sexta-feira, 4 de abril de 2008

Educação

e Liberdade

em Wilhelm Reich

No pensamento reichiano, a liberdade torna-se valor central da educação tanto em seus objetivos como em seus métodos.Primordialmente, a educação deve ser para a liberdade como forma de garantir a mudança que se faz urgente em nossa sociedade. Isso significa que o homem necessita abandonar o sistema patriarcal repressor que vem adotando há milhares de anos e buscar um modelo mais compatível com as suas funções vitais.É essencial que se tenha clareza das dificuldades presentes na passagem do autoritarismo para a autonomia, assim como do papel dos educadores nessa transição. Torna-se indispensável conhecer os processos que geram o clamor por autoridade, em nossa cultura.A função de auto-regulação não é mais o dilema. O maior problema agora é — e continuará sendo por um longo período — como salvaguardar o crescimento natural de crianças, como protegê-lo contra um tipo de opinião pública que brota do animal encouraçado, rígido, sem vida, amedrontado, sem esperança, o Homo normalis (REICH, 1973a, p. 128).O fato de o homem encouraçado ser incapaz de vislumbrar o funcionamento auto-regulado como fundamento para a vida social e para a cultura assoma como enorme barreira à mudança.Reich revela a contradição no projeto educacional moderno que advoga a domesticação do animal existente na criança para a formação do homem livre, cidadão autônomo. Critica a educação que visa uma segunda natureza, eliminando o que é inato, e cujo objetivo é adaptar o homem à sociedade através do controle disciplinar do corpo, meio utilizado pela civilização do encouraçamento para obter a docilidade e a subserviência. Esta pseudoliberdade baseada na coerção é que impede a humanidade de recuperar a verdadeira independência. A repetição da estrutura encouraçada de geração a geração, produzida pela educação autoritária, é o principal empecilho à saída do homem de sua prisão.O encouraçamento patológico e a peste emocional, que remontam ao surgimento da sociedade patriarcal, são as funções que bloqueiam o contato e o acesso do ser humano à sua natureza positiva. O pouco contato que lhe é possível para além da superfície do encouraçamento se estabelece com a camada secundária do sadismo e das pulsões anti-sociais. Diante disso, não se pode abrir mão da moralidade rígida, sob pena de se instaurar o caos. Constrói-se uma visão pessimista de homem, uma concepção que se perde nos tempos e que chega aos dias de hoje através da tradição judaico-cristã, e dos ideais de disciplina e ordem como metas educacionais desenvolvidas pela filosofia na modernidade. No século XX, a psicanálise, com suas hipóteses da pulsão de morte e do conflito inevitável, surge como representante científica deste paradigma, segundo o qual a natureza humana é má e precisa ser educada — leia-se, domesticada — para que possa viver em sociedade.Por outro lado, do ponto de vista rousseauniano, o homem é essencialmente bom; a sociedade é que o corrompe. Embora mais próxima da leitura reichiana do funcionamento do homem, esta corrente também pressupõe uma oposição básica entre o funcionamento social e o natural. Em Reich, o conflito existe apenas nesta civilização, tal como ela é. Em outra realidade cultural, natureza e sociedade poderiam se harmonizar.Reich avizinha-se também das idéias de Rousseau na admiração que demonstra pelo funcionamento saudável dos selvagens, especialmente aqueles que se encontram sob o regime matriarcal, como os Trobriandeses descritos por Malinowski. Porém, não se pode acusar o pensamento reichiano de saudosista ou primitivista.Não há espaço aqui para romantismo barato. Ele precisa ser substituído pela luta em favor de uma organização humana dentro de um padrão tecnológico mais alto, e de uma estrutura que nunca se permita esquecer o processo de humanização. Esta nova ordem corrigirá o desenvolvimento errôneo de muitos milhares de anos e permitir-nos-á observar o quadro de um colonizador luxurioso, obeso e brutal, ele mesmo uma vítima de nossa cultura vergonhosa, que é um verdadeiro pesadelo (REICH, 1976, p. 130).A proposta reichiana de educação para a liberdade não tem o sentido de volta ao paraíso perdido ou de retorno ao primitivismo. Ao contrário, demonstra clareza crítica em relação a todas as teses simplificadoras do tema da repressão em nossa sociedade e da pureza do homem selvagem.Reich preocupa-se com a ponte entre a humanidade que vive aprisionada e as crianças do futuro. Esta transição tem por objetivo final uma sociedade mais livre e justa, sem esquecer que, neste momento, a retirada total das forças de contenção levaria ao caos. Deve fundamentar-se, portanto, na distinção entre pulsões primárias (para a vida) e secundárias (anti-sociais), com o sentido de favorecer as primeiras e limitar as últimas. A mudança precisa ocorrer de forma gradual e cuidadosa para que as forças da peste emocional não destruam os esforços emancipadores e, numa onda de reação, deflagrem um quadro mais negro ainda do que o atual. A educação é o palco em que esta passagem pode acontecer.(...) continua em : http://www.cursoideb.utopia.com.br/tiki-index.php?page=Educa%C3%A7%C3%A3o+e+Liberdade+em+Wilhelm+Reich-parte+IV

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