sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Tese: MAURÍCIO TRAGTENBERG E A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA - ANTONIO OZAÍ DA SILVA























Autor: Antonio Ozaí da Silva
Tese: MAURÍCIO TRAGTENBERG E A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA
Orientador: Nelson Piletti
Instituição: Universidade de São Paulo (USP)
Ano: 2004

Resumo: Este trabalho analisa a contribuição de Maurício Tragtenberg, enquanto intelectual engajado, à Pedagogia Libertária. No capítulo primeiro apresentamos um esboço biográfico. No seguinte, analisamos o autodidatismo e a sua práxis no espaço da informalidade (entendido aqui como o espaço externo às instituições e ao ensino formal), em especial sua militância enquanto escritor envolvido com o mundo do trabalho e as lutas sociais. No terceiro capítulo, estudamos a sua obra intelectual, produzida e orientada para e no espaço formal da instituição acadêmica; os aspectos libertários e a sua contribuição enquanto produção intelectual vinculada ao movimento social. Não se teve a pretensão de fazer uma análise definitiva, mas apenas apreender em que medida sua obra se vincula ao projeto pedagógico libertário. No último capítulo, analisou-se o que ele escreveu sobre a universidade e a educação, sua crítica e proposta pedagógica e, também a sua práxis como docente e intelectual, partícipe do campo acadêmico. Examinou-se os seus escritos sobre educação, a sua prática como educador e os vínculos com a Pedagogia Libertária e a Pedagogia Crítica.



FONTE : http://mauricio-tragtenberg.blogspot.com/

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

UM NATAL ENTRE O ABISMO E A ESPERANÇA - POR CELSO LUNGARETTI (MODOLINKAR COM BLOG NÁUFRAGO DA UTOPIA)(cliquie aqui)

Terça-feira, Dezembro 23, 2008

NATAL OU BAILE DA ILHA FISCAL?

O que o mundo realmente celebra no Natal? A saga de um carpinteiro que trouxe esperança a pescadores e outras pessoas simples de um país subjugado ao maior império da época.

Os primeiros cristãos eram triplamente injustiçados: economicamente, porque pobres; socialmente, porque insignificantes; e politicamente, porque tiranizados.

Jesus Cristo nasceu três décadas depois da maior revolta de escravos enfrentada pelo Império Romano em toda a sua existência.

As mais de seis mil cruzes fincadas ao longo da Via Ápia foram o desfecho da epopéia de Spartacus, que, à sua maneira rústica, acenou com a única possibilidade então existente de revitalização do império: o fim da escravidão. Roma ganharia novo impulso caso passasse a alicerçar-se sobre o trabalho de homens livres, não sobre a captura e o chicote.

Vencido Spartacus, não havia mais quem encarnasse (ou pudesse encarnar) a promessa de igualdade na Terra.

Jesus Cristo a transferiu, portanto, para o plano místico: todos os seres humanos seriam iguais aos olhos de Deus, devendo receber a compensação por seus infortúnios num reino para além deste mundo.

Este foi o cristianismo das catacumbas: a resistência dos espíritos a uma realidade dilacerante, avivando o ideal da fraternidade entre os homens.

Hoje há enormes diferenças e uma grande semelhança com os tempos bíblicos: o império igualmente conseguiu neutralizar as forças que poderiam conduzir a humanidade a um estágio superior de civilização.

A revolução é mais necessária do que nunca, mas inexiste uma classe capaz de assumi-la e concretizá-la, como o fez a burguesia, ao estabelecer o capitalismo; e como se supunha que o proletariado industrial fizesse, edificando o socialismo.

O fantasma a nos assombrar é o do fim do Império Romano: que este impasse nos leve à decadência extrema e, enfim, nos sujeite à destruição cega.

O capitalismo hoje produz legiões de excluídos em muito semelhantes aos bárbaros que deram fim a Roma; não só os que vivem na periferia do progresso, mas também os miseráveis existentes nos próprios países abastados, vítimas do desemprego crônico.

E as agressões ao meio ambiente, decorrentes da ganância exacerbada, estão atraindo sobre nós a fúria dos elementos, com conseqüências avassaladoras. Décadas de catástrofes serão o preço de nossa incúria.

No entanto, como disse o grande jornalista Alberto Dines, “criaturas e nações cometem muitos desatinos, mas na beira do abismo recuam e escolhem viver”.

Se a combinação do progresso material com a influência mesmerizante da indústria cultural tornou o capitalismo avançado praticamente imune ao pensamento crítico e à gestação/concretização de projetos alternativos de organização da vida econômica, política e social, tudo muda durante as grandes crises, quando abrem-se brechas para evoluções históricas diferentes.

Temos pela frente não só uma recessão mundial (que ninguém, em sã consciência, pode garantir que não desemboque numa depressão tão terrível como a da década de 1930), como a sucessão de emergências e mazelas decorrentes das alterações climáticas.

O sofrimento e a devastação serão infinitamente maiores se os homens enfrentarem desunidos esses desafios. Caso as nações e os indivíduos prósperos venham a priorizar a si próprios, voltando as costas aos excluídos, estes morrerão como moscas.

O desprendimento, substituindo a ganância; a cooperação, em lugar da competição; e a solidariedade, ao invés do egoísmo, terão de dar a tônica do comportamento humano nas próximas décadas, se as criaturas e nações escolherem mesmo viver.

E há sempre a esperança de que os mutirões criados ao sabor dos acontecimentos acabem apontando um novo caminho para os cidadãos: o de que mobilizando-se e organizando-se para o bem comum aproveitam muito melhor suas próprias potencialidades e os recursos finitos do planeta.

Então, para além deste Natal transformado na própria celebração do templo e de seus vendilhões, vislumbra-se outro, o verdadeiro. Se frutificarem os esforços dos homens de boa vontade.

FONTE : http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

MODOLINKAR COM O BLOG "SARAU PARA TODOS" - POST QUE FAZ PARTE DA CONVERSA COM RCHONCHOL SOBRE OS ABSURDOS DESTE PAÍS!! (MULTIMANIFESTO) (clique aqui)

Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008

"Affonso Romano de Sant'Anna" - Sobre a atual vergonha de ser brasileiro -

(Diante da pesquisa que aponta F.H. (presidente da República Fernando Henrique) como o brasileiro que mais envergonha o país, o cronista se vê forçado a publicar um texto de 17 anos atrás, atualíssimo)

Que vergonha, meu Deus! ser brasileiro
e estar crucificado num cruzeiro
erguido num monte de corrupção.
Antes nos matavam de porrada e choque
nas celas da subversão. Agora
nos matam de vergonha e fome
exibindo estatísticas na mão.
Estão zombando de mim. Não acredito.
Debocham a viva voz e por escrito
É abrir jornal, lá vem desgosto.
Cada notícia é um vídeo-tapa no rosto.
Cada vez é mais difícil ser brasileiro.
Cada vez é mais difícil ser cavalo
desse Exu perverso
nesse desgoverno terreiro.
Nunca vi tamanho abuso.
Estou confuso, obtuso,
com a razão em parafuso:
a honestidade saiu de moda
a honra caiu de uso.
De hora em hora a coisa piora:
arruinado o passado,
comprometido o presente,
vai-se o futuro à penhora.
Valei-me Santo Cabral
nessa avessa calmaria
em forma de recessão
e na tempestade da fome
ensinai-me a navegação.
Este é o país do diz e do desdiz,
onde o dito é desmentido
no mesmo instante em que é dito.
Não há lingüista e erudito
que apure o sentido inscrito
nesse discurso invertido.
Aqui o discurso se trunca:
o sim é não. O não, talvez.
O talvez, nunca.
Eis o sinal dos tempos
este o país produtor
que tanto mais produz
tanto mais é devedor.
Um país exportador
que quando mais exporta
mais importante se torna
como país mau pagador.
E, no entanto, há quem julgue
que somos um bloco alegre
do ‘‘Comigo Ninguém Pode’’
quando somos um país de cornos mansos
cuja história vai dar bode.
Dar bode, já que nunca deu bolo,
tão prometido pros pobres
em meio a festas e alarde
onde quem partiu, repartiu
ficou com a maior parte
deixando pobre o Brasil.
Eis uma situação
totalmente pervertida
-- uma nação que é rica
consegue ficar falida,
o ouro brota em nosso peito,
mas mendigamos com a mão,
uma nação encarcerada
que doa a chave ao carcereiro
para ficar na prisão.
Cada povo tem o governo que merece?
Ou cada povo
tem os ladrões a que enriquece?
Cada povo tem os ricos que o enobrecem?
Ou cada povo tem os pulhas
que o empobrecem?
O fato é que cada vez mais
mais se entristece esse povo num rosário
de contas e promessas num sobe e desce de prantos e preces.
C’est n’est pas um pays sérieux!
já dizia o general.
O que somos afinal?
Um país-pererê? folclórico? tropical?
misturando morte e carnaval?
Um povo de degradados?
Filhos de degredados
largados no litoral?
Um povo-macunaíma
sem caráter-nacional?
Por que só nos contos de fada
os pobres fracos vencem os ricos nobres?
Por que os ricos dos países pobres
são pobres perto dos ricos
dos países ricos? Por que
os pobres ricos dos países pobres
não se aliam aos pobres dos países pobres
para enfrentar os ricos dos países ricos,
cada vez mais ricos, mesmo
quando investem nos países pobres?
Espelho, espelho meu!
há um país mais perdido que o meu?
Espelho, espelho meu!
há um governo mais omisso que o meu?
Espelho, espelho meu!
há um povo mais passivo que o meu?
E o espelho respondeu
algo que se perdeu
entre o inferno que padeço
e o desencanto do céu.


Texto extraído do jornal "O Globo" - Rio de Janeiro.
Postado por Nadia Gal St às 12/18/2008 12:24:00 PM
Marcadores: BRASIL, PODER, POESIA, POETAS, POLÊMICA
2 comentários:

Rosane Chon Chol disse...

Nem sempre acertamos, mas errar o tempo todo é demais.O "Instinto de Morte" aflora mundialmente. Agora vivemos a época do jornalismo do terror - parece que querem apavorar a todos avisando que o mundo faliu, que o teu dinheiro( salário, poupança ou pensão-aposentadoria) é abstrato e pode escafeder-se a qq momento, que a tua comida está barata, que o poder público te proteje de verdade e daí por diante....
Brasil, terra que prometia.........."Pais em Desenvolvimento", eu hein...........flagelados, povo sem acesso aos estudos e ao sistema de saúde, que está completamente fracassado. Sucesso do oportunismo, dos "bundas moles" e do mosquito da Dengue - gente, que nojo!que pesadelo!!!!!!!!!!!!
18 de Dezembro de 2008 12:44
Rosane Chon Chol disse...

as artes precisam de patrocínio, ouçam isso, é muito importante/ o que representa uma cultura desprovida de arte de boa qualidade? não bastam os esportes, esportistas ganham trilhões em detrimento do mundo das artes - querem que seu filho veja uma peça de teatro de baixa qualidade? exposições de artistas que lá estão lá devido aos seus lobbys bem sucedidos apresentando obras de baixa qualidade!?!Músicos de orquestras sinfônicas passando fome? bailarinos clássicos tendo de imigrar - credo, my God.

18 de Dezembro de 2008 12:52

"O POVO BRASILEIRO" - DARCY RIBEIRO (livro) -"ANTES QUE A HUMANIDADE ACABE" DESCUBRA O BRASIL!! ((MULTIMANIFESTO)

"Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si... Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros..." DARCY RIBEIRO, em O Povo Brasileiro "

Brasileiros... Um povo novo? Que tipo de povo somos nós ? A verdade é que muito já se escreveu sobre isso. E, no entanto, continuamos a fazer as mesmas perguntas... O Povo Brasileiro: vamos ver o que este livro conta.

"Meu livro mostra por que caminhos e como nós viemos, criando aquilo que eu chamo de Nova Roma. Roma com boa justificação... Roma por quê? A grande presença no futuro da romanidade, dos neolatinos é a nossa presença. Isso é o Brasil, uma Roma melhor porque mestiça, lavada em sangue negro, em sangue índio, sofrida e tropical. Com as vantagens imensas de um mundo enorme que não tem inverno e onde tudo é verde e lindo, e a vida é muito mais bela... E é uma gente que acompanha esse ambiente com uma alegria de viver que não se vê em outra parte. Esse país tropical, mestiço, orgulhoso de sua mestiçagem... Isso é que me levou muito tempo. Entender como isso se fez... Havia muita bibliografia sobre aspectos particulares, mas não uma visão de conjunto. Deixa eu contar pra vocês como é que isso se fez? " DARCY RIBEIRO

"Os iberos se lançaram à aventura no além-mar... desembarcavam sempre desabusados, atentos aos mundos novos, querendo fruí-los, recriá-los, convertê-los e mesclar-se racialmente com eles... " DARCY RIBEIRO
O Povo Brasileiro

"No Brasil a mestiçagem sempre se fez com muita alegria, e se fez desde o primeiro dia... Eu prometi contar como. Imagine a seguinte situação: uns mil índios colocados na praia e chamando outros: "venham ver, venham ver, tem um trem nunca visto"... E achavam que viam barcas de Deus, aqueles navios enormes com as velas enfurnadas... "O que é aquilo que vem?" Eles olhavam, encantados com aqueles barcos de Deus, do Deus Maíra chegando pelo mar grosso. Quando chegaram mais perto, se horrorizaram. Deus mandou pra cá seus demônios, só pode ser. Que gente! Que coisa feia! Porque nunca tinham visto gente barbada – os portugueses todos barbados, todos feridentos de escorbuto, fétidos, meses sem banho no mar... Mas os portugueses e outros europeus feiosos assim traziam uma coisa encantadora: traziam faquinhas, facões, machados, espelhos, miçangas, mas sobretudo ferramentas. Para o índio passou a ser indispensável ter uma ferramenta. Se uma tribo tinha uma ferramenta, a tribo do lado fazia uma guerra pra tomá-la." DARCY RIBEIRO

Ao longo da costa brasileira se defrontaram duas visões de mundo completamente opostas: a selvageria e a civilização. Concepções diferentes de mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente. Aos olhos dos europeus os indígenas pareciam belos seres inocentes, que não tinham noção do "pecado". Mas com um grande defeito: eram "vadios", não produziam nada que pudesse ter valor comercial. Serviam apenas para ser vendidos como escravos. Com a descoberta de que as matas estavam cheias de pau-brasil, o interesse mudou... Era preciso mão-de-obra para retirar a madeira.

" Onde tinha algum europeu instalado na costa em contato com as naus, e portanto capaz de fornecer mercadoria, cada aldeia, e eram milhares de aldeias, levava uma moça pra casar com ele. Se ele transasse com a moça, então ele se tornava cunhado. Ele passou a ter sogro, sogra, genros... ele passou a ser parente. Então o sabido do português, do europeu, conseguia desse modo pôr milhares de índios a serviço dele, pra derrubar pau-brasil..." DARCY RIBEIRO (...)

LEIA MAIS EM : http://www.tvcultura.com.br/aloescola/esTudosbrasileiros/povobrasileiro/index.htm.

Karl Marx,Shakespeare ,o exílio,as paixões e o romantismo -

(...)A relação de Marx com o romantismo remonta à sua infância, quando através do barão Ludwig von Westphalen, descobriu, com grande emoção, a obra de Shakespeare. Elo entre ele e aquele que, em grande medida substituiria a figura paterna em sua vida[27], o culto ao pensamento shakespeareano, mais tarde, reforçaria também, o forte elo entre Marx e suas filhas.

Assim, durante seu exílio em Londres, quando costumava levar a família a piqueniques dominicais em Hampstead Heath, Marx desenvolveu o hábito de declamar cenas de Shakespeare, Dante e Goethe para Jenny e as meninas. Em 1856, escreveria a Engels, contando cheio de orgulho paterno que elas “liam constantemente” a obra do grande dramaturgo. Suas únicas incursões na cultura inglesa foram saídas ocasionais para assistir à montagens shakespeareanas e duas de suas três filhas sonharam tornar-se atrizes, sendo que uma conseguiu.

Como Marx fugia ao perfil de intelectual de sua época e buscava colocar em prática suas idéias, a concepção que tinha do amor, também estava inevitavelmente ligada à sua relação amorosa com Jenny. Assim, numa carta escrita à esposa treze anos depois do casamento, ainda é possível identificar a grande paixão que os unia:

”(...) Eis que assomas diante de mim, grande como a vida, e eu te ergo nos braços e te beijo dos pés à cabeça, e me prostro de joelhos diante de ti e exclamo: ‘Senhora, eu te amo’. E amo mesmo, com um amor maior do que jamais sentiu o Mouro de Veneza[28]. (...) Qual de meus muitos caluniadores e inimigos de língua viperina censurou-me, algum dia, por ser chamado a representar o principal papel romântico num teatro de segunda classe? E, no entanto, é verdade. Se os patifes tivessem alguma inteligência, teriam retratado ‘as relações produtivas e sociais’ de um lado e do outro, eu a teus pés. E embaixo escreveriam: ‘Olhem para esta imagem e para aquela (...)” [29]

Na carta pode-se ainda, perceber que também esta paixão de Marx era atravessada por Shakespeare, já que a última frase fora extraída de Hamlet. Por outro lado, a mesma também revela que a paixão de um homem por uma mulher podia, contraditoriamente, ser lida como indício de fraqueza perante outros homens, convertendo-se assim, num trunfo para os inimigos. Contudo, apesar de reconhecer que tal percepção acerca da paixão era corrente em sua época, a despeito do florescimento do romantismo, Marx não abriu mão de vive-la. Desta forma afirmou nos “Manuscritos de Paris”; “(...) O domínio da essência objetiva em mim, o irrompimento sensível de minha atividade essencial é a paixão (...)” [30]

Muito embora estivessem apaixonados, a vida de Marx e Jenny juntos foi marcada por muitas dificuldades; perseguições políticas que os obrigaram a mudar-se da França para a Bélgica, regressarem a Alemanha e terminarem seus dias na Inglaterra; problemas financeiros, oriundos da impossibilidade de Marx conseguir uma renda fixa, do medo que tinha da proletarização da família através do ingresso das mulheres – mãe e filhas – no mercado de trabalho e da extrema capacidade de endividamento que tinham. (...)

LEIA MAIS EM : http://www.achegas.net/numero/dezesseis/anna_marina_16.htm

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

IVAN ILLICH - "ANTES QUE O MUNDO OU A HUMANIDADE ACABE" CONHEÇA ILLICH (MULTIMANIFESTO)








janeiro 2003

A resistência

segundo Ivan Illich


O famoso teórico Ivan Illich acaba de falecer, aos 76 anos de idade, em Bremen, onde lecionava na universidade. Publicava regularmente e fazia conferências no mundo inteiro. Sua obra, ardente, não podia ser resumida a slogans espetaculares


Thierry Paquot
b ten
A obra de Illich é abundante, perturbadora, difícil de ser classificada, à imagem de seu auto, que raramente estava onde se esperava que estivesse

Na segunda-feira, 2 de dezembro, Ivan Illich esticou sua sesta a ponto de partir para a eternidade. Agora está morto. Escrevo “agora” porque, já há muitos anos, quando mencionava seu nome, invariavelmente meus interlocutores me perguntavam sobre a data de seu falecimento. Ele morreu e, proximamente, sua obra completa será reeditada1, permitindo que alguns a descubram e que outros a revisitem. Uma obra exigente, abundante, perturbadora, difícil de ser classificada, à imagem de seu autor que raramente está onde se espera que esteja.

Bastante alto, magro, com um olhar envolvente, um sorriso caloroso e um perfil fino, exceto do lado da protuberância impressionante que o desfigurava, Ivan Illich sabia deixar as pessoas à vontade. Depois, feitas as primeiras trocas de palavras sobre as coisas banais de cada dia, seu pensamento se acelerava, se engrenava com sua elocução e nos encantava com sua inteligência. Falava dos “humores” de um médico alemão do século XVIII, recuava até Aristóteles, fazia um desvio passando por Diderot e Lavoisier, evocava Claude Bernard, se detinha em Balint, voltava ao médico alemão e se perguntava, em voz alta, sobre o diagnóstico, a consulta, a espoliação de si por um outro - o médico -, a recusa da dor e descrevia, com precisão, a máquina hospitalar atual, atropelando de passagem algumas de suas próprias análises já antigas e que se encontram em Némèsis médicale.
Vice-reitor aos 30 anos
Ivan Illisch era dono de um incrível enciclopedismo, apoiado na grande facilidade em manejar muitas línguas (mais de dez!) e numa curiosidade sem fim

Num outro dia, a palavra errante tomava outro rumo, demonstrava que o silêncio pode ser uma arma de contestação como a não-violência, expunha a reflexão filosófica de Max Picard, comparando-a com a de Emmanuel Lévinas, aproveitava a oportunidade para contar uma discussão com Michel de Certeau sobre o “uso da palavra” e o silêncio, falava dos padres da Igreja e da vida eremita, lembrava vários happenings silenciosos de que participara, recolocava a palavra numa sociedade da escrita, depois na sociedade da imagem e se entusiasmava com o século XII, seu século predileto. Essas duas histórias, de que sou a modesta testemunha, estão bem de acordo com os relatos com que outros comensais - impacientes ou maravilhados - enriquecem a respeito desse incrível enciclopedismo que se apóia numa grande facilidade em manejar muitas línguas (mais de dez!) e, ao mesmo tempo, numa curiosidade sem fim.

Realmente, o jovem Ivan, nascido em Viena, filho de pai dálmata e católico e de mãe alemã e judia, não tem só uma língua materna e, sim, várias - o francês, o italiano e o alemão - antes de aprender, a partir dos oito anos, o serbo-croata, língua de seus avós. Na seqüência, estudaria grego e latim - o que lhe facilitaria a abordagem etimológica das palavras e dos conceitos -, o espanhol, o português, o hindi etc. Matriculou-se em Cristalografia em Florença, em Filosofia e Teologia em Roma, em História Medieval em Salzburgo, foi ordenado padre, partiu para Nova York em 1951, reivindicou uma paróquia porto-riquenha, tornou-se vice-reitor da Universidade Católica de Porto Rico em 1956 - aos trinta anos! -, contestou cada vez mais o sistema escolar e as posições reacionárias do clero, criou seminários paralelos e diversos grupos de trabalho.
As preocupações do Vaticano
Aos 30 anos, vice-reitor da Universidade Católica de Porto Rico, contestou cada vez mais o sistema escolar e as posições reacionárias do clero

Três anos mais tarde, atravessou de ônibus e a pé toda a América Latina, opôs-se à concepção norte-americana de desenvolvimento, instalou-se em Cuernavaca, no México, e abriu o Centro Internacional de Documentação Cultural (Cidoc). Freqüentado inicialmente por “voluntários” norte-americanos - do programa “Aliança para o Progresso”, lançado por Kennedy - que para lá se dirigiram para aprender o espanhol e a civilização do país para onde iriam, o Cidoc tornou-se conhecido principalmente pelo trabalho crítico sobre a sociedade capitalista que numerosos intelectuais, de todas as nacionalidades, ali iriam desenvolver sob a orientação de seu fundador.

O Centro funcionaria de 1966 a 1976 e, a partir de 1967, Ivan Illich rompeu com Roma, que o convocou devido a um relatório da CIA – mas que se preocupava, sobretudo, com a audiência de alguns textos publicados em Libérer l’avenir (ed. Seuil, 1971), como “Disparition de l’ecclésiastique” (1959). Ele mencionou pressões sobre o Cidoc e até violência física que teria sofrido, sem, contudo, insistir... A passagem por Cuernavaca tornou-se, para uma certa esquerda radical e terceiro-mundista, um desvio obrigatório. A seriedade dos estudos convivia de perto com encontros festivos - duas atividades marcadas pelo cristianismo. Além do mais, mesmo assumindo o estado leigo, Ivan Illich continuou convencido de que “a maioria das idéias-chave, que fazem do mundo contemporâneo esta realidade particular, é de origem cristã2”.
A libertação da singularidade individual
Atravessou de ônibus e a pé toda a América Latina, instalou-se em Cuernavaca, no México, e criou o Centro Internacional de Documentação Cultural (Cidoc)

É com Une société sans école e La convivialité que se firma a fama de Ivan Illich: ainda não havia chegado aos cinqüenta anos e suas idéias já eram discutidas no mundo inteiro3. Seus primeiros livros visam a demonstrar que os “instrumentos” (entenda-se: as “instituições” e as grandes “máquinas” sociais, como a Igreja, a Escola, o Hospital, os Transportes etc.), depois de um certo patamar, tornam-se contraproducentes - de uma “contraprodutividade paradoxal”, esclarece ele, porque não desejada por seus idealizadores. Quanto mais avança um sistema técnico, mais aumenta a parte de heteronomia do indivíduo médio e mais diminui sua parte de autonomia, deixando-o cada vez mais dependente daquilo que não pode dominar: a energia nuclear, a rodovia, a quimioterapia, as manipulações genéticas etc.

Por trás de constatações demasiado simplificadas pelos seus seguidores - como, por exemplo, a “escola desescoloriza”, o “hospital torna doente”, o “carro emperra o tráfego” - encontra-se uma crítica extraordinária do “progresso” e daquilo que o legitima: a satisfação das supostas “necessidades4”. Ivan Illich recusa o ponto de vista do ataque dos membros do Clube de Roma que, em 1972, convidaram os líderes políticos a deterem o crescimento para se postergar a escassez de matérias-primas e para se reduzir o desperdício das reservas energéticas. Ele não acreditava de modo algum numa medíocre “proteção da natureza” e denunciava o desenvolvimento inconseqüente das técnicas, bem como a economia política do desenvolvimento, que alguns autores como René Passet e Serge Latouche retomariam e aprofundariam. Esses livros devem ser lidos juntos, de tal modo pertencem ao mesmo projeto: a libertação total da singularidade de cada indivíduo - quaisquer que sejam sua cultura, sua renda, sua posição no sistema produtivo etc.
Irritando o “esquerdismo” e o feminismo
A partir de 1967, Illich rompeu com Roma, que o convocou devido a um relatório da CIA, mas, na verdade, se preocupava com a audiência de seus textos

Esta libertação do sujeito - palavras que não pertencem a seu vocabulário - baseia-se no domínio de seu próprio corpo e de suas próprias necessidades, independentemente das técnicas disponíveis. Ivan Illich conta a história de uma estudante a quem ele oferece um copo de sidra e que lhe responde: “Não, obrigada, minhas necessidades de açúcar já foram satisfeitas para o dia todo.” Suas necessidades foram confiscadas pelos calculadores de calorias e pelos normatizadores... Partilhar uma bebida durante uma reunião não cabe nesse tipo de medida, e se situa na esfera de um ritual que, justamente, faz com que uma necessidade seja sempre cultural e histórica. O estudo da invenção das necessidades padronizadas e válidas para todos ocuparia Ivan Illich durante vários anos, obrigando-o, durante a trajetória, a estabelecer outras genealogias, como a de “ser humano”, “vida”, “pessoa”, “gênero”, “saúde” 5 etc., donde uma retomada da história do Ocidente.

Em que momento, em que circunstâncias e para quê, por exemplo, o trabalho se torna o principal tempo da existência individual e coletiva? Le Travail fantôme e Le Genre vernaculaire completam os primeiros ensaios e os elucidam, insistindo na linguagem como principal enraizamento existencial de cada um, a sexualização da sociedade como discriminação entre os gêneros e a crença errônea no homo œconomicus como modelo de comportamento etc. Essas obras, lidas depressa demais, irritam os terceiro-mundistas, para os quais o “trabalho fantasma” não valoriza os “pobres” tributários do “setor informal”, e as feministas, que recusam a diferença de gêneros de Illich e militam por uma igualdade jurídica e econômica homem/mulher. Quanto a suas últimas pesquisas sobre o oral, o escrito e a imagem, elas passarão despercebidas.
Originalidade vs. perplexidade
Por trás de constatações “simplistas” encontra-se uma crítica extraordinária do “progresso” e do que o legitima: a satisfação das supostas “necessidades”

Bajulado pelos adeptos da “segunda esquerda” francesa ao longo da década de 70, Ivan Illich pareceu-lhes demasiado pessimista quando eles assumiram responsabilidades políticas com a eleição de François Mitterrand, em 1981. Os terceiro-mundistas procuravam reagir ao fim da guerra fria e à globalização das economias e das telecomunicações: não encontram mais em Illich motivos para reagir a seus questionamentos. Os ambientalistas não gostam de sua crítica ao princípio da responsabilidade, iniciado por Hans Jonas, e não aderem à sua crítica da técnica, inspirada por Jacques Ellul, Lewis Mumford e alguns outros.

Em resumo, havia uma interrupção no circuito entre um pensador de uma originalidade desconcertante e uma intelligentsia desnorteada. Fora da França, as redes implantadas por Illich seguiram divulgando suas pesquisas e se engajaram nos caminhos abertos por ele, e sua influência - difícil de ser apreendida - é certa, como demonstram a popularidade de seus conceitos e sua presença nas citações bibliográficas. De Vancouver (“Habitat I”, em 1976) ao Rio (“Cúpula da Terra”, 1992), dos comitês de bairros por um orçamento participativo às associações por uma alternativa à globalização neoliberal, as idéias de Ivan Illich não parecem esquecidas, ao contrário.

(Trad.: Iraci D. Poleti)

1 - Pela editora Fayard, em 2003.
2 - Cf. David Cayley, Entretiens avec Ivan Illich, tradução francesa, Bellarmin, Saint-Laurent, Québec, 1996, p. 146.
3 - Cf. Jean-Marie Domenach põe a revista Esprit, que ele dirige, a serviço do pensamento de Illich, publicando vários de seus artigos em 1970 e 1971 e dedicando-lhe dois números: “Illich en débat”, n°3, de março de 1972, e “Avancer avec Illich”, n°7-8, de julho-agosto de 1973. Nos fragmentos escolhidos de seu Journal 1944-1977 e Beaucoup de gueule et peu d’or, ed. Seuil, 2001, Domenach dedica-lhe apenas algumas linhas, p. 291, ao passo que, em nossas conversas, me confirmou a importância, para ele, de sua leitura de Illich (ler sua crônica em L’Express de 21 de setembro de 1990). Illich está no índice da revista Les Temps Modernes em 1969 e 1970, e Herbert Gintis redige uma “Critique de l’illichisme” no n° 314-315, setembro-outubro de 1972. Ler n° 109, de dezembro de 1972, da revista Les Cahiers Pédagogiques e o n° 62 da revista L’ARC, em 1975, ambos inteiramente dedicados a Illich. Em Le Nouvel Observateur, Michel Bosquet (pseudônimo de André Gorz) vulgariza, discute e populariza as teses de Illich, construindo sua obra original.
4 - Cf. “Needs”, de Ivan Illich, The Development Dictionary, publicado por Wolfgang Sachs, ed. Zed Books, Londres, 1992, p. 88 e s.
5 - Cf. “L’obsession de la pensée parfaite”, Le Monde Diplomatqiue, março de 1999, p. 28.

FONTE : http://diplo.uol.com.br/2003-01,a531.

CASTANHEIRA DO PARÁ OU CASTANHEIRA DO BRASIL -A Carne Vegetal da Amazônia, "ANTES QUE O MUNDO ACABE" DEDIQUE-SE A CONHECER SEU PAÍS! (MULTIMANIFESTO)



Vozes Razoáveis (505): Ivan Illich 2 - MODOLINKAR COM O BLOG FRENESI (clique aqui)



por PCD

«[…] Em que ambiente nasce a criança das cidades? Num complexo conjunto de sistemas que significam uma coisa para quantos os concebem e outra coisa para quem os utiliza. Posto em contacto com milhares de sistemas, colocado nos seus terminais, o homem das cidades sabe servir-se do telefone e do televisor, mas ignora como funcionam. A aquisição espontânea do saber está confinada aos mecanismos de ajustamento a um conforto massificado. O homem das cidades tem cada vez menos possibilidade de fazer as suas coisas como lhe der na gana. Fazer a corte, a comida e o amor transformaram-se em matéria docente. Desviado por e para a educação, o equilíbrio do saber degrada-se. As pessoas sabem o que lhes ensinaram, mas já não aprendem por si próprias. Sentem a necessidade de ser educadas. O saber é, portanto, um bem e, como qualquer bem posto no mercado, está sujeito à escassez. Ocultar a natureza desta escassez é a função, deveras custosa, de uma educação multiforme. A educação é a preparação programada para a "vida activa", através do ingurgitamento de instruções maciças e standardizadas fornecidas pela escola. Mas a educação é também a ramificação contínua no fluxo das informações mediatizadas sobre o que se passa: é a "mensagem" de cada bem manufacturado. Por vezes, a mensagem vem escrita na da própria embalagem, é inevitável lê-la. Se o produto é mais elaborado, a sua forma, a sua cor, as associações suscitadas, ditam ao usuário o modo de utilização. Em particular, a educação é permanente, como medicina de temporada, para o administrador, o polícia e o operário qualificado, paradoxalmente ultrapassados pelas inovações no seu ramo. Quando as pessoas se esgotam, tendo que voltar repetidamente aos bancos da escola para receber um banho de saber e segurança, quando o analista tem que ser programado para cada nova geração de computadores, isso acontece porque a educação, realmente, é um bem sujeito à carência. É então que a educação se transforma na questão mais candente para a sociedade e, ao mesmo tempo, na mais mistificante.
[…] Substiruir o despertar do saber pela educação é sufocar o poeta no homem, é congelar neste o poder de dar sentido ao mundo. Por pouco que seja arrancado da Natureza, que seja privado do trabalho criador, que seja mutilado na sua curiosidade, o homem fica desenraizado, manietado, seco. Sobredeterminar o meio físico é torná-lo fisiologicamente hostil. Afogar o homem em bem-estar é agrilhoá-lo ao monopólio radical. Desbaratar o equilíbrio do saber é tornar o homem uma marioneta das suas ferramentas. Empanturrado na sua felicidade climatizada, o homem é um gato castrado: não lhe resta senão a raiva que o leva a matar ou a matar-se.
Sempre houve poetas e bobos capazes de se erguerem contra o esmagamento do pensamento criador por parte do dogma. Metaforizando, denunciam literalmente o vazio cerebral. O humor apoia-lhes a demonstração: o sério é insensato. Eles abrem os olhos para o maravilhoso, dissolvem o certo, desterram o medo e desatam os corpos. O poeta denuncia as crenças, desnuda as superstições, desperta as pessoas, atira cá para fora a força e a chama. As intimidações lançadas pela poesia, pela intuição e pela teoria ao avanço do dogma sobre o espírito serão capazes de conseguir uma revolução do despertar? Não é impossível. Mas, para que o equilíbrio do saber possa ser restabelecido é preciso que o Estado e a Igreja se separem, que a burocracia do bem-estar e a burocracia da verdade se dividam, que a acção política e o saber obrigatório fiquem diferenciados. As palavras poéticas não farão rebentar a sociedade senão metidas no molde do processo político.
[…] Após a Segunda Guerra Mundial a racionalização da produção penetrou nas regiões ditas atrasadas e as metástases industriais exerceram sobre a escola uma intensa procura de pessoal programado. A proliferação do bem-estar exige o condicionamento apropriado para viver nele. O que as pessoas aprendem nas escolas que se multiplicam na Malásia ou no Brasil é, sobretudo, a medir o tempo com o relógio do programador, a avaliar o progresso com os óculos do burocrata, a apreciar o consumo crescente com coração de comerciante e a considerar a razão do trabalho com os olhos do responsável sindical. Isto não é o professor quem o ensina, mas sim o percurso programado, produzido e, ao mesmo tempo, obliterado pela estrutura escolar. O que o professor ensina não tem nenhuma importância desde que as crianças tenham que passar centenas de horas reunidas por escalões etários, entrando na rotina do programa (ou currículo) para receber um diploma em função da respectiva capacidade de se submeterem a ele. O que aprendem eles na escola? Aprendem que quanto mais horas lá passem, mais valem no mercado. Aprendem que tudo quanto uma instituição dominante produz tem um valor e custa caro, mesmo o que não se vê, tal como a educação e a saúde. Aprendem a valorizar a promoção hierárquica, a sujeição e a passividade e até o desvio-tipo, que o professor interpretará como sintoma de criatividade. Aprendem a solicitar disciplinadamente os favores do burocrata que preside às sessões quotidianas: na escola, o professor; na fábrica, o patrão. Aprendem a definir-se como detentores de um lote de conhecimentos na especialização em que investiram o tempo. Aprendem, por fim, a aceitar sem revolta o seu lugar dentro da sociedade, ou seja, a classe e a carreira exactas que correspondem respectivamente ao nível e ao campo de cada especialização escolar.
[…] À medida que a escola alarga o campo das suas especializações, outros serviços nela descobrem a missão educadora. A imprensa, a rádio e a televisão já não surgem unicamente como meios de comunicação, desde que foram deliberadamente postas ao serviço da integração social. Os semanários que desfrutam de expansão, ao encherem-se de informações esteriotipadas, convertem-se em produtos acabados, fornecendo completamente embalada uma informação já filtrada, asséptica, pré-digerida. Esta "melhor" informação suplanta a antiga discussão no forum; a pretexto de informar, suscita um apetite dócil por alimentos já preparados e mata a capacidade natural de seleccionar, dominar e organizar a informação. Oferecem-se ao público algumas vedetas ou alguns especialistas vulgarizados pelo embalador do saber e reduz-se a voz dos leitores à correspondência ou às respostas aos inquéritos, por eles enviadas docilmente.
[…] Quanto às oposições que pretendam alcançar o controlo das instituições existentes, isso confere a estas uma legitimidade de um novo género, exacerbando-se ao mesmo tempo as contradições. Mudar a equipa dirigente não é uma revolução. Que significa o poder dos trabalhadores, o poder negro, o poder das mulheres ou o dos jovens senão o poder de tomar o poder estabelecido? Um tal poder é, no máximo, o de dirigir melhor o crescimento, assim posto em condições de prosseguir o seu curso glorioso, com tão providenciais tomadas de poder. A escola, quer nela se ensine marxismo, quer fascismo, reproduz uma pirâmide de classes de falhados. O avião, ainda que possa ser acessível a um trabalhador por ocasião das férias, reproduz a hierarquia social com uma primeira classe para gente que juga o seu tempo mais precioso do que o dos outros. […]»

[in A Convivencialidade: Lisboa, trad. Arsénio Mota, Publicações Europa-América, 1976]

http://frenesi-livros.blogspot.com/2008_04_20_archive.html

H.THOREAU - FRASE

"(...)muito melhor seria sentar ao ar livre, pois a poeira não se acumula sobre a grama, a não ser nos trechos em que o homem arrancou-a do solo."

H.Thoreau - A Vida nos Bosques

Karl Marx- :" O Capital" Volume 1 - Parte I - SECÇÃO 4 "O Fetichismo da Mercadoria e o Seu Segredo (MULTIMANIFESTO)


A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostrámos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas. Enquanto valor-de-uso, nada de misterioso existe nela, quer satisfaça pelas suas propriedades as necessidades do homem, quer as suas propriedades sejam produto do trabalho humano. É evidente que a actividade do homem transforma as matérias que a natureza fornece de modo a torná-las úteis. Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter os pés no chão; face a todas as outras mercadorias, apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar.24

O carácter místico da mercadoria não provém, pois, do seu valor-de-uso. Não provém tão pouco dos factores determinantes do valor. Com efeito, em primeiro lugar, por mais variados que sejam os trabalhos úteis ou as actividades produtivas, é uma verdade fisiológica que eles são, antes de tudo, funções do organismo humano e que toda a função semelhante, quaisquer que sejam o seu conteúdo e a sua forma, é essencialmente um dispêndio de cérebro, de nervos, de músculos, de órgãos, de sentidos, etc., do homem. Em segundo lugar, no que respeita àquilo que determina a grandeza do valor - isto é, a duração daquele dispêndio ou a quantidade de trabalho -, não se pode negar que essa quantidade de trabalho se distingue claramente da sua qualidade. Em todas as épocas sociais, o tempo necessário para produzir os meios de subsistência interessou necessariamente os homens, embora de modo desigual, de acordo com o estádio de desenvolvimento da civilização.25 Enfim, desde que os homens trabalham uns para os outros, independentemente da forma como o fazem, o seu trabalho adquire também uma forma social.

Donde provém, portanto, o carácter enigmático do produto do trabalho, logo que ele assume a forma-mercadoria? Evidentemente, dessa mesma forma. A igualdade dos trabalhos humanos adquire a forma [objectiva da igualdade] de valor dos produtos do trabalho; a medida do dispêndio da força de trabalho humana, pela sua duração, adquire a forma de grandeza de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as relações entre os produtores, nas quais se afirmam as determinações sociais dos seus trabalhos, adquirem a forma de uma relação social dos produtos do trabalho. (...)

CONTINUE LENDO EM :http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap01.htm#c1s4

ENTENDA O CAPITALISMO!! CONHEÇA "O CAPITAL" - "ANTES QUE O MUNDO ACABE" OU "ANTES QUE A HUMANIDADE SE AUTO DESTRUA" (MULTIMANIFESTO)

O Capital
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Capital (em alemão: Das Kapital) é um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx como crítica ao capitalismo (crítica da economia política). Muitos consideram essa obra o marco do pensamento socialista marxista. Nesta obra existem muitos conceitos econômicos complexos, como mais valia,capital constante e capital variável, uma análise sobre o salário; sobre a acumulação primitiva, resumindo, sobre todos os aspectos do modo de produção capitalista, incluindo uma crítica exemplar sobre a teoria do valor-trabalho de Adam Smith e de outros assuntos dos economistas clássicos.(...)

O Capital

[editar] Livro 1 - o processo de produção do capital 1867

Único dos Livros lançado em vida por Marx e que por isso se beneficiou de refinamento de estilo, melhorias entre edições, acréscimos de posfácios do próprio autor e lançamentos das versões Alemã, Inglesa, Russa e Francesa (levemente distintas, apesar da 4° edição Alemã 1893 ser considerada a versão definitiva devido às correções de Engels e Eleanor Marx e por isso comumente usadas para a tradução para outras línguas).

[editar] Livro 2 - o processo de circulação do capital 1885

Publicado após a morte de Marx, ficando a edição a cargo de Engels. A diferença no estilo dos Livros 2° e 3° em relação ao 1° fazem com que alguns aleguem sua escrita a Engels, . Embora os Livros 2 e 3 tenham sido dedicados à esposa de Marx, Jenny, cogitou-se dedica-los a Darwin. Engels, no túmulo de Marx, disse Darwin mostrou a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, e Marx a da natureza humana.

[editar] Livro 3 - o processo global da produção capitalista 1894

Com a publicação desse 3° Volume Engels termina a tarefa de tornar público a teoria econômica de Marx ao conjunto do sistema capitalista. Em algumas partes ele relata que teve de preencher as lacunas como um co-autor, mas que identificou os tais acréscimos para que não houvesse dúvidas quanto a o que Marx queria dizer. Porém críticos disseram haverem problemas e lacunas, o que ainda hoje é tema de debates e uma das maiores lamentações quanto ao fato de o autor ter morrido antes da conclusão de sua obra máxima.

O problema mais comummente apontado é "o problema da transformação" (ver explicação resumida na ligação externa que leva ao texto de Callinicos).

Rosa Luxemburgo foi uma das autoras que admiraram o Livro 3 e tentou preencher algumas das lacunas de O capital no seu livro "Acumulação do Capital"

[editar] Livro 4 - Teorias da mais valia 1905

Karl Kautsky, após morte de Engels, e já no século XX, publica o 4° Livro, que são os comentários de Marx a outros autores de Economia Política. O Livro 4 é o menos conhecido justamente por ter sido publicado após a explanação da teoria econômica marxista por Marx e Engels. Acrescente a isso o agravante de Kautsky ter optado por publicar invertendo o título e subtítulo: "Teorias da Mais-Valia - A história crítica do pensamento econômico (Livro 4 de O capital)". Por causa disso, mesmo na coleção de traduções de Sant´Anna recebeu numeração do volume em separado (os Livros 1 a 3 são divididos em volumes numerados de I a VI, e Teorias da Mais-Valia começam do Volume I ao III, quando poderiam ter sido numerados como os volumes VII, VIII e IX de O Capital).

Esse material é de leitura interessante por incluir considerações sobre outras teorias do valor e de fontes que podem ter sido inspiração para as críticas dos antagonismos de classe (desde os que negavam o antagonismo, os que reconheciam mas negavam exploração de classe, os que ficavam ao lado dos oprimidos, e até mesmo os que defendiam a opressão sem dissimular), entre outras considerações não abordadas nos demais livros (como a questão do trabalho produtivo e improdutivo).

[editar] Capítulo VI inédito de O Capital

Excluído por Marx do plano de publicar junto com o Livro 1, é estudado atualmente por conter notas de transição do Livro 1 e Livro 2 (depois que a mercadoria é produzida, ela tem de circular). A numeração do Capítulo 6, excluído, mostra que a exclusão se deu antes da publicação, já que ao longo de edições a numeração e divisão do Livro em partes foi bastante mudada, provavelmente para não cansar o leitor com capítulos demaziadamente longos, um bom exemplo é o capítulo 1 da 1° edição que se transoformou em parte 1, subdividido em 3 capítulos.

LEIA MAIS EM : http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital

VOLUME UM : http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/index.htm

CONHEÇA!!! - "ANTES QUE O MUNDO ACABE" OU "ANTES QUE A HUMANIDADE SE AUTO DESTRUA" (MULTIMANIFESTO)

conheça seu corpo,
reconheça a necessidade de
aprender a lidar com as frustrações,
frustre seus filhos,
não exagere satisfazendo os desejos de seus filhos!
eles precisam aprender com as frustrações!
o excesso de brinquedos, e celulares...
atrapalha tudo!
atrapalha a educação de seu filho,em primeiro lugar!
em segundo atrapalha a economia de sua casa,
muitas famílias colocam em segundo plano a alimentação equilibrada,
em prol do consumo de bugigangas tecnológicas!
as duas coisas desequilibram o meio ambiente!
lembre mo-nos do caso do Japão,
as montanhas de lixo tecnológico neste país são assustadoras!
Se as famílias deixam de se alimentar de forma mais natural,
contribuem para o aquecimento global!
a futilidade, o jovem volúvel que entra nesta doença consumista,
torna-se um ser humano que passa a sentir que vale pelo que possui,
e não por aquilo que é!!
o ser e o ter,entram em conflito graças ao capitalismo selvagem!
em nosso país o provincianismo é alimentado por este tipo
de consumo exagerado e sem sentido!
os pais precisam reconhecer urgentemente que as crianças
precisam mesmo desenvolver sua criatividade, sua
capacidade de resolver problemas que
aparentemente possuem saídas impossíveis!
a publicidade contribui em muito para esta mentalidade totalmente equivocada!
há uma verdadeira inversão de valores neste caso!
os pais é que passam a obedecer seus filhos!
e o pior, os filhos que estão atordoados pela comunicação de massa,
sentem-se abandonados por seus pais, que agem com total alienação e idiotice!
o nosso cerne provinciano precisa urgentemente ser reconhecido por nós!
precisamos perceber que por causa dele estamos virando o povo mais
idiota do mundo!
quando entenderemos que um povo de verdade conhece sua identidade,
e reconhece que sem verdadeira cidadania, nunca deixaremos de ser
um povinho de ultima categoria! e leia-se povinho, um aglomerado de pessoas
sem nenhuma determinação humana! simplesmente um aglomerado de idiotas!
ANTES QUE O MUNDO ACABE !!! RECONHEÇA SUAS PRÓPRIAS IDIOTICES!
RECONHEÇA QUE SÓ ENXERGAR EFEITOS E NEM QUERER CONHECER AS CAUSAS,
É SER MESMO UM POVO INVOLUÍDO!! NEM SUBDESENVOLVIDO!! MAS INVOLUIDO MESMO!!

NADIA STABILE - 17/12/08

*este texto foi motivado por um vídeo no blog de Luiz de Campos
http://decostasparaalousa.blogspot.com/2008/11/criana-alma-do-negcio.html
e por outro amigo que luta pela causa da ecologia , o Beto.
Agradeço aos dois! Afinal, aprender a ser cidadã, depende da cooperação de todos!
sem isto , não chegaremos a lugar algum!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

FRASE DE KARL MARX - MODOLINKAR COM O BLOG "APONTAMENTOS ACERCA DA PUTA QUE PARIU A ARTE" (clique aqui)


MICHEL FOUCAULT - A MULHER/OS RAPAZES,DA HISTÓRIA DA SEXUALIDADE - LIVRO



Foucault, Michel. A mulher / os rapazes: História da sexualidade (extraído da História da sexualidade v. 3); trad. de Maria Theresa da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997 - (coleção Leitura)

Foucault examina, nos dois textos extraídos do volume terceiro da sua obra "História da sexualidade", a formulação do saber sobre as relações de amor e de sexo, a compilação e a evolução do pensamento humanístico acerca dos relacionamentos heterossexuais e homossexuais, a partir da Grécia Antiga.

É de se observar que tais temas permaneceram encobertos durante a Idade Média e a Idade Moderna, pela força da moral cristã e de seus rígidos regramentos, e volta à tona com a dissipação dos valores da era pós-contemporânea, onde a família não se situa mais como forma de organização social imprescindível ao novo modelo econômico de produção.

No primeiro texto, Foucault investiga os benefícios e prejuízos do vínculo conjugal, à luz dos problemas relativos à virgindade, à simetria e reciprocidade de direitos e deveres entre marido e mulher, ao compromisso de solidariedade, ao monopólio do sexo e à forma pela qual os prazeres do casamento deveriam se desenvolver, dado que este era considerado necessário para o desenvolvimento do afeto, sendo, no entanto, repudiado seu excesso, assim como o adultério, reputado uma quebra do afeto e do comprometimento de vida una.

Tais elementos foram retirados de textos de Aristóteles, Platão, Plutarco, Sêneca e Musonius Rufo, sendo evidente que o filósofo se absteve de ingressar nos detalhes da relação conjugal tal como prescrita pela pastoral cristã, que recrudesce diversas das prescrições da moral greco-romana e se imiscui inclusive na forma como deve se desenrolar a relação sexual dentro do casamento.

No segundo texto, Foucault analisa a postura greco-romana sobre o amor homossexual a partir de diálogos filosóficos nos textos de Platão, Plutarco e Pseudo-Luciano. Partindo-se do questionamento acerca de qual amor seria o mais verdadeiro e casto, se o homossexual ou o heterossexual, chega-se à primeira conclusão que o amor seria uma manifestação única da caridade (charis) e, posteriormente, a par das críticas feitas pelos partidários do amor entre rapazes, Plutarco identifica imperfeições que transformariam o amor entre homens em uma classe menor de afeto.

Sobreleva, na discussão filosófica, a reflexão sobre o caráter impositivo da atração que um homem sente por uma mulher, dado que esta seria decorrente da premência da própria natureza, enquanto a afeição de um homem por outro seria um sentimento tardio, uma elevação das necessidades satisfeitas rumo a um plano elevado de curiosidade e saber, no exato momento em que os homens, após aprenderem tantas habilidades úteis, começam a não negligenciar mais nada em sua pesquisa.

Interessante notar como o tema é profundamente discutido desde a Antigüidade e, tendo se tornado tabu por diversos séculos, retorna à baila diante das novas configurações possíveis de arranjos de convivência, onde não há mais a exigência do modelo tradicional familiar ou, aliás, o modelo tradicional familiar é visto como empecilho à realização completa da felicidade do homem, esta pregada como finalidade última do ser humano pelas rígidas exigências do mercado de trabalho e da atual sociedade de consumo.

http://paulacajaty.com/index.php?option=com_content&task=view&id=208&Itemid=32

CAMINHE!! ANTES QUE O MUNDO ACABE!!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

ESTAMIRA - A MULHER,O LIXO E O MITO - FILME





Estamira, de Marcos Prado
(Brasil, 2004)

por Cléber Eduardo


A mulher, o lixo e o mito

Talvez desconfiado de sua própria autoridade como revelador de verdades quaisquer (sobre pessoas, ambientes, momentos históricos), o documentário em geral (e o brasileiro em particular) tem evitado, em linhas gerais, colocar-se como uma postura do saber sobre qualquer coisa. Isso ajuda a explicar, ainda que parcialmente, a necessidade de se dar voz ao outro, em geral pessoas de vida modesta, não midiáticas, que passam a exercer a tarefa de “sabedoria popular”, modelada pelas experiências empíricas.

Senhora com distúrbios mentais, que vive de um lixão na Grande Rio (Duque de Caxias, especificamente), Estamira, em seus acessos nervosos, vocifera contra Deus, contra a alienação dos seres humanos pela religião e pelos remédios (“dopantes”), contra uma suposta sociedade de controle, estruturada para calar a voz e os pensamentos dos rebeldes (ela). Em sua retórica irada e em suas manifestações alucinadas, Estamira, sempre dizendo-se a reveladora da verdade, demiurga consciente de seu grau de perturbação, revela aguda coerência em suas análises intensas – uma marxista naif com discurso messiânico. A proclamação da verdade está com ela e, devido ao espaço dado à suas frases no filme, há um interesse por essa verdade.

A verdade resgatada pelo diretor Marcos Prado, na fala de Estamira, é a verdade desmistificadora das verdades, sustentada pela desconfiança das falsas retóricas, dos mecanismos produtores de ilusão, das religiões, do consumo, da publicidade. É uma verdade empenhada em acordar o ser humano, tirar a venda de seus olhos, com a força de uma crueldade ao mesmo tempo mítica e iluminista, certamente medieval em seu espírito paradoxal, certamente épica, poética e religiosa em seu ateísmo ritualístico, em sua expressão verbal cifrada, em sua narratividade vomitada. Estamira, o filme, transfere assim a “voz do saber” para o “discurso anômalo” – mais autêntico, menos controlado, sem filtros ou coletes em seu duelo com as feridas da vida. A franqueza permeada de ódio é depositária de algo sagrado, com seu discurso não formatado e não negociado com as convenções do pensamento dominante.

Existe algum tipo de ligação entre Estamira e outros documentários recentes – A Pessoa é para o Que Nasce, de Roberto Berliner, A Alma do Osso, de Cão Guimarães, O Fim e O Princípio, de Eduardo Coutinho, e Moacyr Arte Bruta, de Walter Carvalho. Temos nesses trabalhos aproximações, de maneiras distintas, com figuras dotadas de certa “inspiração”, vistas como seres especiais, que se distinguem por algum tipo de anomalia (orgânica ou social). Esses seres, transformados em personagens, carregariam em suas palavras (e em seu estar no mundo) algum tipo de sabedoria autista, que os torna sagrados ou superiores aos olhos dos realizadores. Talvez porque sejam vistos em outra dimensão (etérea), menos contaminados pelas formatações de subjetividade e mentalidade do capitalismo, mais capazes de serem originais, porque pensam a partir da experiência empírica e não a partir das representações das experiências. Registrá-los parece ser uma maneira de preservá-los enquanto imagem, como se tenta preservar espécies em extinção.

Só que, entre ver nessa figura humana apenas um sinal de uma conjuntura social (saída fácil) e representar seu universo real e imaginário como um mito, Marcos Prado opta pelo segundo caminho, preferindo tratar o lixão menos como espaço sintético de resíduos humanos, de margem do capital, e mais como cenário medieval de uma subjetividade apocalíptica e fabular, que encara o depósito de dejetos como ambiente de resistência (não de opressão ou de abandono). Nesse sentido, Estamira, o filme, adere a Estamira, a mulher fora do filme, saindo do registro de denúncia para o registro do mito lírico. Pode-se até detectar algo da estrutura social e cultural na vida de Estamira (como sua relação com o sistema de saúde pública e sua paranóia com câmeras escondidas – uma ironia com o espírito do observacional), mas não é a sociedade que interessa a Marcos Prado. O objeto esculpido por sua narrativa é a subjetividade verbalizada de Estamira, o funcionamento de seu mecanismo mental, a força inquebrantável de sua resistência e de suas convicções. Uma mulher que não se dobra.

Esse rumo torna compreensível a busca permanente pelo enquadramento bem composto, pelos momentos de poesia com o espaço putrefato, explícito nas imagens em preto e branco granulado (primas do Nesse Mundo, de Michael Winterbotton). O filme abusa dos efeitos obtidos na finalização (nos cortes, na música, na função do som), na construção de uma atmosfera cinematográfica que, em vez de captar o real sem filtros, apodera-se dessa realidade enfocada para se estabelecer como obra pictórica. Estamira não é estética do lixo, mas o lixo estetizado, tornado imagem quase irreal, lírico em sua agressividade.

É verdade que esse lirismo, possível na imagem, talvez seja inviável “in loco”. A imagem não cheira, não suja os sapatos, não oferece riscos de doença, nem o perigo de, à noite, promover um encontro entre nós e algum rato. Essas limitações tornam possível o embelezamento plástico e a sedução de nossa sensorialidade, protegidos contra o compartilhamento da experiência vivida pelo realizador na captação. Embora ouça as verdades de Estamira contra as falsas verdades, Marcos Prado não quer a imagem verdadeira, chocante, cruel e desconfortável, mas uma verdadeira imagem de cinema, com suas manipulações, formalismos e atenuações da experiência real.

Estamos em um observacional calcado na performance de sua protagonista-atração, em busca do espetáculo visual e narrativo extraído da miséria social e da presença cênica de sua personagem. Não vemos aqui uma escancaramento do encontro entre realizador e a pessoa filmada, marca predominante da produção documental brasileira, especialmente após Santo Forte, de Eduardo Coutinho (certamente um filme-marco para o documentário dos anos 90-00). Essa opção pelo olhar sem o ponto de vista assumido de quem filma, sem a experiência de quem é de fora do espaço filmado, sem o choque de culturas e experiências entre diretor e personagem, em alguma medida, já demonstra um objetivo estratégico de Estamira: expor o resultado de um processo (sobretudo seus efeitos dramáticos-estéticos), e não o processo pelo qual se chegou a esse resultado.

Para ser compreendido em seus procedimentos, Estamira exige de quem o analisa uma reflexão sobre a ética da imagem, de modo a não vetarmos a proposta do filme baseados em critérios que, antes de serem estéticos, estão comprometidos com um programa de proibições imposto ao documentário. Existe um desejo um tanto voraz, e nem sempre coerente (do qual não excluo alguns de meus textos), em relação ao estabelecimento de regras nessa atividade. Parte da produção tem sido avaliada por meio de delimitações sobre o “permitido” e o “proibido” na relação das imagens com pessoas reais. Para que melhor se discuta o filme, é muito importante evitarmos esse risco – ainda que não sem levá-lo em conta.


editoria@revistacinetica.com.br
http://www.revistacinetica.com.br/estamira.htm

"A mulher eunuco", de Germaine Green - LIVRO

11 de novembro de 2007

Parte da segunda onda feminista,"A mulher eunuco", 1970, tornou a autora, Germaine Green, conhecida mundialmente. De forma pioneira, descreve ligações sobre o relacionamento sexual entre homens e mulheres e a dominação sexual (bandeira do movimento feminista).
Para Greer, a diferença entre os sexos foram exageradas ao longo da história e o papel que cada um exerce é fruto de um aprendizado "planejado pelos homens" e exigidos por uma sociedade de família "nuclear, suburbana e consumista", segundo a própria autora.

Inicia falando do corpo, porque acredita que as mulheres devem aprender como discutir as mais básicas suposições à normalidade feminina. Assim, começa nas células e diferenças cromossômicas, segue-se uma discussão dos efeitos do comportamento sobre o esqueleto e as curvas - tão essenciais para suposições do sexo feminino, finaliza com cabelo e sexualidade. Trata do mito do Eterno Feminino, também chamado Estereótipo e de todos os condicionamentos que fazem parte deste processo. Também das relações reconhecidas pela sociedade, como casamento-emprego.
Reivindica a liberdade. Pressupõe que seu livro ficará preso pelos moralistas e políticos conservadores. Considera que as mulheres são "o verdadeiro proletariado, a maioria verdadeiramente oprimida" e que a "revolução só pode ficar mais perto com a retirada o apoio delas ao sistema capitalista". Para a autora, a mulher é "o verdadeiro eunuco" da humanidade.

Sobre a autora

Australiana, Germanaine Greer, nasceu no subúrbio de Mentone. Envolveu-se com um grupo libertário de intelectuais de esquerda em Sidney e em Cambridge participou da revista satírica OZ, assinando os textos com o pseudônimo Dr. G.
Concluiu o doutorado em 1968, subordinando às primeiras peças de W. Shakespeare. Em 1970, publicou "Mulher Eunuco" (The Female Eunuch).

Em 1989, torna pública a transexualidade da física Rachel Padman, episódio que torna Greer conhecida por sua transfobia, especialmente contra mulheres transexuais.
A última polêmica foi em 2005 quando participou do Big Brother por cinco dias, saindo do programa devido à produção de assédio e criticando os outros participantes pela busca desesperada de protagonismo.

Título: A Mulher Eunuco
Autor: Germaine Greer
Gênero: Sexualidade
Editora: Círculo do Livro
Idioma: Português
http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=1469.

EM 1999 COLÓQUIO CELEBROU OS 50 ANOS DE "O SEGUNDO SEXO" LIVRO DE SIMONE DE BEAUVOIR

Colóquio celebra 50 anos de 'O Segundo Sexo'
(publicado em 23/01/1999)

MARIANA SGARIONI
De Paris

Começou na última terça-feira, em Paris, um colóquio internacional para celebrar os 50 anos do livro "O Segundo Sexo", obra da romancista e ensaísta francesa Simone de Beauvoir sobre a condição das mulheres na sociedade. O trabalho provocou polêmica quando foi lançado, em 1949.

O colóquio, que deve reunir até hoje cerca de 130 intelectuais e estudantes de todo o mundo, é organizado pela socióloga Christine Delphy e pela historiadora Sylvie Chaperon, especialista no conjunto da obra da ensaísta francesa.

"O Segundo Sexo" foi uma das principais bases para o feminismo contemporâneo, movimento do qual Beauvoir participou intensamente. A frase "Nós não nascemos mulher, e sim nos tornamos mulher" inspirou as gerações de mulheres que lutaram pela igualdade com os homens nos anos 70.

"Beauvoir ousou descrever sem eufemismo a sexualidade das mulheres. Ela falava em clitóris, vagina, menstruação e prazer feminino em plenos anos pós-Guerra", disse a historiadora Michelle Perrot ao jornal francês "Libération".

O ensaio, que mostrava de maneira filosófica a opressão das mulheres pelos homens partindo da sexualidade, acabou acarretando uma curiosa união: direita e esquerda francesa se aliaram para tentar demolir a obra.

Considerado por alguns um texto revolucionário e a bíblia do feminismo e, para outros, um livro abominável e degradante, não há dúvidas de que, até hoje, muitas mulheres tomam "O Segundo Sexo" como referência.

Simone de Beauvoir morreu em 1986 e tinha acabado de completar 40 anos de idade quando lançou o ensaio. Ela já tinha escrito dois outros romances de destaque: "O Convidado" (1943) e "O Sangue dos Outros" (1945).

A ensaísta foi companheira de Jean-Paul Sartre desde 1929 e suas obras expressam a filosofia existencialista que os dois partilhavam. Sua união com o intelectual fazia dela um personagem que despertava ou admiração, ou violentos ataques.

http://biblioteca.folha.com.br/1/23/1999012301.html.

A invenção do clitóris - "O ANATOMISTA" livro

20 Julho 1997
A invenção do clitóris
'O Anatomista' narra como Mateo Colombo descobriu o pequeno órgão feminino


Se você tiver o projeto de ler só um livro neste inverno, leia, então, "O Anatomista", de Federico Andahazi (Ed. Relume-Dumará, excelente tradução de P. Wacht e A. Roitman). Gostou de "O Nome da Rosa", de Umberto Eco? Adorará "O Anatomista". Acha "O Nome da Rosa" um pouco devagar, comprido demais e prefere o filme? Melhor ainda: "O Anatomista" é leve, rápido, ágil.
O livro chega ao Brasil já famoso, ajudado por um escândalo. Ganhou na Argentina o prêmio Fortabat. A senhora Fortabat não gostou da decisão do júri, pagou o prêmio, mas recusou-se a associar seu nome ao romance. Certo, o texto tem momentos eróticos, e supõe um papa, no século 16, satisfeito em recuperar a saúde graças ao sangue de meninas degoladas. De qualquer forma, a reação fortabatiana produziu um eco da própria história contada no romance, no qual o anatomista lida com censura e inquisição. Andahazi virou, assim, matéria do "New York Times", pulou para a lista dos mais vendidos na Argentina e seu livro foi comprado pela editora Doubleday por US$ 200 mil _recorde para uma obra sul-americana de autor estreante. O cinema já se interessa.

Mas, enfim, qual é a história? Trata-se de Mateo Realdo Colombo, anatomista italiano da Renascença que publicou em Veneza, em 1559 _ano presumido de sua morte_, um tratado de anatomia: "De Re Anatomica" (como informação: em todas as bibliografias, ele aparece como Realdo e não Mateo). O livro teve numerosas edições e foi influente. Colombo (que não era parente do navegador) entrou para história por uma intuição sobre a circulação do sangue e pela descoberta do clitóris: "O órgão que governa o amor nas mulheres". Armado dos poucos dados biográficos, Andahazi inventa e conta esta extraordinária aventura do anatomista italiano.
Antes de mais nada, a própria idéia de que haja uma descoberta do clitóris pode parecer estranha: como é possível que ela seja tão recente? Ou mesmo que venha a ser uma descoberta? Será que as próprias mulheres não conheceriam desde sempre seu corpo?
(...)
LEIA NA ÍNTEGRA EM :
http://contardocalligaris.blogspot.com/1997/07/inveno-do-clitris.html.

"MARCELINO FREIRE" - CRISTÃO - POESIA


Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga, na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa, como todo grande amor, a sua marca.

Amor é o tiro que deram no peito do filho da dona Madalena. E o peito do menino ficou parecendo uma flor. Até a polícia chegar e levar tudo embora. Demorou. Amor que mata. Amor que não tem pena.

Amor é você esconder a arma em um buquê de rosas. E oferecer ao primeiro que aparecer. De carro importado. De vidro fumê. Nada de beijo. Amor é dar um tiro no ente querido se ele tentar correr.

Amor é o bife acebolado que a minha mulher fez para aquele pentelho comer. Filhinho de papai, lá no cativeiro. Por mim, ele morria seco. Mas sabe como é. Coração de mãe não gosta de ver ninguém sofrer.

Amor é o que passa na televisão. Bomba no Iraque. Discussão de reconstrução. Pois é. Só o amor constrói. Edifícios. Condomínios fechados. E bancos. O amor invade. O amor é também o nosso plano de ocupação.

Amor que liberta, meu irmão. Amor que desce o morro. Amor que toma a praça. Amor que, de repente, nos assalta. Sem explicação. Amor salvador. Cristo mesmo quem nos ensinou. Se não houver sangue, meu filho, não é amor.

Henry David Thoreau - FRASES

Henry David Thoreau (Concord, 12 de julho de 1817 - 6 de maio de 1862); foi um escritor norte-americano.

* "Sob um governo que prende injustamente, o lugar de um homem justo é também na cadeia"

- Under a government which imprisons any unjustly, the true place for a just man is also a prison

- Henry Thoreau; "Walden" - Página 592; de Henry David Thoreau, Will H. Dircks, Richard Whiteing - Publicado por Plain Label Books, 1906 ISBN 1603037470, 9781603037471 - 619 páginas

* "Eu não tenho dúvidas de que é parte do destino da raça humana, na sua evolução gradual, parar de comer animais, tal como as tribos selvagens deixaram de se comer umas ás outras quando entraram em contacto com os mais civilizados."

- Walden ou A vida no bosque, Capitulo 11

* "A não ser quando nos perdemos, ou em outras palavras, quando perdemos o mundo, é que começamos a nos descobrir e perceber onde estamos e o infinito alcance de nossas relações."

- Walden ou A vida no bosque

* "O melhor governo é aquele que menos governa (...) e quando estivermos preparados para isso, serei a favor de um governo que não governa".

- Fonte: "Desobediência Civil"

* "Ás vezes, penso: ora, essas pessoas são bem intencionadas, mas são ignorantes."

- Fonte: "Desobediência Civil"

* "Não brigo com inimigos distantes mas com aqueles que, aqui perto, cooperam com os que estão longe e cumprem suas ordens, e sem os quais os últimos seriam inofensivos."

- Fonte: "Desobediência Civil"

* "Somos vulgares, incultos e analfabetos; e, em relação a isso, confesso que não faço maiores distinções entre o analfabetismo de meus concidadãos que não aprenderam a ler e o que aprendeu a ler somente aquilo que se destinam às crianças e aos intelectos medíocres."

- Fonte: "Leituras", extraído de "Walden"

* "Os homens, em sua maioria, aprenderam a ler para satisfazer a uma mesquinha conveniência, assim como aprenderam a calcular a fim de organizarem sua contabilidade e não serem enganados no comércio, mas sabem pouco ou nada a respeito da leitura como um nobre exercício intelectual. Contudo, num sentido elevado, a leitura é exatamente isso, não o que nos acalenta como um luxo e faz adormecer nossos mais nobres sentidos, mas o que nos coloca em alerta e a que dedicamos nossas horas mais intensas."

- Fonte: "Leituras", extraído de "Walden"

* "Não basta uma informação de como ganhar a vida simplesmente com honestidade e honra, mas que tal ato seja atraente e glorioso, pois se ganhar a vida não for atraente e glorioso não é a vida que se ganha."

- Fonte: "A Vida Sem Princípios"

* "A comunidade não tem suborno capaz de tentar um homem sensato. É possível levantar dinheiro suficiente para perfurar um túnel numa montanha, mas não é possível levantar dinheiro suficiente para contratar um homem que se ocupe com a sua própria vida. Um homem eficiente e valoroso faz o que pode, quer a comunidade lhe pague ou não. Os ineficientes oferecem a sua ineficiência a quem pagar mais, e sempre anseiam por uma colocação. Seria de se supor que eles raramente ficassem desapontados."

- Fonte: "A Vida Sem Princípios"

* "Cada pôr-do-sol que vejo me inspira o desejo de partir para um oeste tão distante e belo quanto aquele onde o sol sumiu."

- Fonte: "Caminhando"
http://pt.wikiquote.org/wiki/Henry_David_Thoreau

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