terça-feira, 24 de junho de 2008


Avenidas

de São Paulo

são ocupadas

mais uma vez

60.000 professores pararam o centro da capital

Publicado em 22.06.2008
por Conselho Editorial


Pela segunda vez em apenas uma semana, os professores da rede estadual de ensino fundamental e médio do Estado de São Paulo saíram às ruas para protestar contra o decreto do governo Serra, que, caso não seja revogado, causará uma degradação ainda maior das condições de trabalho dos professores.

Na sexta-feira da semana anterior (13), cerca de 30.000 professores haviam se reunido em assembléia na Praça da República, no centro de São Paulo, e decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. Os representantes do governo afirmaram que a greve estava fraca, com uma adesão de apenas 2% da categoria. A assembléia desta sexta-feira (20), que reuniu cerca de 60.000 professores, serviu para mostrar que o governo estava equivocado.

A adesão massiva dos professores à greve (cerca de 70% em todo o Estado, segundo a Apeoesp – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) é muito mais uma conseqüência das péssimas condições de trabalho e dos baixíssimos salários do que da atuação da direção do sindicato.

Em abril de 2007, a direção do sindicato impediu a deflagração da greve numa assembléia massiva com 20.000 professores. Na época, os dirigentes deram um prazo de 5 dias para que o governo tomasse uma posição. Na próxima assembléia, 5 dias depois, os professores não compareceram. O comentário entre os professores era o seguinte: “eu não vou perder meu tempo em assembléias que não decidem nada. Isso é uma palhaçada!” Diante de uma assembléia esvaziada, os pseudo-dirigentes tiveram a desfaçatez de culparem a categoria pela desmobilização. “Temos que voltar para as escolas e fazer a discussão com os professores, convencê-los da necessidade de participar”, gritavam os traidores em cima do carro de som. Algo semelhante se repetiu em agosto. Nova manifestação com mais de 20.000 professores. A mesma ladainha no carro de som e a conseqüente desmobilização.

Na última sexta-feira, cerca de um ano depois das traições da direção da Apeoesp, os professores não permitiram mais qualquer vacilação da direção. Desde o início da concentração dos professores na Praça da República, já era visível a sua disposição de ir à luta. Todos que defendiam a greve eram fortemente aplaudidos. Assim, os professores finalmente conseguiram atropelar a direção do sindicato, obrigando-a a deflagrar a greve.

Durante a semana, inúmeros voluntários se disponibilizaram para visitar as escolas que ainda estavam funcionando. A greve teve a adesão de um número crescente de professores. A cada dia aumentava o número de escolas paradas. Alguns alunos passaram a apoiar o movimento, participando das manifestações.

É claro que, apesar de massiva, a greve ainda pode ser traída pela direção do sindicato. Mas uma coisa é certa. Depois de décadas bloqueando a luta dos trabalhadores, as direções sindicais, já totalmente burocratizadas, estão profundamente desmoralizadas frente às massas. Abre-se, assim, entre os professores e entre diversas categorias de trabalhadores, um enorme espaço para a construção de uma nova direção, formada por trabalhadores que conhecem muito mais as mazelas sofridas pela sua própria classe do que os burocratas sindicais.

Veja abaixo os depoimentos dos professores entrevistados pelo Transição Socialista durante a última passeata. Os professores pediram para não serem identificados.

Professor 1: Só com a greve o governo presta atenção no que a gente tá exigindo.

Professor 2: Se a gente não fizer nada agora, daqui a pouco a gente está entregue.

Professor 3: É a primeira greve que eu participo. Demorei uns dias para aderir por insegurança, por que eu desconfio dessa direção do sindicato. Eles não estão preocupados com os professores.

Professor 4: Os sindicatos passaram a fazer uma disputa interna pelos cargos e deixaram de fazer uma disputa externa, contra os patrões.

Professor 5: Embora eu ache que o sindicato vai dar prá trás na hora “H”, é importante que a gente se mobilize.

Professor 6: Com esse decreto o governo quer enxugar o quadro de funcionários. Eles vão jogar um monte de gente no desemprego.

Professor 7: É meu primeiro ano de trabalho. Nós temos que entrar em greve, fazer um movimento forte. Essa história de enviar emailzinho para a Secretaria de educação não adianta. Tem que é parar mesmo.

Professor 8: Muitos professores são obrigados a sustentar duas casas, pois são forçados a trabalhar longe de suas famílias, em outra cidade, inclusive. Esse decreto impede que esses professores peçam remoção para uma escola próxima de sua casa. Isso é um absurdo.

Professor 9: Esse decreto é um desrespeito ao professor. É um instrumento ditatorial. Não passa por nenhuma votação.

Professor 10: O professor não ganha nem dois salários mínimos. Essas gratificações não são salário. Elas podem ser tiradas a qualquer momento. Nós queremos é salário!

Professor 11: O PSDB, que há 16 anos está no governo do Estado de São Paulo, vem atacando permanentemente os professores.

Professor 12: Sou eventual. Ganho R$ 6,00 a hora aula. Vou cedo para a escola e fico esperando todos os dias que outro professor falte para que eu ganhe alguma coisa naquele dia.

Professor 13: O que significa 12% sobre R$ 6,00? Isso não dá nada!

Professor 14: A greve é uma necessidade. Todo mundo estava querendo essa greve.

Professor 15: Essa manifestação vai marcar história. Nosso salário é pífio. Sou solteiro e tá difícil de me sustentar. Imagina quem tem filho, como faz prá sustentar.

Professor 16: Hoje, 60.000 professores estão dizendo NÃO a esse governo nefasto de Serra.

Professor 17: A resposta ao decreto é a insatisfação da categoria que está tomando a Avenida Paulista.

Professor 18: Aqui está a prova de que os trabalhadores são capazes de se organizar e lutar.

Professor 19: Estamos na rua prá reclamar os nossos direitos. Não adianta ficar em casa, olhando TV. Tem que vir prá rua!

http://www.transicao.org/noticia.php?id=812



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