A melodia das montanhas
A melodia das montanhas é um processo criado e adotado por
Villa-Lobos no canto orfeônico. Consiste em delinear o contorno de
montanhas e acidentes geográficos sobre uma folha de papel
quadriculado (milimetrado). Convenciona-se, antecipadamente, o valor
e altura dos sons, de acordo com os traços horizontais e verticais. Este
processo foi criado com o fim de incentivar os alunos a construírem
melodias, estimulando e desenvolvendo sua criatividade e visando
também colocar em prática os conhecimentos de teoria musical.
Utilizam-se para isto desenhos, gravuras ou fotografias de montanhas,
morros, etc., a serem reproduzidas, podendo ser depois harmonizadas
ou não, pelo professor, a melodia resultante.
O critério adotado é o seguinte:
1) escreve-se verticalmente, de baixo para cima, a partir do lá 1
até o lá 6, todas as notas existentes, diatônicas e cromáticas
(ver Anexo 3);
2) coloca-se os contornos da melodia que se deseja conhecer.
No sentido horizontal, estes pontos corresponderão aos sons
inscritos à margem esquerda. A Tônica corresponde ao nível
do mar, ou seja, à base da montanha. O modo é escolhido
pelo aluno (maior ou menor);
3) anota-se os sons obtidos na pauta. Para se determinar os
valores e o compasso, procede-se do seguinte modo: cada
linha vertical corresponde a um pulso (unidade de tempo) e
este, por opção do aluno, pode variar entre a semicolcheia e
a semínima (ver Anexo 4).
"A melodia ou fragmento melódico imprevistos interessarão à
classe desenvolvendo o espírito de observação quanto aos
38 VILLA-LOBOS, H. Educação Musical. In: Boletim Latino-Americano de Música.
Rio de Janeiro, 6:531, abr. 1946.
39 PRESENÇA DE VILLA-LOBOS. Rio de Janeiro, MEC, DAC, MVL, 1972. p.89.
v.7.
64
valores relativos, sentido musical, percepção da tonalidade e
do ritmo e o gosto pela composição musical".38
Villa-Lobos era um amante da natureza do Brasil, e isto pode ser
verificado perfeitamente nesse seu pensamento: "O Brasil é um dos
países mais privilegiados do mundo. O povo tem uma intuição musical
profunda. Tudo canta sem querer. O mar, o rio, o vento, a criatura".39
Villa-Lobos dizia conversar com os passarinhos e conhecer suas
linguagens, que era capaz de dialogar com eles por muito tempo. É
também conhecido o episódio narrado por Dona Mindinha, em que ele,
ouvindo o coaxar de um sapo, começou a emitir e produzir sons,
travando um verdadeiro diálogo com o anfíbio. Por tudo isso, é de se
esperar que nossas matas, florestas e selvas também incitassem sua
criatividade (ver Anexo 5).
O musicólogo Luís Heitor Correia de Azevedo conta-nos, em
depoimento datado de 8/9/1987, uma passagem interessante, a respeito
deste método de criar melodias:
"Certa ocasião houve umas rusgas, provocadas por um artigo
meu, extremamente elogioso a Villa-Lobos e à sua força de
criação. Eu debicava um pouco do sistema de milimetragem
das montanhas, dos arranha-céus de Nova York, para fazer
melodias. Por que um homem com a força criadora de Villa-
Lobos precisa de tais processos artificiais para encontrar
melodias? Ele não gostou da minha observação, mas depois
em Paris, ficamos de fato muito, muito íntimos, a ponto de
Villa-Lobos ter a chave de minha casa para entrar quando
quisesse. Quando ele estava em Paris, nos encontrávamos
sempre duas ou três vezes por semana, no Hotel Bedford.
Neste artigo que mencionei, eu lembrava de uma brincadeira
de Chopin, quando se encontrava em Nohan com George
Sand. Ele se distraía, à vezes, em botar uma página de papel
pautado numa árvore e depois atirar com uma carabina de
chumbo. Ele então improvisava sobre isso para os amigos,
que se divertiam muito com essa brincadeira. Comparei o
sistema de Villa-Lobos a essa brincadeira de Chopin. Villa-
Lobos empregou isto na sua obra, como, por exemplo, a
Sexta Sinfonia sobre as linhas das montanhas do Brasil,
datada de 1944 e dedicada à Mindinha; a New York Skyline
Melody (1939) dedicada a Williams Moris, para piano e
orquestra, é também baseada nesse princípio. É de fato a
melodia do perfil dos arranha-céus de Nova York se
projetando no céu. Está claro que como um exercício de
estimulação à criação é muito interessante, não tenho a
menor objeção, nem na utilização por Villa-Lobos. Achava
engraçado que um homem de tal imaginação, de uma tal
abundância de criação, tivesse que recorrer a um processo
deste para inventar melodias, já que ele tinha uma
imaginação sonora incomum".(...)(parte de Monografia Premiada em 1988)
Villa-Lobos no canto orfeônico. Consiste em delinear o contorno de
montanhas e acidentes geográficos sobre uma folha de papel
quadriculado (milimetrado). Convenciona-se, antecipadamente, o valor
e altura dos sons, de acordo com os traços horizontais e verticais. Este
processo foi criado com o fim de incentivar os alunos a construírem
melodias, estimulando e desenvolvendo sua criatividade e visando
também colocar em prática os conhecimentos de teoria musical.
Utilizam-se para isto desenhos, gravuras ou fotografias de montanhas,
morros, etc., a serem reproduzidas, podendo ser depois harmonizadas
ou não, pelo professor, a melodia resultante.
O critério adotado é o seguinte:
1) escreve-se verticalmente, de baixo para cima, a partir do lá 1
até o lá 6, todas as notas existentes, diatônicas e cromáticas
(ver Anexo 3);
2) coloca-se os contornos da melodia que se deseja conhecer.
No sentido horizontal, estes pontos corresponderão aos sons
inscritos à margem esquerda. A Tônica corresponde ao nível
do mar, ou seja, à base da montanha. O modo é escolhido
pelo aluno (maior ou menor);
3) anota-se os sons obtidos na pauta. Para se determinar os
valores e o compasso, procede-se do seguinte modo: cada
linha vertical corresponde a um pulso (unidade de tempo) e
este, por opção do aluno, pode variar entre a semicolcheia e
a semínima (ver Anexo 4).
"A melodia ou fragmento melódico imprevistos interessarão à
classe desenvolvendo o espírito de observação quanto aos
38 VILLA-LOBOS, H. Educação Musical. In: Boletim Latino-Americano de Música.
Rio de Janeiro, 6:531, abr. 1946.
39 PRESENÇA DE VILLA-LOBOS. Rio de Janeiro, MEC, DAC, MVL, 1972. p.89.
v.7.
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valores relativos, sentido musical, percepção da tonalidade e
do ritmo e o gosto pela composição musical".38
Villa-Lobos era um amante da natureza do Brasil, e isto pode ser
verificado perfeitamente nesse seu pensamento: "O Brasil é um dos
países mais privilegiados do mundo. O povo tem uma intuição musical
profunda. Tudo canta sem querer. O mar, o rio, o vento, a criatura".39
Villa-Lobos dizia conversar com os passarinhos e conhecer suas
linguagens, que era capaz de dialogar com eles por muito tempo. É
também conhecido o episódio narrado por Dona Mindinha, em que ele,
ouvindo o coaxar de um sapo, começou a emitir e produzir sons,
travando um verdadeiro diálogo com o anfíbio. Por tudo isso, é de se
esperar que nossas matas, florestas e selvas também incitassem sua
criatividade (ver Anexo 5).
O musicólogo Luís Heitor Correia de Azevedo conta-nos, em
depoimento datado de 8/9/1987, uma passagem interessante, a respeito
deste método de criar melodias:
"Certa ocasião houve umas rusgas, provocadas por um artigo
meu, extremamente elogioso a Villa-Lobos e à sua força de
criação. Eu debicava um pouco do sistema de milimetragem
das montanhas, dos arranha-céus de Nova York, para fazer
melodias. Por que um homem com a força criadora de Villa-
Lobos precisa de tais processos artificiais para encontrar
melodias? Ele não gostou da minha observação, mas depois
em Paris, ficamos de fato muito, muito íntimos, a ponto de
Villa-Lobos ter a chave de minha casa para entrar quando
quisesse. Quando ele estava em Paris, nos encontrávamos
sempre duas ou três vezes por semana, no Hotel Bedford.
Neste artigo que mencionei, eu lembrava de uma brincadeira
de Chopin, quando se encontrava em Nohan com George
Sand. Ele se distraía, à vezes, em botar uma página de papel
pautado numa árvore e depois atirar com uma carabina de
chumbo. Ele então improvisava sobre isso para os amigos,
que se divertiam muito com essa brincadeira. Comparei o
sistema de Villa-Lobos a essa brincadeira de Chopin. Villa-
Lobos empregou isto na sua obra, como, por exemplo, a
Sexta Sinfonia sobre as linhas das montanhas do Brasil,
datada de 1944 e dedicada à Mindinha; a New York Skyline
Melody (1939) dedicada a Williams Moris, para piano e
orquestra, é também baseada nesse princípio. É de fato a
melodia do perfil dos arranha-céus de Nova York se
projetando no céu. Está claro que como um exercício de
estimulação à criação é muito interessante, não tenho a
menor objeção, nem na utilização por Villa-Lobos. Achava
engraçado que um homem de tal imaginação, de uma tal
abundância de criação, tivesse que recorrer a um processo
deste para inventar melodias, já que ele tinha uma
imaginação sonora incomum".(...)(parte de Monografia Premiada em 1988)
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