Resumos do II Congresso Brasileiro de Agroecologia
A OBRA DE BRUNO LATOUR: A MODERNIDADE E A MODERNIZAÇÃO NO
BRASIL E NA AMAZÔNIA
Camilo Torres Sánchez
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0. INTRODUÇÃO
Neste artículo se apresenta a obra do antropólogo Bruno Latour, no que tem a ver com
a reflexão sobre o projeto moderno e a modernização do mundo, tomando como exemplo o
caso brasileiro e amazônico. Primeiro mostra-se a trajetória pessoal do antropólogo como
sujeito. Depois se discute a proposta de Latour sobre a modernização e sua influencia no
quotidiano dos objetos e sujeitos vivos. Se analisa também, a forma como a comunidade
acadêmica do Brasil tem incorporado as propostas de Bruno Latour na suas reflexões sobre
a modernidade cultural e a modernização técnica. Também se aprofunda na situação da
Amazônia, onde se propõe realizar o mapeamento da rede sociotêcnica da biodiversidade
regional, como meio de seguir as pegadas da modernização na região. Finalmente se mostra
como as teses de Bruno Latour podem ser utilizadas para estimular a Re-Constituição do
mundo da vida, através dos objetos e sujeitos da diversidade, como um caminho possível
para sair da crise atual da modernização
2
.
Palavras-chave: Bruno Latour, Modernidade, Modernização, Rede Sociotêcnica, Brasil,
Amazônia
1. O SUJEITO COMO OBJETO: BRUNO LATOUR COMO OBJETO DE INDAGAÇÃO
Bruno Latour nasceu em 1947 em Beaune na Borgonha francesa, no meio de uma
família de cultivadores de uvas. Recebeu treinamento na área de filosofia e antropologia.
Depois de fazer estudos de campo na África e Califórnia Latour se especializou na analise do
trabalho de cientistas e engenheiros. Além de trabalhos em filosofia, historia, sociologia e
antropologia da ciência, ele tem ajudado em muitos estudos em políticas da ciência e gestão
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Doutorando em desenvolvimento agricultura e sociedade Universidade Federal Rural de Rio de Janeiro
CPDA/UFRRJ. camilotorres@superig.com.br.
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Esta contribuição foi desenvolvida com o apoio financeiro da CAPES e da FAPERJ.
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da pesquisa. Ele escreveu “... Laboratory Life the construction of scientific facts (Princeton
University Press), Science in Action, and The Pasteurization of France (both at Harvard
University Press)”, os dois primeiros livros já traduzidos ao português.
2. O QUE DIZ LATOUR SOBRE A MODERNIZAÇÃO DO MUNDO
O enfoque de Latour, para a análise da Modernidade e a Modernização baseado na
Sociologia das ciências e na Antropologia simétrica, é desenvolvido com a cautela própria
dos estudiosos experientes propondo problemas e discutindo possíveis soluções para uma
questão central do conflito entre Modernidade e Não Modernidade: Como falar
simetricamente de nós [Norte - Ocidente] como dos outros [Sul- Oriente], sem acreditar nem
na razão nem na crença, e respeitando ao mesmo tempo os fetiches e os fatos, que nos
constituem? Latour na sua obra afirma que, as rupturas que o processo da modernização
crio entre os mundos da vida humana e natural, e suas esferas foram produzidas para
“separar” e “manter” quotas de poder de grupos, e que estas esferas e suas praticas de
legitimação devem ser olhadas como praticas de manutenção do poder.
Ele afirma ainda que estas práticas de legitimação da modernização devem refletir-se
no trabalho de campo quotidiano. Por exemplo, a existência de alimentos dos Patrícios de
uma sociedade, e alimentos da massa da sociedade. Por exemplo a manga Tommy
importada do Nordeste e vendida nos supermercados, representa isso com relação à manga
Bacuri nativa e vendida nas ferias livres, no estuário amazônico. De esta prática de
legitimação fazem parte os “fatiches” que são misturas de fato e fetiche, de mundo não
humano e mundo humano. Um fato como a venda de uma fruta de manga num
supermercado esta fusionado com um fetiche, que é a marca de uma Cooperativa de
produtores colada à fruta, que pretende mostrar uma suposta qualidade de origem da fruta, o
que permite cobrar “um preço” maior pela fruta estampado num código de barras. Assim
aceitaremos o que Latour diz sobre que “não existe nenhuma realidade sem representação”
(p.346) reafirmando a necessidade de reunir os objetos e os sujeitos na descrição da
sociedade.
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3. A OBRA DE BRUNO LATOUR E A CRISE DA MODERNIZAÇÃO NO BRASIL
Como tem sido a recepção da obra de Bruno Latour no Brasil e na posgradução
brasileira? A abordagem de Latour serveu para adiantar reflexões de fundo sobre a
construção da objetividade nas ciências sociais (Cepeda, 2000), ou sobre o ensino e o fazer
da ciência (Vianna,1998). Em segundo termo suas teses tem sido utilizadas para procurar
melhora o relacionamento entre os profissionais da saúde e seus pacientes através do afeto,
as palavras e de um novo olhar sobre o corpo (Reis,2000) ou no atendimento a crianças e
mães nos hospitais públicos (Trojan,1998) e o processo de amamentação (Almeida, 1998);
também tem sido usado para justificar o uso de métodos alternativos à medicina alopatica,
como a musicoterápia (Oliveira,2001), Também as teses de Latour foram usadas na procura
de novos tratamentos para enfermidades da alta modernidade como a epidemia de SIDA nos
anos de 1982-1998 no Rio de Janeiro (Dos Santos,1999), e ainda foi usado na reflexão
antropológica, sobre a construção de uma página de internet tão importante, como a da
Previdência Social Brasileira (1996) As analises acima da obra de Latour tem trazido novas
perspectivas sobre a musealização da natureza ou a patrimonialização da natureza (Barcelos
Evres, 2000).
Bruno Latour adianta reflexões sobre a relação entre as esferas do Mundo e a ciência
básica e a sociedade post-industrial, em acordo com sua própria extração social e histórica
na França, um pais inserido por completo nos fluxos da Sociedade da Informação, onde o
registro da produção de verdade, justiça e autenticidade é realizado sistematicamente
fundamentando a sociedade nacional da qual ele faz parte. A comunidade acadêmica do
Brasil, dada sua situação híbrida e periférica incorpora a obra de Latour em reflexões mistas
que a ciência básica e aplicada faz sobre os problemas sociais mais graves; sendo estas
atividades as ciências médicas, a engenharia e o ensino. Estes desvios, ainda que
necessários, tem impedido atingir o âmago do que a proposta epistemica de Latour pode
trazer para a sociedade brasileira, que é sua reflexão pratica sobre a modernidade e a
modernização ocidental e os conflitos que ela causa nas áreas não modernas do mundo,
onde ainda existem vários tipos de verdade fundadora e de sociedade. Estas verdades
fundadoras trazem importantes questionamentos e problemas à expansão da modernidade
principalmente no eixo estratégico da relação entre a sociedade e a natureza.
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4. A CRISE DO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO NA AMAZONIA: A REDE
SOCIOTECNICA DA BIODIVERSIDADE
As teses de Latour podem contribuir a iluminar a crise do processo de modernização
na Amazônia com o uso da idéia da rede sociotecnica da biodiversidade. Latour (1994 p.7)
expõe uma crise derivada da crise geral do processo de modernização, onde as ciências da
sociedade e da natureza não conseguem isoladas uma da outra fazer sentido de
acontecimentos que ele nomeia como “híbridos”, onde se misturam caoticamente fatos de
conhecimento cientifico, ações sociais e interpretações culturais de um ou outro
acontecimento. “O mesmo artigo [jornalístico] mistura, assim reações químicas e reações
políticas”. O autor propõe um certo tipo de reflexão e interpretação nova que não diga
respeito à natureza ou ao conhecimento, às coisas-em-si, mas antes a seu envolvimento
com os coletivos e com os sujeitos, as coisas-para-se. Não se fala do pensamento
instrumental, mas sim da própria natureza da sociedade (LATOUR, 1994, p.9). Seria
necessário neste caso mapear a rede sociotecnica do uso das espécies além das tramas
tecidas pelas técnicas e as ciências naturais, por fora do puro pensamento instrumental
calculista tão criticado pelos cientistas humanos, e dentro da política e das procuras e
criações de significado que a sociedade desenvolve para fazer sentido de sua realidade.
Segundo o autor os críticos do mundo da vida desenvolveram três repertórios que
articulados numa “tripartição crítica” podem orientar as possíveis abordagens dos híbridos e
suas redes: a naturalização, a socialização e a desconstrução. A natureza dos fatos seria
estabelecida, as estratégias de poder previsíveis e não seriam apenas efeitos de sentido
projetando a pobre ilusão de uma natureza e de um locutor. (LATOUR, 1997), contribuindo
para a excisão entre mundo da vida humana e mundo da vida natural. Assim seguir a trama
destas redes da diversidade da vida humana e natural no estuário amazônico pode ajudar a
romper com a excisão que a tripartição crítica crio. Estas redes como o autor afirma são
expatriadas e devem voltar a rever sua nacionalidade e naturalidade. Estas redes ou tramas
sociotécnicas serviram para seguir as trajetórias das plantas, espécies, mercadorias e
produtos no mundo da vida natural e sua passagem para o mundo da vida humana onde
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estes sujeitos-objectos se relacionaram com as interdições e tabus que a onipotência das
idéias humana cria. Devendo se entender o que as leis, o poder, a moral e a comunicação
dizem sobre a diversidade do mundo da vida na Amazônia. As instituições criadas para
realizar este trabalho devem ser estudadas e os sujeitos que as ocupam indagados para
identificar estes conjuntos de praticas.
5. PARA ALEM DA MODERNIZAÇÃO: A RE-CONSTITUIÇÃO DO MUNDO DA VIDA
A este processo se lhe da o nome de Re-constituição da/na Modernidade na
Amazônia onde os políticos e cientistas serão indagados simetricamente. No caso das
constituições políticas do mundo da vida humana, a tarefa caberia aos juristas somente que
eles esqueceram de regular o poder cientifico e o poder dos híbridos que a tradução cria. No
caso da natureza ou do mundo da vida natural, a responsabilidade seria dos cientistas
somente que eles deixaram de regular o poder político e negaram a eficácia dos híbridos ao
mesmo tempo que os criavam e multiplicavam. Assim descreveremos os ramos do governo
do mundo moderno no estuário e suas trajetórias em especial o governo da natureza e das
ciências exatas que é aquele que esta mais ocultado na atualidade pelos processos de
purificação.Devem ser identificadas as “redes simbólicas de domesticidade” que como um
“campo humano” atinge a totalidade sem criar uma antinomia entre natureza e humanidade,
ate o ponto onde o campo humano não pode mais se comunicar com o domínio do natural
pela ausência de uma linguagem inter-referencial entre os agentes. Esta constituição
apresenta-se como representações cientificas e políticas onde “cabe a ciência a
representação dos não humanos, mas lhe é proibida qualquer possibilidade de apelo à
política; cabe a política a representação dos cidadãos, mas lhe é proibida qualquer relação
com os não-humanos produzidos e mobilizados pela ciência e pela tecnologia” (LATOUR,
1997, p.34).
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Rev. Bras. Agroecologia, v.2, n.1, fev. 2007
http://www6.ufrgs.br/seeragroecologia/ojs/include/getdoc.php?id=2053&article=474&mode=pdf.
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