objetivo comum de estabelecer uma igualdade política é que se pode construir de fato uma humanidade em que o homem não é posto como um ser atomizado, em cujo isolamento jaz a sua indignidade; nem, ao mesmo tempo, posto como sujeito às regras históricas e contingentes de sua sociedade. Trata-se de uma humanidade de homens iguais, solidários e dignos.



Notas

* Esta comunicação está vinculada ao nosso projeto de mestrado (Unicamp/IFCH), cuja pesquisa vem sendo financiada pela CAPES.

** Mestranda em Filosofia pelo IFCH/Unicamp.

1- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 3, Cap 4, p. 512

2- Hannah ARENDT. The origins of totalitarianism. Parte 2, Cap 5, P 123. (Na tradução, Parte 2, Cap 1)

3- Maurizio P. D' ENTRÈVES. The political philosophy of Hannah Arendt. Cap 1, Seção 1, P. 31

4- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 5, Seção 2, p. 324.

5- Sobre a diferença entre isolamento e solidão, ver Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo: “O que chamamos de isolamento na esfera política é chamado de solidão na esfera dos contatos sociais. Isolamento e solidão não são a mesma coisa. Posso estar isolado – isto é, numa situação em que não posso agir porque não há ninguém para agir comigo – sem que esteja solitário – isto é, numa situação em que, como pessoa, me sinto completamente abandonado por toda companhia humana – sem estar isolado.” Parte 3, Cap 4, p. 527

6- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 5, Seção 2, p. 330.

7- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 4, Seção 1, P. 262

8- A tomada do Estado pela nação inicia-se, em parte, com a crescente consciência nacional causada pela ampliação geográfica que as nações européias experimentaram com o imperialismo. Essa ampliação fez com que os europeus se defrontassem com homens de culturas radicalmente diferentes, que, de certa forma, não cabiam em seu conceito de humanidade. Quanto ao tribalismo e os Estados-nações, ver Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo, segunda parte. Especificamente: “A tragédia do Estado-nação surgiu quando a crescente consciência nacional do povo interferiu com essas funções [de proteção de todos os habitantes de seu território e de instituição legal suprema]. Em nome da vontade do povo, o Estado foi forçado a reconhecer como cidadãos somente os “nacionais”, a conceder completos direitos civis e políticos somente àqueles que pertenciam à comunidade nacional por direito de origem e fato de nascimento. Isso significa que o Estado foi parcialmente transformado de instrumento da lei em instrumento da nação.” Parte 2, Cap 4, Seção 1, P. 261.

9- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 5, Seção 1, p. 308-9.

10- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 5, Seção 2, p. 325.

11- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 5, Seção 2, p. 331.

12- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 5, Seção 2, p. 332.

13- Hannah ARENDT. The origins of totalitarianism. Parte 2, Cap 5, Seção 3, P 157. (Na tradução, Parte 2, Cap 1).

14- Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 4, Seção 1, P. 266.

15- Sobre humanidade, dignidade e responsabilidade, ver Hannah ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 4, Seção 1, P. 266-7

16- A esse respeito, ver Hannah ARENDT. The origins of totalitarianism.: “Equality of condition, though it is certainly a basic requirement for justice, is nevertheless among the greatest and most uncertain ventures of modern mankind. The more equal conditions are, the less explanations there is for differences that actually exists between people; and thus all the more unequal do individuals and groups become. Parte 1, Cap 3, P 54.

17- ARENDT. Origens do Totalitarismo. Parte 2, Cap 4, Seção 1, P. 266.


FONTE: http://www.eticaefilosofia.ufjf.br/9_2_renata.html
Revista Ética & Filosofia Política (Volume 9, Número 1, junho/2006)

"Os indiferentes" - um importante pensamento de Antonio Gramsci

30 de Agosto de 2007

Quem foi Antonio Gramsci ?

Antonio Gramsci nasceu no mês de janeiro de 1891 e faleceu no dia 27 de abril de 1936, na Itália. É um conhecido escritor, político e teórico político italiano. Foi membro fundador e líder do Partido Comunista Italiano e foi encarcerado pelo regime fascista de Mussolini.Seus escritos estão totalmente voltados para a análise da cultura e da liderança política e seu trabalho é notável pela sua originalidade, enquanto pensandor marxista. É bastante conhecido o seu conceito de "hegemonia cultural" enquanto forma de manutenção do estado, em uma sociedade capitalista.O texto que apresentamos, a seguir, pode servir para os educadores repensarem o momento atual e a sua prática educativa....

"Os indiferentes"

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

Primeira Edição: La Città Futura, 11-2-1917 (???)
Origem da presente Transcrição: Texto retirado do livro Convite à Leitura de Gramsci" (???)
Tradução: Pedro Celso Uchôa Cavalcanti.
Transcrição de: Alexandre Linares para o Marxists Internet Archive
HTML de: Fernando Antônio de Souza Araújo
Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org), 2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License
http://e-educador.com/index.php/artigos-mainmenu-100/146-qos-indiferentesq-um-importante-pensamento-de-antonio-gramsci

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A MÃO DE OBRA DE AFRICANOS NO BRASIL -SÉC.XIX - VÍDEO DE NADIA STABILE - MÚSICA DE BEETHOVEN - OBRAS DE DEBRET E RUGENDAS

A Temática Africana em Sala de Aula - PROF.DR.MAURÍCIO WALDMAN

Prezados amigos e amigas:

O próximo dia 20 de Novembro é o DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA.

Que tal tomar conhecimento desta temática? Tenho alguns materiais de minha lavra a sugerir para quem quer que deseje fazer leitura sobre o tema.

São os que seguem:


LIVROS

1. Memória D'África - A Temática Africana em Sala de Aula
Obra em co-autoria com Carlos Serrano , Editora Cortez, 2007, atualmente na segunda edição. Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=antrop_memoria_d_africa&c=a


MATERIAIS ACADÊMICOS

1. Africanidade, Espaço e Tradição
Paper - Revista África, nº 20-21. Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo, 2000. Texto considerado de relevância internacional pelo Centre National de la Recherche Scientifique, o maior e mais influente organismo de pesquisa científica da França. Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=antrop_africanidade_espaco_e_tradicao&c=a

2. Imaginário, Espaço e Discriminação Racial
Paper - Revista GeoUSP, nº 14, pp. 45-64, Serviço de Pós-Graduação do Depto de Geografia USP, 2004. Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=antrop_imaginario_espaco_e_discriminacao_racial&c=a


MATERIAIS PARA CAPACITAÇÃO

1. A África Tradicional
1997, Projeto Sigma, Editora Didática Suplegraf, São Paulo (SP).
Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=antrop_africa_tradicional&c=a

2. Guerras de Libertação na África
1998, Projeto Sigma, Editora Didática Suplegraf, São Paulo (SP).
Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=hist_guerras_de_libertacao_na_africa&c=h

3. O Fabuloso Reino dos Mansas do Mali
2002, Prof- Assessoria em Educação e disponibilizado em 2004 para o site da Casa de Cultura da Mulher Negra (Santos, SP).
Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=antrop_fabuloso_reino_dos_mansas_do_mali&c=a

4. Mundo Afro-Brasileiro
2003, publicado pelo Boletim da Associação dos Geógrafos Brasileiros, Seção Local São Paulo (SP).
Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=antrop_mundo_afro-brasileiro&c=a


ENTREVISTAS

1. Entrevista concedida para a Rádio Voz da América
Transmissão mundial a partir de Washington em Outubro de 2007 centrada na Temática Africana em Sala de Aula e na questão da política de ações afirmativas.
Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=antrop_radio_voz_da_america&c=a

2. Entrevista concedida para o Sindicato dos Professores - SINPRO
2003, Arquivo virtual e transcrição da entrevista estão disponíveis na Internet.
Informações pelo link: http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=antrop_sinpro&c=a



Aproveito esta mensagem para informar que estarei palestrando no próximo dia 21 de Novembro na cidade de Poços de Caldas, por conta de minha participação no IIº SEMINÁRIO DAS RELAÇÕES INTERÉTNICAS E IGUALDADE RACIAL, promovido pela Secretaria de Educação do município.

Estarei proferindo palestra com base no tema "Geopolítica das Ações Afirmativas", tema que pretendo ampliar para um artigo em futuro próximo.

Por ora é só.

Até a próxima e um forte abraço!


Prof. Dr. Maurício Waldman
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Por que a economia colonial e imperial baseou-se no trabalho escravo? E A HISTÓRIA E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA ESCOLA

O latifúndio monocultor no brasil exigia uma mão-de-obra permanente.
era inviável a utilização de portugueses assalariados, já que a intenção não era vir para trabalhar, e sim para se enriquecer no brasil.

o sistema capitalista nascente não tinha como pagar salários para milhares de trabalhadores, além do que, a população portuguesa que não chegava aos 3 milhões, era considerada reduzida para oferecer assalariados em grande quantidade.

quem foi utilizado como escravo nos períodos colonial e imperial?

embora o índio tenha sido um elemento importante para formação da colônia, o negro logo o suplantou, sendo sua mão-de-obra considerada a principal base, sobre a qual se desenvolveu a sociedade colonial brasileira.

na fase inicial da lavoura canavieira ainda predominava o trabalho escravo indígena. parece-nos então que argumentos tão amplamente utilizados, como inaptidão do índio brasileiro ao trabalho agrícola e sua indolência caem por terra.

a história verdadeira mostra que a reação do nativo foi tão marcante, que tornou-se uma ameaça perigosa para certas capitanias como espírito santo e maranhão. além da luta armada, os indígenas reagiram de outras maneiras, ocorrendo fugas, alcoolismo e homicídios como forma de reação à violência estabelecida pelo escravismo colonial. todas essas formas de reação dificultavam a organização da economia colonial, podendo assim, comprometer os interesses mercantilistas da metrópole, voltados para acumulação de capital. destaca-se também, a posição dos jesuítas, que voltados para catequese do índio, opunham-se à sua escravidão.

apesar de todos esses obstáculos, o indígena é amplamente escravizado, permanecendo como mão-de-obra básica na economia extrativista do norte do brasil, mesmo após o término do período colonial.

por que então que o índio cede lugar para o negro como escravo no brasil?

a maior utilização do negro como mão-de-obra escrava básica na economia colonial, deve-se principalmente ao tráfico negreiro, atividade altamente rentável, tornando-se uma das principais fontes de acumulação de capitais para metrópole.

exatamente o contrário ocorria com a escravidão indígena, já que os lucros com o comércio dos nativos não chegava até a metrópole.

torna-se claro assim, o ponto de vista defendido pelo historiador fernando novais, de que "o tráfico explica a escravidão", e não o contrário.

para os portugueses, o tráfico negreiro não era novidade, pois desde meados do século xv , o comércio de escravos era regular em portugal, sendo que durante o reinado de d. joão ii o tráfico negreiro foi institucionalizado com a ação direta do estado português, que cobrava taxas e limitava a participação de particulares.

quanto à procedência étnica do negro, destacaram-se dois grupos importantes: os bantos, capturados na África equatorial e tropical provenientes do congo, guiné e angola, e os sudaneses, vindos da África ocidental, sudão e norte da guiné.

interessante observarmos que entre os elementos deste segundo grupo, destacavam-se muitos negros islamizados, responsáveis posteriormente por uma rebelião de escravos ocorrida na bahia em 1835, conhecida como a revolta dos malês.

a resistência

do negro: os quilombos.


desde fugas isoladas, passando pelo suicídio, pelo banzo (nostalgia que fazia o negro cair em profunda depressão o levando à morte) e pelos quilombos, várias foram as formas de resistência do negro à escravidão, sendo a formação dos quilombos a mais conseqüente.

os quilombos eram aldeamentos de negros que fugiam dos latifúndios, passando a viver comunitariamente. o maior e mais duradouro foi o quilombo dos palmares, surgido em 1630 em alagoas, estendendo-se numa área de 27 mil quilômetros quadrados até pernambuco. desenvolveu-se através do artesanato e do cultivo do milho, feijão, mandioca, banana e cana-de-açúcar, além do comércio com aldeias vizinhas.

seu primeiro líder foi ganga zumba, substituído depois de morto por seu sobrinho zumbi, que tornou-se a principal liderança da história de palmares. zumbi foi covardemente assassinado em 1695 pelo bandeirante domingos jorge velho, contratado por latifundiários da região.

apesar dos muitos negros mortos em palmaras, a quantidade de escravos crescia muito e em 1681 atingia a cifra de 1 milhão de negros trazidos somente de angola.

o grande número de negros utilizado como escravos, deixa clara a alta lucratividade do tráfico negreiro, responsável inicialmente pelo abastecimento da lavoura canavieira em expansão nos séculos xvi e xvii e posteriormente nas áreas de mineração e da lavoura cafeeira nos séculos xviii e xix respectivamente.

A história e cultura

afro-brasileira na escola



A lei nº 10.639, de 2003, ou a ldb e passou a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluíssem no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira. o fato foi considerado pelos movimentos de luta dos negros em todo o país como um importante passo.
sua aplicação prática, no entanto, ainda é desafio para toda a comunidade escolar, especialmente para os professores: como sair da teoria? como e onde buscar material, isto é um grande desafio a ser cumprido.

História x Autalidades


Infelizmente, ainda a população “negra” no brasil, ocupa na área empregatícia, ocupa a posição de peão ou chão de fábrica, por não ter as mesmas oportunidades de crescimento que a grande parte da população “branca” tem. isto tudo é um reflexo de mais de 500 anos de história, onde o preconceito ainda está presente em piadinhas sem graça e que só desmoralizam um ser humano igual a tantos outros.


A exclusão existente no mundo do trabalho também se dá no sistema educacional. dos 28.234.039 estudantes do ensino fundamental, 52,0% são brancos, 43,1% são pardos e 4,5%, pretos. no ensino médio, que tem 3.760.935 alunos, as proporções correspondentes são 65,3%, 30,1% e 3,3%, para brancos, pardos e pretos, respectivamente, e, cursando o ensino superior, existem 1.665.982 estudantes, sendo 78,6% deles brancos, 17,4% de pardos e 1,4% de pretos (fonte: anuário estatístico do brasil 1992, rio de janeiro: ibge, v. 52, 1992. disponível em www.ibge.gov.br em "estatísticas do século xx", tema "educação")

http://www.hploco.com/ims/Historia_e_Atualidades_da_Cultura_Afro-Brasileira.html.

FONTE: INSTITUTO AFRO-BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL MILTON SANTOS

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