quinta-feira, 27 de setembro de 2007

GOEBBELS INSPIRA

DIREITA

E ESQUERDA NA


INTERNET

Celso Lungaretti (*)

A internet fornece tribuna a todos os cidadãos, que podem espalhar à vontade suas opiniões, interpretações e informações (verdadeiras e falsas), seja assumindo honestamente a autoria, seja ocultando-se como anônimos ou fakes.

Num primeiro momento, houve quem saudasse essa nova realidade como uma quebra do monopólio da imprensa e um respiradouro para a opinião pública tomar conhecimento de verdades que estariam sendo sonegadas pelos barões da mídia.

Agora, entretanto, evidencia-se cada vez mais o outro lado da moeda: abriram-se possibilidades praticamente infinitas de manipulação das consciências. Não só para impingirem-se como verídicos os eventos mostrados num pega-trouxas cinematográfico qualquer (A Bruxa de Blair), como também para a massificação de propaganda política enganosa, na linha do nazista Joseph Goebbels (“Uma mentira mil vezes repetida se torna uma verdade”).

As empresas jornalísticas e seus profissionais são obrigados a respeitar limites, para não sofrerem os prejuízos financeiros decorrentes da perda de credibilidade e das ações judiciais. Não podem dar livre curso a fantasias e calúnias.


Já os sites financiados por facções políticas pouco têm a perder, daí a desenvoltura com que agem. Direcionam-se para cidadãos frustrados e rancorosos, propensos ao fanatismo e, portanto, incapazes de perceber a total falta de verossimilhança naqueles relatos mirabolantes. Trata-se do mesmo caldo de cultura que gerou o nazismo e o fascismo.

A extrema-direita, em sites como o Ternuma, Mídia Sem Máscara, Usina de Letras e A Verdade Sufocada, prega ostensivamente um novo golpe militar, tentando reeditar, de forma mecânica, a receita que deu certo em 1964.

Mas, se os sem-terra caem bem no papel de espantalho então preenchido pelas Ligas Camponesas de Francisco Julião e se Lula é tão useiro e vezeiro em dar trunfos para o inimigo quanto Goulart, outras peças do quebra-cabeças não se encaixaram: os controladores de vôo nem de longe indignaram a oficialidade como os subalternos contestadores das Forças Armadas (com destaque para os marujos liderados pelo cabo Anselmo); o Cansei e o Fora Lula só conseguem reunir gatos pingados, jamais as multidões das Marchas da Família, Com Deus, Pela Liberdade.


O mais risível é o papel de vilão principal, antes ocupado pela conspiração comunista urdida em Moscou e Pequim. Na falta de coisa melhor, os sites fascistas hoje alardeiam a periculosidade do Foro de São Paulo, por eles apresentados como a “organização revolucionária que está influenciando de maneira decisiva os destinos políticos da América Latina, em especial a América do Sul”.

Na verdade, trata-se apenas de um encontro bianual de partidos políticos e organizações sociais contrárias às políticas neoliberais, que vem acontecendo desde a reunião inicial de 1990, em São Paulo (daí o nome).

Olavo de Carvalho, misto de (péssimo) jornalista, (eficiente) propagandista e (pretenso) filósofo, descreve o Foro de São Paulo de forma tão delirante que parece Ian Fleming introduzindo a Spectre numa novela de James Bond: “...a entidade que já domina os governos de nove países não admite, não suporta, não tolera que parcela alguma de poder, por mais mínima que seja, esteja fora de suas mãos. Nem mesmo as empresas de comunicação e o judiciário, sem cuja liberdade a democracia não sobrevive um só minuto. Com a maior naturalidade, como se fosse uma herança divina inerente à sua essência, o Foro de São Paulo, com a aprovação risonha do nosso partido governante, reivindica o poder ditatorial sobre todo o continente”.

As hostes virtuais petistas respondem com outros sambas do crioulo doido, como os dossiês sobre conspirações para derrubar o presidente Lula divulgados pelo fantasmagórico grupo Jornalistas Independentes do Brasil (Jibra), com sede oficial em Londres (?!).

Assim, segundo o Jibra, as denúncias do mar de lama que maculou o primeiro mandato do presidente Lula não se deveram ao desmascaramento da organização criminosa que ora responde por seus crimes na Justiça, mas sim à má fé dos formadores de opinião, que estariam sendo subornados para denegrir o angelical Zé Dirceu. Teria ocorrido o repasse de numerário, via Nossa Caixa, Bank of Boston e Santander Banespa, para “pelo menos 76 pessoas, entre jornalistas e outras personalidades”, incluindo os jornalistas Ricardo Noblat, Lílian Witte Fibe e Augusto Nunes, o deputado Fernando Gabeira e o ator Lima Duarte.

Além dos partidos rivais do PT, estariam envolvidos na fantástica tramóia os serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido – os quais teriam assassinado o brasileiro Jean Charles de Menezes no metrô londrino, não por o terem confundido com um terrorista, mas por acreditarem que ele fosse o “operador estratégico das ações do Jibra”!

O Ministério Público Federal e as autoridades policiais têm mostrado empenho no combate à pornografia e à pedofilia na Internet, mas quase nada vêm fazendo contra as campanhas totalitárias – desde o golpismo da extrema-direita até a desmoralização e intimidação da imprensa por parte dos petistas. Muito menos para defender a honra dos cidadãos que são alvos diários de difamações e calúnias.

É preciso disciplinar o admirável mundo novo da Web, antes que ele se torne 1984.

27/09/07

* Celso Lungaretti é jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

3 comentários:

  1. O que me parece estranho, é que em nenhum momento se menciona o fato de que este govêrno é PTista e que este, então passa a ser a "direita". Acreditar que se pode estar no poder, usar e abusar deste, e ainda acusar os demais de "direita", é no mínimo ofensa grave aos "franceses" os tais da Revolução, tão citada, rsrsrsrs e estamos todos, muito velhos para continuar a discutir tamanha "barbaridade". Este Partido acabou e de fato, forneceram matéria propagandística à largo, mas principalmente "fatos que comporão a História "destepaiz", o que prova que hoje "o PTismo é "a" direita" e só tem causado um tremendo atraso.....ainda bem, que ficou claro que é "direita ou esquerda" quando convém.....
    Regina Fernandes

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  2. Regina, meu ponto de partida, há quatro décadas, foi o marxismo. Algumas definições eu mantenho até hoje. Por exemplo, a de que o fundamental em qualquer governo é a política econômica.

    A do governo petista em nada se diferencia da do governo tucano. A prioridade continua sendo manter o cenário mais favorável para banqueiros, rentistas e grandes empresários.

    Então, na minha humilde opinião, esquerda hoje é o PSOL. Quanto ao PT, não passa de um partido que começou na esquerda, mas, para chegar ao poder, trocou o "principismo" (como disse Lula)pelo cinismo.

    Hoje, só se diferencia em detalhes cosméticos do PMDB e do PSDB, que cumpriram a mesmíssima trajetória.

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  3. Sr Celso,
    Para um "marxista", qualquer coisa que não se pareça a este princípio, é contra este princípio, portanto tudo lhe parece igual.....e esta é uma grande grande ferramenta, se não "a" ferramenta, para que este "cinismo" PTista, se desculpe....Afinal o culpado do desmando, nunca que é do "infeliz" que toma a cadeira do poder....
    A grande diferença me parece, chama-se "projeto" e concorde com este ou não (todos "podemos e devemos", sendo ao não humildes, rsrsrs)...e principalmente projeto "galgado" no futuro, e não no "hitórico passado".
    O PMDB, PSDB, PT e inclusive o PSOL, me parecem estarem todos "muito iguais", lá instaldos no poder....e me pergunto, porque será?
    abraços
    Regina Fernandes

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