http://revistas.unipar.br/akropolis/article/view/1917/1667
Anais da XI semana de Pedagogia e I Encontro de Pedagogos da Região Sul Brasileira da UNiPAR
TECNOLOGIA, TECNOLOGIA EDUCACIONAL E NOVAS TECNOLOGIAS
Vivianne Augusta Pires Simões (UNIPAR)
RESUMO:Dentre os diferentes conceitos disponíveis na literatura sobre o que vem a ser tecnologia entendemos que aqueles que explicitam o seu caráter histórico-social e, portanto, seu caráter de classe, são os que expressam de forma mais ampla e com função crítica o significado da tecnologia. Verificamos que os autores que adotam essa posição compreendem a relação intrínseca
que se estabelece entre a tecnologia e o trabalho enquanto prática social dos seres humanos na busca de construção do seu
mundo.
PALAVRAS-CIIAVES: Tecnologia, Tecnologia Educacional, Novas Tecnologia.
Embora, para muitos, a Tecnologia Educacional possa
ser considerada uma "novidade" em educação, este assunto não
é recente e vem se desenvolvendo há muito tempo. Existem
vários mitos que cercam o uso das tecnologias na área
educacional e muitas questões ainda estão sem respostas.
Afirma Bastos ( 1997) que a educação no mundo de hoje
tende a ser tecnológica, o que por sua vez, vai exigir o
entendimento e interpretação de tecnologias. Como as
tecnologias são complexas e práticas ao mesmo tempo, elas estão a exigir uma nova formação do homem que remeta à reflexão e compreensão do meio social em que ele se circunscreve.
O autor ressalta que esta relação entre tecnologias,
tecnologias educacionais, novas tecnologias está presente em
quase todos os estudos que tem se dedicado a analisar o contexto educacional atua!, vislumbrando perspectivas para um novo tempo marcado por avanços acelerados.
No processo educacional, o que se pretende alcançar é
que o indivíduo seja capaz de obter conhecimentos, construí-
los através de uma atitude reflexiva c questionadora. Dessa forma para viver a era tecnológica é necessário que pensemos sobre os valores subjacentes ao indivíduo, que pode criar, usar,transformar as tecnologias, mas não pode se ausentar, nem
desconhecer os perigos, desafios e desconfortos que a própria
tecnologia pode acarretar.
O objetivo deste trabalho é discutir os significados da
tecnologia, tecnologia educacional e novas tecnologias por meio de um breve resgate histórico sobre o tema.
O trabalho foi dividido em três partes: na primeira parte
falaremos sobre os diferentes significados atribuídos à
tecnologia; na segunda parte faiaremos sobre a tecnologia
educacional por meio de um breve resgate histórico e por último discutiremos o que são as novas tecnologias e suas implicações na educação escolar.
Significados Atribuídos à Tecnologia
Lalande (1999) define tecnologia como o estudo dos
procedimentos técnicos, naquilo que eles têm de geral e nas
suas relações com o desenvolvimento da civilização.
Historicamente, tanto a tecnologia quanto a educação estão
fundamentadas na separação entre o saber e o poder, na
divisão social do trabalho. Nas relações capitalistas, os
proprietários dos meios de produção, ao reservarem para si e
para seus assessores a função da concepção, da organização
e do mando no processo produtivo, passam a controlar o
saber. As tarefas de execução (manuais) são atribuídas aos
trabalhadores (operários). Isso define concretamente a
separação entre a teoria e prática, a concepção e a operação,
entre o saber e o fazer. (KAWAMURA, 1990).
Para Kawamura (1990) tecnologia consiste no saber
(conhecimentos científicos aplicados à produção)
historicamente acumulado através da apropriação sistemática
dos conhecimentos intrínsecos à própria prática do trabalho.
As classes dominantes obtêm o controle do saber,
sistematizado nos padrões científicos e tecnológicos,
mediante a pesquisa e a elaboração científica do
conhecimento inserido nessa prática .
Tanto a produção científica e tecnológica, quanto os
demais conhecimentos estão organizados e difundidos
basicamente por instituições educativas e de pesquisa, tais
como escolas, centros culturais, meios de comunicação de
massa, e outras. Nelas, concentra-se o saber separado do
trabalho manual, consolidando-se a divisão entre a teoria e a
prática (KAWAMURA, 1990).
Atualmente não é necessário muito esforço para se
perceber as mudanças aceleradas que têm como base a ciência
e a tecnologia que vem ocorrendo mundialmente. Buscando
compreender, definir e produzir conhecimento a respeito dos
rumos desta sociedade tecnológica, muitos teóricos das
ciências humanas, como Marcuse (1967), Ferkiss (1972),
Fromm (1984), Morais (1978), Silva (1992), utilizaram
termos como "transição" e "revolução tecnológica" para
definir este momento histórico.
Ferreira (1986) esclarece, porém, que embora a
denominação revolução tecnológica já tenha se popularizado,
sendo amplamente utilizada, é necessário um certo cuidado
ao utilizar a palavra "revolução", visto que este termo indica
uma transformação radical nos conceitos científicos de uma
determinada época, e não um processo de ruptura social, já
que as modificações que as tecnologias têm trazido para os
vários aspectos das relações humanas sao grandes, mas nao
representam o fim do sistema capitalista e o início de um novo
modo de produção.
O processo de globalização e a nova base tecnològica
da sociedade são frutos de transformações produzidas no
próprio sistema capitalista e por ele utilizadas (FRIGOTTO,
1992; VILLA, 1995).
Como lembra Frigotto (1992) a tecnologia deve ser
entendida como resultado e expressão das relações sociais, e
as consequências desse processo tecnológico só podem ser
entendidas no contexto dessas relações. Esse autor considera
que o processo de tecnologização é inerente à busca do ser
humano por formas de construção do seu mundo.
Em nossa sociedade, as relações sociais são relações
entre classes sociais com diferentes interesses, poderes e
direitos. As tecnologias são, portanto, fruto do conhecimento
científico avançado aplicado à produção e à cultura, de maneira a atender aos interesses das classes dominantes.
Segundo Kawamura (1990), por serem dominantes,
esses grupos se apropriam do saber historicamente acumulado,
controlando sua sistematização, difusão c acesso.
Muitos teóricos das ciências humanas já buscaram
compreender, definir e produzir conhecimento a respeito dos
rumos da tecnologia.
A partir dos anos 60 iniciou-se uma vasta produção
teórica a respeito da "revolução tecnológica". Na tentativa de
entender e interpretar fenómeno, os autores discutiam o caráter positivo ou nocivo das tecnologia e suas consequências.
Faremos, a seguir, referência a alguns deles procurando com
isso explicitar seus diferentes pontos de vistas.
Marcuse (1967) defende um avanço orientado, pois
acredita que é necessário superar o momento em que a
tecnologia parece dominar o homem para que o crescimento
economico e social dê um salto qualitativo deixando de possuir
um caráter desumano.
Ferkiss (1972) aponta a incapacidade de a tecnologia,
sozinha, acabar com as desigualdades sociais do sistema
capitalista. Conclui ser necessária a criação de um homem
tecnológico em contraposição ao homem burguês da sociedade
industrial. Esse homem teria o controle de seu próprio
desenvolvimento com uma concepção plena do papel da
tecnologia no processo da evolução humana, "acostumado à
ciência e à tecnologia, dominando ambas ao invés de ser por
elas dominado" (p. 167).
Já Morais (1978) preocupa-se com a desigualdade de
distribuição dos benefícios da tecnologia e, mais ainda, com a
idéia de que todos os problemas podem ser resolvidos por ela.
Julga necessário uma reflexão crítica para despojar a tecnologia
da cultura industria!, gerando uma transformação verdadeira,
qualitativa, em que a criatividade humana sobressaia.
Fromm (1984) preconiza uma parada no
desenvolvimento por não considerar a tecnologia libertadora.
Para ele, a tecnologia só resolverá os problemas do mundo se
for posta a serviço da humanidade, e não usada apenas para
aumentar o poder de alguns grupos e nações.
Por sua vez Silva (1992) adota uma postura mais
otimista em relação às modificações imprimidas pelas
tecnologias. Este autor afirma que as tecnologias representam
transformações qualitativas na relação homem-máquina,
interferindo "no campo da força humana mental podendo
multiplicá-la e até mesmo substituí-la"(p. 5) em funções antes
exclusivas do homem.
Lévy (1993) acredita que a técnica é hoje uma categoria
de extremo interesse de estudo, pois é uma das responsáveis
por transformações no mundo humano. Para ele a memória
oral, a escrita, a imprensa e, agora, a informática são, ao mesmo tempo, produções e produtoras do conhecimento humano.
Caracteriza a atualidade como uma "época-limítrofe", ou seja,
uma transição entre a civilização baseada na escrita e na lógica por ela fundadas e desenvolvidas, e a civilização informática.
Já Parente (1993) descreve as tecnologias como
produtoras e produtos da subjetividade humana.
Bornheim ( 1995) refere-se a "pedagogia da máquina",
uma vez que, com a revolução industrial e a tecnologia mais
moderna, tem início um processo de robotização, pois o homem
passa a ser padronizado pela máquina, cujo comportamento e
dinâmica própria ele é forçado a assimilar.
Schaff (1995) aponta, além da microeletrônica, a
revolução da microbiologia e a revolução energética como bases
da produção tecnológica.
Como podemos observar, alguns estudiosos que
tentaram produzir conhecimento a respeito do crescente avanço
da tecnologia em diversos campos de atuação possuem uma
preocupação em comum: quais as ideias humanitárias de justiça
social e igualdade estão fundamentando o uso da tecnologia
no mundo? Outros, porém, percebem as tecnologias como
produtos e produtoras da subjetividade humana e sinalizam
para o caráter dialético desta relação homem/tecnologia que
expressa a própria dialética social.
A preocupação revelada pela maioria dos estudiosos
da área, em relação à democratização do acesso aos benefícios
das tecnologias, fundamenta-se na constatação da exclusão
como característica inerente ao sistema capitalista.
Essa característica leva à necessidade de reflexão a
respeito da intervenção da escola e do professor no sentido de
formar um homem que não assimile passivamente uma
formação social em que haja divisão entre os que pensam e os
que executam, os que produzem e os que usufruem, os que
têm uma relação ativa e participativa com o conhecimento e a
informação c os que lidam passivamente com eles.
Percebemos, a partir dos estudos desses autores, que
há basicamente duas formas de encarar a relação entre o homem
e as tecnologias por ele criadas. Alguns, como vimos, abordam
esta relação refletindo criticamente sobre a tecnologia como
instrumento humano com vistas ao ato de trabalhar a natureza
e a sociedade. Entendem, portanto, as tecnologias inseridas na
dinâmica das relações sociais. Por isso, discutem-a no conjunto das modificações que provocam no mundo do trabalho e não apenas nas possibilidades que ela abre para a produção de bens materiais.
Outros autores, no entanto, ocupam-se da discussão
acerca da tecnologia reduzindo-a a uma ferramenta da ação
humana. Tratam-na como simples avanço que interfere
positivamente na produção e, consequentemente, na vida
humana, porém não exploram o caráter contraditório das
relações que permeiam esse avanço. Além disso não discutem
quem são os incluídos e os excluídos nos avanços tecnológicos
ao longo da trajetória da humanidade.
Essas distintas posturas também se expressam quando
os temas se referem à Tecnologia Educacional e às Novas
Tecnologias em Educação. É isso que procuramos mostrar nos
próximos itens.
Tecnologia Educacional: Breve Resgate Histórico
Por volta dos anos 50 e 60 do século XX, a Tecnologia
Educacional era vista comò o estudo dos meios geradores de
aprendizagens.
Contudo, a presença da Tecnologia Educacional e a
discussão mais sistematizada sobre o assunto nas instituições
educacionais foi iniciada no Brasil a partir dos anos 60. A sua utilização naquele momento era fundada no tecnicismo, teoria pedagógica que, segundo Libâneo (1984), tinha como um dos principais objetivos formar mão-de-obra especializada para
atender às demandas do mercado de trabalho.
Para Frigotto (1984) a visão tecnicista da educação
responde à ótica economicista do ensino veiculada pela teoria
do capital humano e conslitui-se numa das formas de
desqualificação do processo educativo escolar.
Em relação à essa questão Saviani (1985) destaca que a
perspectiva tecnicista da educação emerge como mecanismo de
recomposição dos interesses burgueses na educação. O
tecnicismo se articula com o parcelamento do trabalho
pedagógico, decorrente da divisão social e técnica do trabalho
no interior do sistema capitalista de produção.
Importado dos Estados Unidos, o movimento tecnicista
significava uma teoria e uma prática em perfeita consonância
com a ideologia imposta pela elite de então (SAMPAIO &
LEITE, 1999).
A racionalidade e o cientificismo na educação serviam
de base para o planejamento educacional, que deveria eliminar
os elementos supérfluos e subjetivos, tendo como metas a
eficiência e a produtividade do sistema (FOGAÇA, 1990).
Esse modelo, que tentava levar à escola a forma de
organização industrial, tinha, como base o taylorismo c como
características "a formulação de objetivos comportamentais, a
racionalização entre meios e fins, a possibilidade de reprodução,a divisão do trabalho e o controle de qualidade",o que incentivou e impulsionou o surgimento de estratégias pedagógicas nas quais as tecnologias eram meios sempre presentes (MAZZI, 1981, p.25).
E nesse contexto que surge a área de Tecnologia
Educacional (TE) como um "valioso instrumento para o
atendimento das exigências da racionalidade e eficiência".
MAZZI (1981)
Na perspectiva tecnicista, fazer TE significava utilizar
instrumentos na educação "sem questionar suas finalidades, suas contradições, suas aberrações" (M.AZZI, 1981, p. 25}.
A aplicação de instrumentos na educação fundamentava-
se na esperança de que estes, por representarem modernidade e
objetividade, pudessem solucionar os problemas da educação
que, para alguns, estavam em seu subjetivismo.
Ainda de acordo com Mazzi (1981) os educadores
entusiastas da TE entendiam que a educação é um universo
fechado, que nào tem ligação com as questões sociais e por isso gera seus próprios problemas.
Nessa perspectiva, para solucioná-los, bastaria aplicar
mecanismos de correção e regulação a fim de voltar ao equilíbrio.Pensava-se que, com a elaboração de objetivos comportamentais facilmente observáveis e mensuráveis, o planejamento minucioso e o uso de tecnologias avançadas, o professor poderia ter total controle sobre o processo ensino/aprendizagem e obter êxito (SAMPAIO & LEITE, 1999).
Como consequência, o conceito de TE refletia esse
pensamento. É isso que afirma Kraft (1973), ao mencionar
que nesta fase conservadora inicial, TE significava:
aparelhagem, possibilidades técnicas. Foi a fase da
acepção fis ico-técnica da TE. O desenvolvimento, a
introdução e a utilização de equipamentos ocupavam
o primeiro plano de interesse (p. 14).
A partir dos anos 70, do século XX a TE foi
redirecionada para o estudo do ensino como processo
tecnológico, passando a ter duas versões: restrita (limitando-
se à utilização dos equipamentos) e ampla ( conjunto de
procedimentos, princípios e lógicas para atender aos
problemas da educação) (TAIRA, 2000).
De acordo com Taira (2000) no inicio da introdução
dos recursos tecnológicos na área educacional, houve uma
tendência a imaginar que as tecnologias iriam solucionar os
problemas educacionais, podendo chegar, inclusive, a
substituir os próprios professores. Com o passar do tempo,
não foi isso que se percebeu, mas a possibilidade de utilizar
esses instrumentos para sistematizar os processos e a
organização educacional e uma restruturação do papel do
professor.
No início dos anos 80, o clima de exigência de
abertura política e de democracia atingiu todas as áreas,
inclusive o pensamento educacional. Os recém-iniciados
cursos de pós-graduação em Educação começavam a produzir
trabalhos que refleti am uma análise mais crítica da realidade.
No campo da TE começou a surgir uma visão também mais
crítica e mais ampla da utilização das tecnologias e das
técnicas de planejamento e avaliação no ensino(SAMPAIO
& LEITE, 1999).
Segundo Luckesi (1986):
A Tecnologia Educacional é a forma sistemática de
planejar, implementar e avaliar o processo total da
aprendizagem e da instrução em termos de objetivos
específicos, baseados nas pesquisas de aprendizagem
humana c comunicação, empregando recursos
humanos e materiais, de maneira a tornar a instrução
mais efetiva (p. 56).
O autor considera o conceito acima ainda limitado,
restrito e eficientista. Esclarece que este tipo de visão e
atuação da TE existia porque ela chegou ao Brasil com os
fundamentos teóricos, ideológicos e tecnológicos externos,
não como uma necessidade surgida em função de nossa
realidade.
Luckesi (1987, p.37) afirma que a "Tecnologia
Educacional é a própria educação, enquanto incorpora,
inteligente e politicamente, os artefatos humanos chamados
de ponta ou fronteira no processo de avançar na apropriação
dos conhecimentos, na formalização da mente, no preparo
do educando para lutar por uma vida social mais digna e
mais justa".
Segundo Lobo Neto apud Niskier (1993, p. 15)
"A Tecnologia Educacional é, fundamentalmente, a
relação entre Tecnologia e Educação que se concretiza
em conjunto dinâmico c aberto de princípios e
processos de ação educativa, resultantes da aplicação
do conhecimento científico e organizado à solução ou
encaminhamento de soluções para problemas
educacionais".
Já Pons apud Tajra (2000) define Tecnologia
Educacional da seguinte forma:
"E uma maneira sistemática de elaborar, levar a cabo e
avaliar todo o processo de aprendizagem em termos de
objetivos específicos, baseados na investigação da
aprendizagem e da comunicação humana, empregando
uma combinação de recursos humanos c materiais para
conseguir uma aprendizagem maisefetiva".
Outra definição é exposta por Maggio apud Tajra (2000)
que refere-se à Tecnologia Educacional não como uma ciência,
mas uma disciplina orientada à prática controlável e ao método
científico, recebendo contribuições das teorias de psicologia
da aprendizagem, das teorias da comunicação e da teorìa de
sistemas. A utilização desses recursos baseia-se nas formas de
aprendizagens, nas fases de desenvolvimento infantil, nos
diversos tipos de meios de comunicação e na integração de
todos esses componentes de forma conjunta e interdependente
por meio de atividades educacionais e sociais.
Nos anos de 1979 e 1980 a Associação Brasileira de
Tecnologia Educacional - ABT, submeteu aos participantes
de seu Seminário Nacional um conceito de TE que refletia e
sintetizava uma abordagem nova e mais ampla encarada pela
direção da Associação como uma evolução:
A TE fundamentava-se em uma opção filosófica,
centrada no desenvolvimento integral do homem,
inserido na dinâmica da transformação social;
conerctiza-se pela aplicação de novas teorias, princípios,
conceitos e técnicas num esforço permanente de
renovação da educação (ABT, 1982, p. 17).
Luckesi (1986) explica que este conceito "globaliza os
três elementos fundamentais de qualquer ação humana: uma
opção filosófica, uma contextualização social da ação e o uso
de princípios científicos e instrumentos técnicos de
transformação" (p. 57).
O autor afirma que, para cumprir seu papel como
concepção filosófica, a TE deve estar voltada para os problemas reais e as dificuldades da maioria da população, analisando-os de maneira crítica, em conjunto com os conhecimentos metodológicos e técnicos das práticas educacionais, visando "produzir mudanças significativas para o bem-estar do nosso povo, através da educação" (p. 62).
Podemos perceber que as teorias e estudos voltados para
a área de TE podem significar hoje um caminho para se chegar
ã aproximação entre tecnologia e escol a, de modo que esta possa cumprir mais um papel: o de preparar os alunos para dominar,utilizar e exercer uma atitude crítica em relação às modernas tecnologias. Além disso, na medida em que a tecnologia educacional constitui o estudo teórico-prático da utilização das tecnologias, objetivando o conhecimento, a análise e a utilização crítica destas tecnologias, ela serve de instrumento aos profissionais e pesquisadores para realizar um trabalho pedagógico de construção do conhecimento e de interpretação e aplicação das tecnologias presentes na sociedade.
Sabemos que tanto a construção do conhecimento para
gerar a tecnologia, como a produção e a avaliação da tecnologia,são tarefas que necessitam da educação como fundamentaçãoe princípio para o alcance de seus objetivos.
O que são as Novas Tecnologias e suas Implicações na Educação Escolar De acordo com Chesncaux (1995) as novas
tecnologias não saíram do nada, repentinamente, com o
sinistro objetivo de dominar o mundo. São fruto da evolução
da sociedade, pertencendo à lógica de nossa época. Por esse
motivo, não podem fixar-se a uma estratégia de dicotomia
contábil, que visaria a reduzir a coluna de efeitos negativos e alongar a de efeitos positivos. Para esse autor é importante
levarmos em consideração o bloco histórico do qual as novas
tecnologias saíram.
Segundo Machado apud Ferretti (2000) o impacto das
inovações tecnológicas sobre o modo de produção incide tanto
nas relações de troca, atingindo os setores da economia, quanto nas relações de produção stricto sensu, nas formas de
cooperação e de incorporação ao trabalho, nas características e maneiras de combinar os elementos do processo de trabalho (a
atividade humana, a matéria a que se aplica o trabalho e os
meios e instrumentos utilizados).
A discussão sobre as relações entre educação e novas
tecnologias está longe de ser encerrada. Isso em grande parte
se deve ao fato de que ainda vivemos uma fase de transição
para as novas tecnologias, em que a indústria não concluiu o
processo de abandono de paradigmas tradicionais e de ruptura
com sua base técnica precedente, de tal sorte que não se
vislumbram com clareza quais são os efeitos dessa mudança
(ASSIS, 1988).
Para a Educação, as novas tecnologias significam a
demanda por trabalhadores com mais qualificação, sendo
necessário a formação de um novo homem. O perfil do novo
profissional não é mais o especialista, o importante é saber
lidar com diferentes situações, resolver problemas imprevistos,
ser flexível e multifuncional e estar sempre aprendendo (ASSIS,1988).
Kawamura (1990) explica que as possibilidades abertas
pela introdução das inovações tecnológicas também não
conseguiram mudar essa tendência, pelo contrário, alguns
projetos educativos mediante satélites, informática, rede de
televisão etc. não passaram de experiências inacabadas, com
reduzidos resultados.
Afirma Kawamura (1990) que as novas tecnologias
enquanto expressão do avanço do conhecimento científico têm
facilitado a prática dos competentes no controle da produção
material e ideológica, inclusive em relação à própria produção
científica e tecnológica. Nesse sentido e na medida em que a
ciência e a tecnologia são controladas pelos grandes grupos no
poder, as perspectivas educacionais estão condicionadas pelos
interesses monopolistas.
Em termos mais concretos, as novas tecnologias,
desenvolvidas nas últimas décadas com o avanço alcançado
pelas áreas da eletrônica, telecomunicação e informática,
abrangem o computador, com seus recursos de hipertexto,
multjmídia e hipermídia, a televisão a cabo e por satélite, o
CD-ROM, as tele e videoconferências (OLIVEIRA, 2001)
Segundo o autor é facilmente perceptível corno as três
áreas mencionadas se integram, permitindo a produção de
equipamentos que potencializam múltiplas atividades humanas,
tais como as de buscar, distribuir, produzir, manipular
informação e conhecimento.
Levy apud Oliveira ( 1997, p. 62) chama atenção para
o fato de diversos autores salientarem a importância desses novos avanços tecnológicos na reconfiguração do espaço social,
fazendo surgir "uma nova ecologia cognitiva, na qual os atores
humanos encontram-se integrados".
A realidade vem mostrando cada vez mais a necessidade
de a escola rever o seu projeto pedagógico, reconhecendo de
forma crítica e adequada a presença das novas tecnologias na
vivência do aluno fora do contexto escolar (OLIVEIRA, 1997).
No momento, contudo, as novas tecnologias da
informação e da comunicação vêm suscitando, pelo seu
desenvolvimento acelerado e potencial de aplicação, novas
abordagens de utilização no processo educativo (SILVA, 2001).
Podemos observar hoje jovens com grande familiaridade
em relação aos novos ambientes tecnológicos, por vi vendarem
um processo de conhecimento paralelo ou anterior ao da escola,
apoiado na tecnologia que vem impregnando de múltiplas formas
a sociedade Silva (2001), contudo, comenta que o mais
paradoxal nesse contexto é que se deve à escola o surgimento
das novas mentalidades e ideias geradoras do progresso social e tecnológico. Daí a importância da inclusão dos múltiplos
domínios da realidade cm seu projeto pedagógico, para que a
escola não venha a negar pelo desuso ou mau uso o que ela
mesma ajudou a construir.
Decerto, a presença dos modelos informáticos na
sociedade, vista de forma mais abrangente e mais crítica, exige a sua inclusão nos projetos pedagógicos das escolas de modo que se criem novas possibilidades para o processo de ensino-aprendizagem. Essa inclusão pode ser feita pela criação de ambientes propícios para a utilização de novas tecnologias no ambiente escolar, visando uma concepção de conhecimento que
reconheça a importância da relação sujeito-objeto no ato de
aprender. (SILVA, 2001).
Como menciona Orth (1999),muitas vezes, fazemos todo um esforço para implantar uma série de mudanças na educação, mas não conseguimos fazer com que nossa "ciência" produza uma
melhor educação, porque não é a melhor educação que
temos buscado; e sim ''transmissão", "modelagem",
"reprodução", "automatismo", "submissão..." Aliás, há
muitos educadores que buscam a " transformação e/ou o
diferente na educação", porém, quando se encontram com
seus colegas para problematizar a questão da educação,
são desafiados por estes a dar-lhes receitas prontas,
macetes,... auto-aplicáveis e que os remetem novamente
a reproduções e/ou modelagens.
Segundo Orth (1999, p.44) para que esse tipo de posição
passe a se tornar exceção, torna-se cada vez mais importante
que os educadores do século XXI construam nas escolas espaços
de estudo, discussão e/ou reflexão sobre métodos c técnicas que enfatizem a criatividade, a curiosidade, a exploração, a
descoberta, a motivação, a autonomia, o lúdico, o prazer e a
interação, assim como, "as abordagens multireferenciais do
conhecimento e suas implicações para o fazer pedagógico dos
mesmos .
Esse autor entende que os educadores poderiam,
nesses espaços de discussão e reflexão, discutir sobre a
utilização e incorporação das novas tecnologias no ensino,
orientando o seu trabalho pedagógico de forma a definir qual
a relevância e a forma de utilização dessas novas tecnologias
no ambiente escolar.
Para que nào corramos o risco de utilizar as novas
tecnologias apenas para passar informações, ensinando aos
alunos de forma passiva e impessoal, estimulando o
individualismo e a competição, é importante que os
professores considerem que a incorporação de novas
tecnologias da informação e da comunicação, no campo do
educacional, "...pode simplesmente reforçar as velhas e
questionáveis teorias de aprendizagem e/ou produzir
consequências práticas nas relações docentes, bem como,
revolucionar os processos de ensino-aprendizagem (ORTH,
1999, p.44).
Como afirma Orth (1999, p. 45) a utilização e a
incorporação das novas tecnologias na sala de aula é muito
importante quando é utilizada para auxiliar os alunos na
construção de novos conhecimentos. Contudo, essa
construção não deve ser realizada solitariamente, porque o
ensino é um processo conjunto, compartilhado, no qual o
aluno, tendo o educador como mediador, pode se mostrar
autónomo na resolução de tarefas.
Outro fator relevante na utilização e incorporação das
novas tecnologias nas escolas relaciona-se à ampliação da
área de atuação das mesmas. Pois, através das redes de
comunicação é possível a realização de interconexões com
instituições educacionais de várias partes do mundo,
estabelecendo-se, dessa forma, contatos para trocas e
intercâmbios entre as instituições, enriquecendo, assim, o
ambiente escolar. Esse contato, via rede de comunicação,
também poderá ser pensado como uma forma de se promover
a cooperação e a solidariedade entre educadores, alunos,
administração escolar e pais. Enfim, as novas tecnologias
poderão contribuir não só para a aprendizagem dos alunos,
mas também para a melhoria do relacionamento entre as
escolas e para a comunidade como um todo (ORTH, 1999,
P-45)
As inovações tecnológicas têm produzido
transformações na organização social, no trabalho, no
cotidiano. Atingem toda a sociedade e introduzem mudanças
relevantes no conhecimento, na cultura e nas relações de
poder, exigindo das pessoas, das instituições e da sociedade
como um todo, a busca de formas de inserção e participação
na nova realidade. Isto porque o desafio tecnológico recoloca em discussão alguns dos equilíbrios fundamentais do homem: o trabalho,o emprego, as profissões, os conhecimentos, os locais
e as formas de construção de experiências sociais e a
identidade das pessoas, dos grupos e das classes
sociais (Grupo de Pesquisa em Tecnologia
Educacional da Faculdade de Educação da UFRJ apud
SAMPAIO & LEITE, 1999).
De acordo com Frigotto (1992, p. 6) a presença das
tecnologias em todos os campos da vida moderna atinge de
forma diferente os cidadãos. Alguns têm a oportunidade de
interagir com elas em casa, desde que nascem, e por isso podem
formar sua visão de mundo e seus hábitos em função desta
interação eletrônica. Outros têm acesso apenas às tecnologias
mais comuns da comunicação. Esse autor enfatiza, ainda, que
mesmo não beneficiando todos da mesma forma e não
promovendo a igualdade, a influência das tecnologias alcança
todos nós, até mesmo aquelas camadas sociais que, por estarem
alijadas do acesso ao trabalho, à educação, ao atendimento de
saúde, ao consumo de bens materiais e culturais e a outros
direitos sociais, não se utilizam diretamente das tecnologias
presentes na sociedade.
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A INÉPCIA NÃO LIVRARÁ OS GOLPISTAS TRAPALHÕES DE CONDENAÇÃO PESADA
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*Chega a ser hilário que os golpistas trapalhões tenham tramado o
assassinato de Geraldo Alckmin. *
*Ignorarão que ele é cria da Opus Dei, portanto farin...
Há 22 horas
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