sexta-feira, 9 de maio de 2008

O “DIA DA$ MÃE$”

E A FAMÍLIA EM CACOS

Celso Lungaretti (*)

07/05/08

Por mais que as feministas esperneiem, a função primordial da mulher é a maternidade. Pelo óbvio motivo de que, caso ela deixe de exercê-la, a espécie humana se extinguirá.Os gregos antigos, que sabiam das coisas, dedicavam a Rhea, mãe dos deuses, uma de suas mais belas comemorações: a da chegada da primavera.Os cristãos também destacam sobremaneira o papel de Maria, mãe de Jesus Cristo, a quem endereçam uma de suas principais orações. Isto fez com que ela se colocasse, na imaginação dos devotos, quase no mesmo plano do Pai Nosso.Sua deferência para com as mães e as mulheres, no entanto, só subsistiu até o feudalismo. Por que? Uma explicação na linha do marxismo é a de que, sendo os homens mais aptos para o árduo trabalho braçal nos campos e para a guerra, a divisão de trabalho estabeleceu-se naturalmente, ficando as mulheres com a responsabilidade de gerar novos trabalhadores e combatentes, além de cuidarem do lar em que eles recompunham suas forças. A ideologia – a atitude cavalheiresca e protetora em relação ao sexo frágil – teria se erigido sobre essa realidade material.O capitalismo, no entanto, dessacralizou a família, submetendo mulheres e crianças à mesma exploração que impôs aos homens. “A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias”, constatou Marx, qual um profeta irado diante do quadro dantesco de seu tempo: “a grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho” (“Manifesto do Partido Comunista”, 1848). Emblematicamente, o primeiro registro de celebração do Dia das Mães no milênio passado se dá na Inglaterra do século XVII, quando o quarto domingo da Quaresma começou a ser dedicado às mães das operárias inglesas. Nesse dia as trabalhadoras ganhavam folga para ficar em casa com as mães, depreendendo-se, portanto, que trabalhassem nos demais domingos. Os industriais, apesar de se dizerem tementes a Deus, não lhes permitiam que seguissem o exemplo do Criador, descansando no sétimo dia...Do capitalismo selvagem à fase pós-industrial – O Brasil, com sua industrialização tardia, foi poupado do pesadelo em que se constituiu a criação da infra-estrutura básica do capitalismo na Europa, com destaque para o trabalho massacrante nas minas de carvão inglesas, em que mulheres e crianças cumpriam jornadas às vezes superiores a 14 horas diárias! Em nosso país, até a década de 1960 os homens da casa (o pai e os filhos, estes pegando no batente tão-logo atingissem a idade de 14 anos) geralmente obtinham remuneração suficiente para o sustento, mesmo que precário, da família. Foi quando os avanços no processo produtivo, tornando cada vez mais desnecessária a força física para a maioria dos desempenhos, possibilitaram o ingresso em massa das mulheres no mercado de trabalho.O chamariz do consumo e a perspectiva de serem donas dos próprios narizes (sem se darem conta de que estavam apenas trocando o mandonismo do marido pela tirania impessoal do sistema) levaram as mulheres a disputarem entusiasticamente posições com suas iguais e com os próprios homens, mesmo recebendo paga inferior à deles pelas mesmas funções. Como conseqüência desse aumento exagerado da oferta da mão-de-obra, as remunerações de todos foram aviltadas. As famílias de classe média, principalmente, passaram a depender do trabalho dos dois cônjuges para manterem seu padrão de vida. Ficaram em cacos, com pais fatigados demais para cumprirem realmente seu papel e crianças crescendo aos cuidados de terceiros. O resultado são esses jovens problemáticos, egoístas e imaturos que todos conhecemos. Nestes tempos em que as mulheres vêem a si próprias mais como profissionais do que como mães, paradoxalmente, o Dia das Mães é festejado como nunca. Mas, também aí prevalecem os malfadados interesses monetários, a necessidade que o sistema tem de datas festivas que alavanquem as vendas.Então, o grande exemplo a ser lembrado nesta data é o de Anna Jarvis, estadunidense que batalhou incessantemente para que fosse instituído um dia de homenagem a todas as mães, vivas ou mortas, visando fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais. O governador do seu estado, a Virgínia Ocidental, acabou oficializando essa celebração em 1910, no que foi logo imitado por congêneres, até que o presidente Woodrow Wilson unificou em 1914 as várias datas estipuladas, fixando o Dia Nacional das Mães no segundo domingo de maio.Os comerciantes se atiraram sofregamente à exploração do lucrativo filão, horrorizando Ana Jarvis, que desabafou em 1923 para um repórter: “Não criei o Dia das Mães para ter lucro”. No mesmo ano ela tentou cancelar a celebração por meio de uma ação judicial, inutilmente. E teve sorte de morrer antes que o desvirtuamento do Dia das Mães se tornasse avassalador, na sociedade de consumo.

Celso Lungaretti, 57 anos, é jornalista e escritor.

Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

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