BLOGS E ATIVISMO –
Uma Política de
Código Aberto?
Ricardo Rosas(15/06/05)
http://www.rizoma.net/interna.php?id=172&secao=espaco
A relação entre blogs e ativismo pode não parecer muito clara, à primeira vista. Primeiro por que blogs passam a impressão de ser um tipo de ferramenta de publicação particularmente individual (ou individualista), ou seja, pouco voltados a abordagens mais coletivas e, segundo por que, pelo menos no Brasil, a visão usual que deles se tem dado é a de uma espécie de confessionário pessoal, quando não um campo para novos exercícios literários ou repositório de opiniões sobre outros sites e fatos do cotidiano mais descartável. Sem ignorar esse aspecto, mesmo por que os blogs nesse estilo de fato predominam em nossa paisagem virtual, o fato é que blogs têm igualmente servido para outros fins que não o da simples expressão individual. Vale ressaltar, por outro lado, que esse mesmo aspecto mais cotidiano e próximo é um dos fatores que o tornam tão potente como ferramenta de comunicação em se tratando de abordar uma questão como o seu uso político e ativista.
Para entender esse uso, seria interessante ver como esse fenômeno tem se dado tanto num nível mais internacional, no caso, nos EUA, bem como no Brasil. Essa aproximação se mostra interessante, se vermos como, de acordo, com o “censo blog” do NITLE (National Institute for Technology and Liberal Education) (1), havia, em janeiro de 2005, 1.286.508 blogs em língua inglesa, e, em terceiro lugar por língua, 81.077 blogs em língua portuguesa. Segundo o Technorati.com, um site voltado para o estudo dessa ferramenta de publicação, um novo blog é criado a cada 5.3 segundos.
Se estas estatísticas podem impressionar, mais ainda pode espantar o número de leitores, pelo menos em termos dos EUA, onde, segundo uma pesquisa da Pew Internet and American Life Project em janeiro de 2005, 27% dos usuários da Internet dizer que lêem blogs, ou seja, 32 milhões de norte-americanos (2). Um tal número tem chegado a preocupar a área jornalística mais convencional dos EUA. Devido tanto a uma informação independente dos filtros de interesse dos grandes meios, quanto à possibilidade de informação fresca e mesmo furos que poderiam passar desapercebidos nesses mesmos meios, os blogs tem sido cada vez mais utilizados como meio informativo por muitos leitores virtuais, o que no caso de blogs com teor político mais acentuado chega a ser um fator crucial. Isso ficou muito claro no ambiente político norte-americano, principalmente na última campanha eleitoral para presidente, quando ambos os partidos lançaram blogs para seu eleitorado, blogueiros foram convidados para convenções nacionais dos partidos como membros da imprensa e o blog do democrata Howard Dean se tornou um modelo para o ativismo de base via internet.
Em se tratando da influência política dos blogs, impressiona como o blog de esquerda de Joshua Micah Marshall, Talkingpointsmemo.com, chega ao número de 500.000 visitas mensais, como a comunidade blogueira conseguiu desvelar o plano da Sinclair Broadcasting de forçar suas estações a transmitir um documentário anti-Kerry, ou mesmo formar um ambiente solidário para soldados norte-americanos insatisfeitos no Iraque e suas famílias nos EUA. Significativo na questão da invasão do Iraque é o livro Blog de Bagdá, publicado no Brasil pela Companhia das Letras no ano passado, onde o autor Salam Pax (nome fictício) relata suas experiências cotidianas e subjetivas no Iraque invadido, tendo o blog se tornado uma fonte de informação não-oficial e um cult.(...)
Ricardo Rosas
http://www.rizoma.net/interna.php?id=172&secao=espaco
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