terça-feira, 29 de abril de 2008

Infância,educação

e neoliberalismo

Livro de P.Ghiraldelli Júnior


O estudo desse período, que se situa aproximadamente entre o século XVI e o XVIII, se baseia essencialmente nas idéias de pensadores como Rousseau e Montaigne, entendidos pelo pesquisador como importantes co-autores das noções de infância e da pedagogia moderna.
Embora a compreensão da criança como indivíduo, ligada ao próprio nascimento da noção de infância, já estivesse se delineando durante o século XVI, é interessante perceber que esse ideário ainda não havia permeado os lares e pensamentos familiares. Os pais e parentes insistiam em tratar os pequenos como miniaturas de adultos tal qual na Idade Média. Entretanto, Montaigne afirma que agora as crianças também eram tratadas como brinquedos[2], sendo paparicadas e mimadas ao extremo para diversão e deleite dos adultos: “Vocês (os pais) não são homens modernos na medida que estão presos à ludicidade e não à razão, tratando as crianças para obter prazer lúdico, não cuidando dos pequenos por meio de uma disciplina que vise o bem deles para o futuro”. (interpretação do autor sobre o pensamento de Montaigne, p.15).
Enquanto Montaigne se posiciona como verdadeiro opositor à paparicação, Rousseau vai enfocar a própria concepção de infância setecentista (século XVIII). Segundo ele, esse seria um período precioso, no qual ainda não fomos corrompidos pela sociedade e seus vícios, e que deveria, portanto, ser preservado a fim de estimular no pequeno indivíduo o cultivo da intimidade, da privacidade; numa visão tipicamente liberal. Visto como um momento especial a ser protegido, o mundo infantil se reflete na própria escola. Antes entendido como algo genérico, o ambiente escolar vai se transformando e se conectando diretamente a esse mundo da infância, tentando diminuir ao máximo as influências externas: "Assim a pedagogia que nasce com os tempos modernos, em certo sentido - e insisto no 'certo sentido' -, objetiva apartar a criança do lar, do trabalho, enfim da chamada realidade" (p.18).
A partir da segunda metade do século XIX, a pedagogia infantil que havia, até então, seguido os preceitos dos pensamentos humanista e liberal, chega a uma impasse, pois precisa enfrentar as contradições de uma sociedade em transformação e influenciada profundamente pela chamada Revolução Industrial, "a sociedade do trabalho".
A criança que, segundo pensadores como Rousseau, era destinada à escola, começa a ingressar no mundo da fábrica, com sua ambientação nada educacional, sua carga horária intensamente desgastante, seus trabalhos repetitivos e monótonos que em nada lembram brinquedos infantis, enfim no mundo capitalista em desenvolvimento acelerado. Quando se inicia o século XX, a escola torna-se, de direito, o lugar da infância, mas não seu lugar de fato[3]. O que parecia estar no próprio cerne da modernidade se torna problemático e irreal, era preciso reformular as perspectivas pedagógicas existentes até então: "Não podendo lutar contra o inimigo, se junte a ele - é o que faz o pensamento pedagógico na medida em que se propõe a resolver a tensão entre escola e trabalho; de certo modo, subordina a primeira ao segundo" (p.21).
O ensino caracterizado pelo liberalismo (conceito moderno) é agora pejorativamente denominado de "ensino livresco", afastado da realidade e do mundo adulto; e, embora o pensamento pedagógico da época tenha se fragmentado em linhas diversas, uma certa apologia ao diálogo entre educação e trabalho é uma característica comum à grande maioria deles (dentre eles podemos destacar pensadores como Durkheim, Dewey[4] e Gramsci[5]).
A própria concepção de infância vai gradualmente se modificando, principalmente com as contribuições de Piaget[6] e outros estudiosos defensores da noção da criança como um ser ativo. As investigações do mundo infantil agora permeado pelo trabalho ratificam a idéia da criança que não deve somente aprender a escutar, mas que também precisa de uma conjuntura propícia à aprendizagem do fazer e do falar. Segundo Piaget, é necessário, além de incentivar a criança a agir, tomar decisões, fazer com que ela tome consciência de seus atos.(...)


http://www.uff.br/creche/docs/concepcao_educacao_infantil_01_01.doc.

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