domingo, 23 de novembro de 2008

"MILTON SANTOS" - O EXTRAORDINÁRIO DOCUMENTÁRIO DE SILVIO TENDLER!! (assisti parte dele na TV BRASIL . MILTON SANTOS NOS FAZ MUITA FALTA!)

Sábado, 20 de Setembro de 2008

o mundo global visto do lado de cá
Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá - Silvio Tendler

O documentário inicia-se com uma demonstração de esperança de Sartre diante da injustiça e desigualdade, publicada no prefácio do livro Condenados da Terra, de Franz Fanon. Inegavelmente, do começo ao fim, o filme me fez refletir e tomar notas constantemente sobre as idéias lançadas, que são de uma pertinência nítida e que muito ajudam a esclarecer a realidade em que estamos inseridos.

"O consumo hoje que é o grande fundamentalismo”. São valores introjetados tão esmagadoramente em nossa mente, como o consumismo, que correm o risco de não serem questionados. Milton fala sobre sua condição de intelectual, este ser mesmo que não pode se abster de refletir criticamente, e de como é difícil o ser, no Brasil, pela pouca vontade das pessoas, em geral, em ouvir uma palavra crítica sobre o mundo.

O dado fala por si: 500 mais ricos detêm mais riqueza que os 416 milhões mais pobres. Diante disso, Milton Santos configura a existência de três mundos: o mundo como nos fazem ver - a globalização como fábula; o mundo tal como é - a globalização como perversidade; e o mundo como pode ser - uma outra globalização, o mundo da dignidade humana.

O Consenso de Washington entra como comprovação da perversidade do “globalitarismo” - a globalização estabelecida pelo autoritarismo - ao propor uma bula de como se chegar ao desenvolvimento, (austeridade fiscal, aumento de impostos, juros altos para atrair investimentos estrangeiros, privatizações, defesa da capacidade dos setores privados em oposição à ineficiência dos públicos) que trata unicamente da crise financeira em detrimento da situação social e cultural de um país.

Vários exemplos de manifestação popular na América Latina são citados, deixando evidente o completo fiasco que foi esse programa:

* Quito, Equador, 2000. Numa população de 95% de índios e mestiços, o movimento popular revolta-se e derruba o presidente.

* Cochabamba, Bolívia, 2000. Uma população de 70% de índios e mestiços revolta-se contra a privatização da água feita pelo presidente pressionado pelo FMI e Banco Mundial para defender os interesses da multinacional Bechtel. Ressalta-se Oscar Oliveira - líder sindical boliviano.

* La Paz, Bolívia. 2003. Luta pela nacionalização do gás e petróleo.

* Buenos Aires, Argentina. 2001. Panelaço do povo derrubou três presidentes em duas semanas. A classe média sofre com a desvalorização da moeda.

* Brasil, 1997. Privatização de grandes empresas, como a Vale do Rio Doce. Manifestações populares foram dissolvidas.

Embora haja um mito positivo sobre globalização de culturas, o nascimento de crenças e vontades globais, é um equívoco pensar que o Estado nacional, este que representa os interesses particulares de uma nação, perdeu sua relevância. É inegável que os Estados Unidos permanecem sólidos na defesa de sua visão de mundo e de seus interesses internacionalmente. Preciso que se diga também que este processo de mundialização também é eficiente em criar fronteiras, quando é conveniente; como são os casos da fronteira dos EUA-México e Melita, um território espanhol em continente africano cercado por muralhas.

A globalização aflorou a divisão internacional do trabalho, aproveitando-se de possíveis facilidades de exploração de mão de obra em países pobres, contribuiu para o fortalecimento das desigualdades. Mostram-se cenas do filme Corporação, que é uma boa referencia no entendimento de como as grandes empresas se comportam a fim de obter lucro.

Achei bem-adequada a divisão elaborada por Josué de Castro em Geopolítica da Fome, de 1961, que apropriadamente se liga a temática do documentário: a população mundial classifica-se em dois grupos - os que não comem e os que não dormem, com receio dos que não comem.

Questões de necessidade primeiras são encaradas como forma de trazer lucros a corporações empresariais. No 3° Fórum Mundial da Água, que se realizou em 2003, em Kioto, Japão, havia na pauta a privatização da água, que foi veementemente defendida por Peter Woicke, diretor administrativo do Banco Mundial na época. Indispensável destacar que 1,5 bilhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia e não têm acesso à água. Mais de 3 bilhões utilizam água sem tratamento e, devido a isso, estima-se que 30 mil seres humanos morram diariamente no mundo. Sobre esse tema, ver o filme Thirst de Alan Snitow e Deborah Kaufmann.

Saramargo, prêmio Nobel de literatura, alerta sobre a necessidade de se discutir democracia mundialmente. Expõe que democracia, para nós, é o povo ser chamado a comparecer nas urnas e que espaços onde realmente são decididos questões de interesse geral e de plena relevância são completamente antidemocráticos: Banco Mundial, FMI, OIT - organização internacional do trabalho, e outros organismos internacionais.

É antidemocrático também o espaço de disseminação de informação oficial: “6 empresas controlam 90% do mercado de mídia do mundo”. Sendo assim, é preciso que se expandam maneiras populares de fazer mídia, que garantam um novo olhar sobre os fatos. O filme ilustra bem como isso já vem acontecendo e, felizmente, Milton Santos acredita ter a tendência a avançar cada vez mais:

* Carlos Pronzato - poeta e cineasta argentino, acompanha de perto os movimentos sociais na América Latina. Bakunin Digital.

* Aline Sasahara - cineasta, acompanha a realidade do MST. Inclusive pôde participar da Marcha Nacional do MST de Goiânia/ Brasília em 2005.

* Adirley Queiroz. Diretor do filme O canto da Ceilândia

* Joaquim Yawanawá. Cineasta e líder indígena.

* Tony Venturi e Pablo Georgieff - diretores do filme Dia de Festa.

A antropologia moderna retrata a existência do Homo Davos (local onde geralmente ocorre o Fórum Econômico Mundial) que apregoou o fim da história e propõe fundos para acabar com a pobreza, desconsiderando inúmeros fatores macro-estruturais que estão completamente associados à desigualdade no mundo. Segundo Milton Santos, necessário, ou melhor, essencial é que se mude o foco das discussões de crescimento econômico, desenvolvimento tecnológico (...) para o que significa ser civilizado, o que é, de fato, civilização. Viemos ensaiando modelos de humanidade, mas esta em si realmente nunca existiu. Ser pessimistas ante o que está configurado atualmente é inevitável, entretanto isso não apaga a confiança no futuro próximo, em que as revoluções se darão, de baixo para cima, fatais.

http://andliveourlives.blogspot.com/2008/09/o-mundo-global-visto-do-lado-de-c.html

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